Marcado por ter um das melhores divisões de base do país, o Vitória sempre se mostrou como um clube capaz de revelar atletas. Não era tão diferente em outros tempos. Nos anos 60, o clube revelou diversos jogadores em posições diferenciadas. Entre os mais diversos nomes que figuraram com a camisa do Leão nessa década estava o de Reginaldo, ponta habilidoso, que em suas três passagens pelo clube, marcou-se de forma característica ao fazer gols nos certames mais decisivos.
Reginaldo Ferreira Rocha nasceu em Salvador em 17 de janeiro de 1943. Ainda com 17 anos foi levado pelo irmão para fazer uma peneira no Vitória. Bastou 45 minutos em campo pra mostrar-se eficaz. Nesse teste, jogou contra a dupla defensiva do Vitória na época, os zagueiros Roberto Rebouças e Medrado. Em cima de um dos mais renomados miolos de zaga, Reginaldo conseguiu fazer o gol, o que agradou o presidente rubro-negro Ney Ferreira, que logo mandou contratá-lo.
Naquele tempo, os times de base da dupla BaVi eram denominados de Juventude Transviada (pelo lado tricolor) e Bossa Nova (pelo lado vermelho e preto). Foi pelo Bossa Nova que Reginaldo mostrou serviço. Dono de uma imensurável habilidade, conquistou com o Leão da Barra o tricampeonato de aspirantes, que lhe levou ao ingresso na equipe profissional. Mas antes mesmo do tricampeonato, chegou a ser emprestado pro Canto do Rio em troca de dois atletas da equipe carioca: Jairo e Teteu. O Vitória o trouxe de volta em 1962. O Leão teria sido coroado com o título do Baianão daquele ano, mas havia Armando Marques no meio do caminho. Na final disputada numa Fonte Nova lotada em março de 1963, o Bahia venceu o Vitória sob o mau apito do árbitro carioca. Com o resultado de 2 a 1, o rival levou o título.
Este fato porém, não se repetiu anos depois. Enquanto o decano era boicotado nas páginas da imprensa esportiva devido a uma suposta briga de Ney Ferreira com um jornalista, em campo, o time ia rendendo muito bem. Reginaldo, que já havia feito dois gols numa goleada em 4 a 0 contra o Leônico chegou a marcar de letra o gol da Vitória contra o Ypiranga. Em 1965 porém, chegou a ser emprestado pro Fluminense, mas o Vitória classificara-se para a final do Baianão e o cartola Ney Ferreira o fez voltar para o clube. Também era desejo do ponta disputar a finalíssima, tanto é que junto de Didico marcou os tentos de um dos quatro BaVi’s decisivos. Uma lesão num embate com o zagueiro tricolor Enricão lhe tirou dos jogos finais. Mas se ele estava impossibilitado de ajudar o clube em campo, ajudou por fora. Reginaldo disse a Ney Ferreira pra trazer Itamar para o seu lugar. O cartola assim o fez, dizendo: “Eu confio em você, se está dizendo que não pode jogar. Pode botar Itamar que eu confio em Reginaldo”. E Itamar não decepcionou. Fez dois gols do 2 a 1 que o Vitória aplicou no Bahia para a festa da torcida rubro-negra.
Com o bom futebol, o Vitória de Reginaldo e Didico ainda conquistou o bicampeonato baiano. Em 1966, ambos foram jogar no São Bento-SP, o que não impediu o Leão de de continuar rugindo no certame estadual. Ele ainda teve uma breve passagem naquele ano pelo Bangu, onde jogou com o ex-rubro-negro Tinho. A dupla de ataque voltou pro clube em 1967 para disputar as finais do Baianão contra o Leônico. Na ocasião, o presidente tricolor, Osório Villas-Boas pagou a concentração, salário e o bicho dos atletas do Moleque Travesso que sobressaíram-se contra o time leonino por 2 a 1 no jogo final, onde o goleiro Edvan chegou a falhar. Didico e Reginaldo porém, selaram o retorno pelo clube num amistoso contra o Bahia, onde ambos fizeram gols, num jogo que terminou empatado em 2 a 2.
Reginaldo fez seu último gol pelo Vitória em 17 de outubro de 1967, num triunfo em 2 a 1 sobre o São Cristovão-BA. Em seguida, jogou por clubes como Monte Líbano-BA, Ypiranga e Botafogo-BA até pendurar as chuteiras em 1971 pelo Redenção. Hoje, aos 77 anos, vive na cidade de Camaçari-BA, região metropolitana de Salvador.
Alguns fatos sobre Reginaldo:
– Em todos os clubes que passou, nunca ficou na reserva, sempre foi titular. A única vez que ficou no banco foi pelo Vitória em dezembro de 1964 em partida contra o Botafogo-BA. Entrou no segundo tempo e fez o terceiro gol contra o alvirrubro num 3 a 2.
– Era chamado pelo zagueiro Roberto Rebouças de Boogie Oogie, defensor do qual era muito amigo.
– Certa feita, Reginaldo chegou atrasado num treino e o técnico José Mariano Palmeira o deixou fora da partida, que o Vitória acabou perdendo.
– O único jogador para quem Reginaldo cedeu sua posição de ponta foi Joel Martins, carioca multicampeão que veio encerrar a carreira no Vitória entre 1963 e 1964.
– Só foi expulso uma vez. Jogando pelo Vitória a bola escapou de Reginaldo antes de cobrar um córner e o juiz achou que ele estava atrasando jogo, assim lhe tirou de campo.
– Entre os títulos que conquistou pelo Vitória está: os três torneios pelos aspirantes, o Torneio Início do Baianão de 1961, o estaduais de 1964 e 1965.