Eternizada nos versos do baiano Caetano Veloso em 1979 no álbum Cinema Transcendental, a cidade de Aracaju, um dos principais paraísos nordestinos foi centro de excursões do Esporte Clube Vitória na década de 40. O futebol sergipano, outrora subjugado a Bahia, começara a tomar sua própria forma. Fato é que foi alvo de jornadas de outros clubes do desporto baiano. Em 1917, o República foi a capital sergipana e voltou derrotado. Depois dele, Botafogo-BA, Bahia e Galícia fizeram suas visitas ao estado vizinho. O Vitória por sua vez tardou em visitar a terra do cajueiro, mas na década de 40 rumou para Sergipe em duas ocasiões. A primeira, em 1940. E a segunda em 1942.
Diante de uma campanha pouco valorosa, o Vitória em 1940 já estava há mais de um mês sem jogar pelo Campeonato Baiano. Em setembro foi em direção a Aracaju, a convite do Club Sportivo Sergipe e da LSEA (Liga Sergipana de Esportes Athleticos). O decano chegou em terras sergipanas e foi recebido pelo esportistas locais e por representantes da LSEA. Junto com os futebolistas, estava também o time de basquete do clube, que ia também para a realização de partidas amistosas.
No dia seguinte, um domingo, o Vitória postou-se no Adolpho Rollemberg para encarar o Sergipe. Com uma enxurrada de gols baianos, o campeão sergipano daquele ano foi derrotado por 4 a 1. Em seguida, decano foi a cidade interiorana de Riachuelo onde enfrentou o clube homônimo. Em um gramado com péssimas condições, os donos da casa venceram por 3 a 1. Mas a despedida rubro-negra só se deu numa revanche com o Sergipe. Desta vez, a derrotam veio por 3 a 2, com gols leoninos sendo marcados por Siri.
Em 1942 porém, contente com o que lhe fora apresentado cerca de dois anos antes, o presidente da FSD (Federação Sergipana de Desportos), Antônio Policiano Vasconcelos resolve trazer de volta o rubro-negro a Sergipe. O Vitória veio para realizar quatro embates, onde se criaria uma chuva de gols. Novamente nas dependências do campo do Adolpho Rollemberg o Vitória tornou a estrear vencendo por 3 a 1. O primeiro adversário foi a equipe do Riachauelo, em 15 de março daquele ano. O então campeão sergipano do ano anterior, teve um debacle iminente diante do Leão, que marcou o primeiro gol da partida com Siri. Seguidamente, Nilo com um forte chute balançou as redes para marcar o segundo. O decano no segundo tempo assinala o terceiro com Carmine, mas com um pênalti de Bengalinha, Cancão diminuiu pros locais e põe fim ao jogo.
Dois dias depois foi a vez do confronto de decanos. O clube mais antigo do desporto baiano versus o clube mais antigo do esporte sergipano, o Cotinguiba, fundado em 1910, sete dias antes do rival Sergipe. Em campo, o confronto não decepcionou os espectadores. Por certo, quem compareceu ao campo esperava uma superioridade rubro-negra, devido ao jogo passado. O Vitória começou com um gol de Carmine, mas o juiz dá impedimento e anula o tento. Mas como diz o ditado: “quem não faz, leva”. Poucos minutos depois, Bahianinho é quem marca de falta pros cotinguebenses. Os leões rubro-negros porém, correm pelo empate e o alcançam com um gol de Siri. A reação rubro-negra foi arrebatadora e com ela trouxe outros dois gols. Um de Carmine e mais um de Siri. O segundo tempo veio pulsante. O Cotinguiba diminuiu a vantagem visitante com Marinho e antes dos vinte minutos empata com três gols pra cada lado. Acuado com os gols, o Vitória tem um atleta expulso e leva o gol da virada dos pés de Gordinho. Estava ali decretada a escapada do triunfo. Bahianinho ainda perde um pênalti pros sergipanos que poderia ter dado fim ao placar. Em revés, Durval encaixa a pelota no canto das redes e empata, colocando um 4 a 4 no placar que perdurou até o apito final.
Após o empate com o Tubarão da Praia, o Vitória foi ao encontro do Siqueira Campos. Saindo triunfante novamente por 3 a 1, o Leão da Barra passou todo o primeiro tempo aplicando uma ‘blitzkrieg’ no campo adversário. Com os sucessivos ataques o Leão chegou ao 1 a 0 perto do final do tempo com gol de Nilo. Na volta ao gramado, o Siqueira empata com Galeão que aproveitou um rebote na defesa de Gondim. O Vitória voltou a dominar o placar numa falha da defesa que ocasionou o gol de Siri. De falta, Carmine faz o terceiro. Os siqueirenses ainda tem a chance de gol com um pênalti, mas Charuto, o mesmo dos chutes potentes, atira a bola pra fora.
Com a invencibilidade, o onze vermelho e preto vai para a partida de despedida diante do Sergipe. Tanto colorados como rubro-negros não pouparam esforços e protagonizaram um jogo histórico de doze gols. No dia 22 de março, mesma data em que as duas equipes se enfrentaram este ano pelo Nordestão, foi o Vitória quem começou balançando as redes, com Siri. O Sergipe empatou a partida numa falta de Hamilton e até estufou as redes de Gondim novamente, mas o juiz anulou o tento. O que não abateu os rubros, que de pênalti fizeram o segundo com Renato. O mesmo Renato em seguida ainda faz o terceiro e os diabinhos marcam o quarto aos 44′ da primeira etapa com Seu Deixa. 4 a 1 pro Sergipe, que ia liquidando o Vitória.
A equipe da Boa Terra faz uma alteração somente, mas muda taticamente todo o elenco. Não foi o suficiente pra evitar que Renato logo no primeiro minuto da etapa complementar marcasse o quinto. Mas sem abatimento, Carmine diminui para o Vitória. Em seguida, Capi faz o terceiro. Renato por sua vez assinala seu quarto gol na tarde e o sexto dos sergipanos. O artilheiro Siri marca aquele que seria o último gol do Leão no confronto, o quarto tento. Galeão marca mais um pros mandantes e redesenha a goleada, que finda-se finalmente com um gol de Hamilton, pondo o fim no escore com um 8 a 4.
O elenco do Vitória volta a Salvador, compromissado a participar do Baianão a partir do mês de junho. Mas fica com a segunda colocação no estadual daquele ano diante da conquista do Galícia.