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Fábio Mota: “Pra ser presidente no Vitória você tem que ser indicado”

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Fábio Mota. (Valter Pontes / AGECOM)
Fábio Mota. (Valter Pontes / AGECOM)

Um dos nomes que mais ganharam força na conjuntura política do Esporte Clube Vitória nesses últimos anos foi o de Fábio Mota. Político filiado ao PMDB e atualmente secretário de Mobilidade de Salvador, Mota ficou conhecido após patrocinar, ainda como secretário nacional de Turismo, parte da verba inicial para a construção da Via expressa Barradão. À época da eleição, o então conselheiro foi uma das únicas vozes, como não cansa de repetir, a se opor ao nome de Carlos Falcão à presidência do rubro-negro.

Agora ex-conselheiro, Fábio Mota permanece na oposição e assumiu uma das vozes mais relevantes na condição de crítico da atual gestão. Para o Arena Rubro-Negra, em meio às pazes, o peemedebista explicou desde o seu voto contrário ao nome de Falcão até os seus projetos futuros, passando pela sua atuação presente. Confira a seguir.

Embora bastante cotado, na época da eleição, você preferiu não bater chapa. Por quê?

Nos moldes que as eleições acontecem no Vitória você não tem condição de ser candidato sozinho. Pra você ser candidato hoje no vitória você tem que ser amigo do presidente e dos conselheiros. Sou a favor que as eleições do Vitória seja igual a do Bahia. Os sócios devem votar e escolher os conselheiros e o presidente. O estatuto é muito antigo, do século passado. Por não ter eleição direta esse processo hoje é decidido entre três ou quatro pessoas que enumeram que será o próximo presidente. É contra isso que estamos lutando.

Como ficou a sua relação com Alexi Portela após a escolha dele por Falcão?

A única discordância minha em relação à Alexi veio no momento em que ele indicou de maneira única e solitária a candidatura de Falcão. Nada contra a pessoa Falcão, não tenho nada o que falar de sua conduta. Mas o presidente, o esportista Falcão eu já entendia que não seria um bom gestor. E eu achava isso porque o Vitória precisava de um presidente de política arrojada, que levasse pra frente o projeto da Arena Barradão, que está aí da mesma forma, parado. Eu fui a única voz que expressou isso. Eu convivi com Falcão e as posições colocadas por ele nas reuniões do conselho eram voltadas para a política dos pés no chão. Até concordo com isso no ponto de vista das finanças, mas você tem que aumentar a arrecadação, você não pode se limitar somente ao que você tem e gastar somente o que você tem, é preciso buscar novos investimentos e novas parcerias.  Coloquei minha posição, mas ela não foi levada em consideração. Infelizmente nós estamos vendo aí o resultado.

Se fosse você eleito no lugar de Falcão, o que faria diferente?

O futebol não é só uma empresa, ele também tem a questão da emoção, mas dentro da razoabilidade, para não gerar um caos financeiro. Eu não tô propondo aqui que o Vitória saia gastando em contratações milionárias para montar um time que seja campeão brasileiro. Primeiro temos que estruturar o clube para aumentar a arrecadação. O primeiro passo é construir a arena. Segundo, com o plano de sócios que não abrange somente o torcedor que vai ao estádio. Se você for nas dez principais cidades da Bahia você vai ver que o Vitória não está entre as duas maiores torcidas. Nunca houve uma mobilização em levar o time para visitar o interior. Então você tem que montar um programa de sócios que abranja também o simpatizante do clube que tá lá e quer ajudar o clube. Falcão não fez nada disso e não conseguiu nenhum sucesso dentro de campo. Além disso, a conta que o torcedor tem que fazer é que financeiramente deixamos de arrecadar muito com desclassificações e rebaixamento. Sem contra que a gestão contratou 52 jogadores, demonstrando total falta de planejamento. Você não pode montar um time fazendo contratações no meio do campeonato. Eu sendo presidente espalharia olheiros durante todo o primeiro semestre para tentar, já que não tem dinheiro, com criatividade encontrar peças que se encaixem e formem um grande time.

Você falou sobre a Arena Barradão, como seria o projeto?

Pra o Vitória ser um time pra competir com os times do Rio e São Paulo é preciso melhorar a arrecadação e uma das formas de melhorar a arrecadação é construindo uma Arena. Quando fui secretário de Serviços Públicos de Salvador conseguimos melhorar a infraestrutura do entorno do Barradão. Fizemos o ordenamento dos ambulantes naquela praça, melhoramos a iluminação e tenho contribuído como gestor público em melhorar as condições do estádio, porque eu entendo que o Barradão é o primeiro projeto do Vitória. Não consigo enxergar o Vitória sem o Barradão. Por isso também é importante modernizá-lo. Alexi chegou a ir me visitar em Brasília e pensávamos juntos sobre o caminho para a modernização e estruturação do patrimônio do Vitória. Só para você ter uma ideia a Itaipava deu 100 milhões para a Arena Fonte Nova. O consórcio faturou mais cem milhões só de camarote…

Mas para viabilizar a Arena não depende da Via expressa?

Ainda na SESP fizemos um projeto com o secretário Almir Melo, da Setin, e conseguimos a emenda através do senador João Durval. Infelizmente a Prefeitura estava inadimplente naquele momento e o sonho acabou passando. Já como secretário nacional do Turismo, conseguimos os primeiros R$ 5 milhões e repassamos ao Governo do Estado, através da Conder, pois a Prefeitura permanecia inadimplente. Fizemos o repasse de verbas para a Conder e apresentamos o empenho para a diretoria. Alexi e Falcão bancaram um almoço neste dia. Em outra oportunidade os dois me deram a comenda Artêmio Valente, a maior homenagem que um conselheiro pode receber no clube, pelos meus serviços prestados. Eu me esforcei ao máximo para viabilizar a Via expressa e a direção sabe que se não fosse isso esse projeto não existia. E não fiz isso por vaidade, para colher logros. Fiz porque amo o clube. E faria de novo.

Por que ela ainda não está sendo construída?

Fico triste e angustiado com tanto atraso. Primeiro diziam que não saia porque não tinha recurso. O recurso apareceu. Depois porque não tinham as licenças e alvarás e todos agora estão aí. Então eu não entendo. Com o Bahia foi diferente, com o Bahia eles construíram o estádio inteiro, o Pituaçu foi construído de maneira rápida para ser casa do Bahia.

Você acha que há má vontade com o Vitória?

Eu acho que sim, que há má vontade com o Vitória, porque se sabe que o Vitória é mais forte, porque se sabe que único time que tem seu estádio próprio no estado ficará ainda mais forte se ele for modernizado.

E como secretário [municipal de mobilidade], como você pode ajudar?

Cobrando da Conder e da empresa vencedora da licitação, o que qualquer torcedore pode e deve fazer também. Eu frequento o Barradão em quase todos os jogos. Sou torcedor. Conheço os problemas de transporte no estádio e garanto que não se resumem à região, é a cidade toda, fruto de 40 anos sem planejamento. Com a reformulação do transporte público estamos remodelando os itinerários, reduzindo as distâncias e com certeza o Barradão passa por esse processo. Mas não adianta só pensar no ônibus, o acesso também dificulta esse processo. Então, com a Via expressa e as ações da secretaria o Barradão terá todo o complexo de trânsito e transporte resolvido.

Você está envolvido em algum dos grupos atuais de oposição ao clube?

Estamos participando de um movimento ordeiro, pacífico e legal. Ninguém está lá pregando um golpe sobre o presidente do Vitória. Nosso intuito é mostrar ao conselho tudo o que eu falei nesta entrevista sobre 2014, para que este conselho faça uma analise em cima das prerrogativas legais e dentro do estatuto e repense a permanência do atual presidente e da atual direção. Queremos que o atual conselho analise as nossas propostas e consiga, dentro do regimento, de uma forma legal, definir se Falcão deve ou não continuar presidindo o Esporte Clube Vitória.

E Paulo Carneiro faz parte deste grupo?

Paulo Carneiro não tem envolvimento com esse grupo. Ele não participou de nenhuma reunião. Ele é ex-presidente e tem lá o seu grupo. Eu inclusive agradeço os elogios vindo deste para a minha pessoa, mas dispenso. Nós [o grupo do qual Mota faz parte] estamos constituindo um movimento novo no intuito de traçar novas linhas ao Vitória. Nosso projeto não é lançar a candidatura de ninguém, nem de Jorginho [Sampaio, ex-presidente], nem Adhemar [Lemos, ex-presidente], nem de Albérico [Mascarenhas, ex-conselheiro] nem Fábio Mota, mas levar o conselho à reflexão.

Então você não pensa em disputar a próxima eleição?

Na forma atual não passa nem pela minha e nem pela de ninguém, porque hoje no Vitória não existe eleição, existe indicação, e ninguém que se oponha ao que está sendo feito por essa gestão será representado. De qualquer forma, hoje eu sou secretário e preciso desassociar isso da minha relação com o Vitória. Eu estudei para construir essas propostas. Mas eu não me coloco como candidato a presidente do Vitória. O futebol exige profissionalismo, o presidente do Vitória tem que ser profissional. Inclusive defendo que o presidente seja remunerado, para que possa ser, de fato, cobrado pela torcida e pelo conselho. Não só o presidente como os diretores. Todos profissionais e cumprindo metas, e quem não cumprir a meta deixa o cargo. Por ora, o foco nosso é que o conselho faça a reflexão.

Foto: Valter Pontes / Prefeitura


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