Fundado no dia 13 de maio 1899, no seio de uma juventude republicana da Bahia, o Esporte Clube Vitória exerceu nos seus primeiros anos de vida um papel social para além do esporte na capital da Boa Terra. Com diversos eventos que reuniam famílias e promoviam os mais diversos desportos o Decano aos poucos criou uma identidade na vida esportiva baiana e firmou-se como difusor da prática de muitas modalidades.
Neste ambiente, em 14 de julho de 1915 é que o clube rubro-negro promove mais uma de suas solenidades. Dessa vez com o intuito de festejar uma data memorável na história do mundo. A Tomada da Bastilha! Importante marco da Revolução Francesa que inspirou movimentos republicanos de boa parte do mundo. Inclusive o republicanismo brasileiro, ainda recente naquele momento. Com uma tradição de membros do meio político – dentre os quais pode-se citar o ex-presidente do clube Fernando Koch – o Vitória organizou naquela data uma grande celebração no Campo do Rio Vermelho para rememorar o evento histórico que iniciou a insurreição dos franceses.
A Bastilha, prisão monárquica, era um dos grandes símbolos do reinado de Luís XVI. Com a sua tomada pelos revolucionários, no dia 14 de julho de 1789, a data se tornou feriado na França. Se pros franceses o 14 de julho era a Festa da Federação, pros brasileiros a representatividade da data ia além. Em Salvador, além da celebração rubro-negra foi organizada outra festa esportiva por conta da data, esta feita pelo clube Sul América no Campo dos Martyres (Campo da Pólvora).
O Vitória anunciou as festividades nos jornais de grande circulação. Dentre elas estavam previstas nove provas, envolvendo corridas de atletismo, turfe, jogo de tênis, saltos em alturas e uma partida de futebol disputada pelo anfitrião. As inscrições foram abertas, com algumas das provas sendo destinadas aos atletas de clubes federados da Liga Sportiva da Bahia (neste ano havia na Bahia também a Liga Brasileira).
Chegado o dia da festa, uma multidão compareceu ao Campo do Rio Vermelho. “Viam-se no ground centenas de pessoas, inclusive muitas famílias que enchiam as arquibancadas”. Assim descreveu o jornal A Notícia. Com direito a banda alegrando os festejos, as disputas foram realizadas com grande entusiasmo, sendo um dos vencedores o árbitro da partida de futebol, Arthur Moraes, que ganhara numa partida de tênis em dupla com Eduardo Castro Rebello, dirigente leonino.
Em campo, o Vitória que estava afastado do futebol desde meados de 1913 e disputava jogos esporadicamente, surpreendeu os adversários e garantiu a vitória com um placar de muitos gols. Contra uma Seleção da Liga Sportiva da Bahia, o rubro-negro deu um show de bola e venceu a partida por 5 a 3. Com a conquista, os atletas do Leão receberam medalhas de prata como premiação. A formação rubro-negra foi a seguinte: Luiz Fiori, Chicão e Mário; Walter, Tanner, e Penteado; Eduardo, Muller, Liberato, Eurico e Oswaldo. Enfim um saldo positivo. O Vitória que não disputava uma partida deste outubro de 1914 quando saiu empatado em 2 a 2 com o Benjamin Constant agora vencia toda uma liga com cinco gols na conta. Com fanfarras e medalhas de prata, o Leão da Barra dava os primeiros passos de sua própria revolução.
*Agradecimentos: Irlan Simões (descobridor da façanha), Ubiratan Brito (ficha técnica), Caíque Brito (pesquisas)