Assunto intrigante? Sim,mas a boa notícia é que, ele pode ser pensado à luz da psicologia esportiva, área em expansão no país e que segue em processo de constante pesquisa, assim como ocorre em outras perspectivas. Considerando que o fenômeno esportivo em si, possui demandas diversificadas, diante das muitas modalidades e personalidades que as compõem.
Falar no tabu criado quando um time perde em casa interessa e muito, principalmente pela grande repercussão que causa, muito mais que a vitória. Jogar em casa pode provocar aspectos positivos e negativos, que não podem ser negligenciados, uma vez que são significativos para o percurso esportivo.
Inicialmente, refere-se aos jogadores e comissão técnica, e em seguida ou concomitantemente, envolve todos os espectadores, em especial a torcida presente. Todos esses componentes citados em segundo momento são os estímulos ambientais que “atingem” em cheio aqueles que estão carregando a tamanha responsabilidade de representar um clube.
As expectativas por resultados são altas – da parte de todos, gerando fortes cobranças.Os holofotes também estão ali, até mesmo ao pensarmos nos pequenos clubes. Dessa forma, apenas em poucas linhas, você consegue perceber que existem situações variadas, que precisam estar bastante claras aos jogadores e envolvidos, para a partir daí, pensar na obtenção de resultados satisfatórios.
É como se uma mão gigante tivesse que segurar tudo que foi citado e ir pondo sobre a mesa de forma organizada, isso porque o vento forte os colocou em outras posições. Como no Xadrez, onde precisamos por as peças ajustadas para então dar início.
Apesar da linguagem anterior, é necessário atentar que o ambiente importa, mas o que não é visível para o atleta, também importa e muito. Trata-se de compreender quais são os aspectos psicológicos que estão dificultando ou contribuindo para o seu rendimento. Isso significa que o treino físico somente não é suficiente, deve caminhar em parceria com o treino de habilidades mentais, por exemplo.
O jogador que ainda não sabe identificar os seus níveis de ansiedade, seja no treinamento ou no jogo decisivo, ou aquele que não possui foco e direção durante a partida, poderá atuar com bons passes? A resposta você já sabe. Não sabemos quando a ansiedade irá ‘entrar em campo’, ela se apresenta de forma espontânea.
Diante de muitos, um outro fator a ser considerado e que pode influenciar na decisão de uma partida em casa é a chamada sensação de pertencimento,que caminha ao lado do sentimento de aceitação e que pode gerar interpretações errôneas, através de pensamentos automáticos, que se apresentam na situação de jogo ou antes dele, assim que comunicado. “É o meu povo, meu território. Não sei se estou pronto para tamanha cobrança”, “Se perdermos, a mídia cairá em cima com duras críticas”, “Seremos vaiados e xingados a cada gol recebido”. O que pode ser suficiente para uma má execução de seus papéis.
A diferença está na maneira como o jogador interpreta, evitando inclusive, que a autoconfiança seja prejudicada. A qualidade dos pensamentos tem enorme poder sobre o bem estar individual e logo, coletivo. Ou seja, se consigo estar mentalmente preparado, isso refletirá de alguma forma no grupo ao qual pertenço.
Pensando muito mais na derrota do que na vitória de um jogo em casa, fica nítido que ao se deparar com resultados não satisfatórios, um clube pode ter atletas descontentes com o próprio desempenho, resultando nas reações mais diversas possíveis, que vão da constante irritação, até a diminuição de interesse pelo treinamento, ainda que cumpra todos eles. Além da possível mudança nas motivações, onde a paixão pelo esporte diminui ou dá lugar agora somente à obtenção de salário.
Uma coisa é certa, nenhum clube quer fazer feio, fora ou em casa, e para que isso não aconteça, é preciso atentar para as muitas possibilidades/recursos, que estão disponíveis no universo esportivo. Recursos que são válidos à todos; atletas considerados talentosos em suas funções e ainda, companheiros que estão em constante aperfeiçoamento técnico. Todos são beneficiados à medida que estão dispostos a investir também, no que chamamos de respaldo psicológico.
Lembrando sempre, que os profissionais inseridos nesse contexto irão evidenciar habilidades, atuar de forma ética, auxiliar a equipe técnica e jamais diagnosticar. Uma vez que existe o desconhecimento de uma atuação, portas e janelas estão abertas para generalizações. Diante disso, o gol não acontece, a bola bate na trave e perde-se a oportunidade do avanço. Sem contar na ausência do bem estar necessário para todo esportista.
Por Valéria Souza – Psicóloga Clínica e Esportiva