Muitos clubes brasileiros excursionaram para o exterior nas décadas perdidas do futebol. Em 1960 especialmente, alguns deles foram: o Flamengo, o Fluminense, o Bangu, o Bahia e o América-MG. Além deles, o Vitória. O time que naquele ano estava em plena descoberta, também fez a sua viagem ao Velho Continente para conectar-se com o bom futebol dos europeus. O rubro-negro baiano que em julho daquele ano fez seu primeiro jogo no Rio de Janeiro – em um amistoso com o Flamengo -, meses depois fez sua primeira viagem para fora do país.
Diferentemente da canção de Elis Regina, o Vitória não descobriu que tudo era pequeno nas asas da Panair, exceto cerca de três anos anos antes, quando atletas rubro-negros por meio da Seleção Baiana foram ao Chile para representar a Seleção Brasileira. A comissão vermelho e preta viajou para o estrangeiro a bordo do navio Provence, visitando primeiro continente africano, no mês de agosto. Em Senegal, o Vitória esteve na capital Dakar e jogou contra a seleção local, tendo perdido o jogo por 2 a 1.
Em seguida o clube rumou para a Espanha, onde fez quatro jogos. No primeiro deles, mais de cinco mil pessoas viram o escrete brasileiro vencer o Hospitalet por 4 a 2, com dois gols de Salvador, um de Pinguela e um de Carlinhos Gonçalves. O Gimnástic de Tarragona foi a nova vítima dois dias depois, num 2 a 1 no qual marcaram os gols Matos e Carlinhos Gonçalves. Nos dois últimos jogos em terras espanholas, não houve triunfos. Uma derrota por 2 a 1 pro Real Mallorca, tendo Otoney Veloso marcado o tento de honra e um empate na cidade de Barcelona com o Español, onde Pinguela balançou a rede.
A próxima parada foi a Alemanha. Ponto de tensão da guerra fria, a cidade de Berlim recebeu o rubro-negro que na parte ocidental venceu o Hertha Berlim por 3 a 1 com dois gols de Ruy Tanus e um de Pinguela. Porém, como a cidade localizava-se por completo no lado oriental, o Vitória trilhou seus passos na República Democrática Alemã e empatou em 3 a 3 com o Rotation Leipzig, com gols de Pinguela, Wassil e Ruy Tanus. Contra o Empor Rostock, perdeu por 4 a 1, e o gol de honra foi de Carlinhos Gonçalves. Já na despedida venceu o Motor Wismar por 2 a 0, com Carlinhos Gonçalves e Ruy Tanus marcando a favor. Desta forma, o Vitória seguiu para a Suiça onde no dia 19 de setembro estreou perdendo por 1 a 0 pro Lausanne. Dois dias depois, o Leão da Barra já estava na Bulgária, país no qual jogaria três vezes. Matos figurou bem nesta parte da excursão. Na derrota em 2 a 1 pro Levski Sofia marcou um. No empate em 2 a 2 com o Blotev Plovdiv foi um dele e outro de Pinguela. E por fim marcou os três tentos no 3 a 2 sob a Seleção de Dimitrovgrad.
Já chegado o mês de outubro o Vitória iniciou na Turquia. Matos voltou a brilhar no triunfo em 2 a 1 contra o Fenerbahçe em Istambul. Dois dias depois, na cidade de Ancara, Zeca Argolo foi quem marcou o gol de empate com o Galatasaray. Dali, o decano seguiu para a Romênia onde empezou perdendo por 2 a 0 para a Seleção Romena de Juniores. Já diante da seleção principal, um 2 a 2, com gols de Matos e Carlinhos Gonçalves. O placar com maior número de gols foi diante de um combinado romeno na cidade de Timisoara. No 4 a 4, Matos marcou dois, Pinguela um e Carlinhos Gonçalves mais um.
Nos três jogos seguintes o Vitória acumulou fracassos. Num jogo contra uma seleção (não se sabe se a polonesa ou da Silésia, região do país polaco), um forte 7 a 0. Uma derrota chama outra e já de volta a Alemanha, outra goleada recebida, desta vez um 6 a 1 para o T.S.V. Alemannia Aachen. O de honra foi marcado por Matos nesta ocasião. As goleadas não cessaram. Em Bruxelas-BEL, o Anderlecht goleou a equipe baiana por 6 a 1 também, e Wassil marcou desta vez. O caminho da vitória foi reencontrado em visita última a Alemanha. No dia 8 de novembro o Vitória vence o Motor Jena por 1 a 0 com gol de Matos. O atleta volta a marcar no dia seguinte na derrota em 2 a 1 pro Eintracht.
Os últimos jogos do Vitória na Europa aconteceram no mês de novembro. Perdeu para o Wismut Gera por 3 a 1 e venceu a Seleção da Alemanha Ocidental por 1 a 0. Ao longo da excursão foram 12 derrotas. Este número não agradou a diretoria do Vitória que acabou por demitir o técnico Bengalinha. E para o seu lugar, o atleta Pinguela assumiu como novo treinador do clube, enquanto se mantinha como jogador.
Ficha técnica da excursão:
Senegal 2 x 1 Vitória (agosto de 1960)
Hospitalet-ESP 2 x 4 Vitória (23/08/1960)
Gimnástic de Tarragona-ESP 0 x 2 Vitória (25/08/1960)
Real Mallorca-ESP 2 x 1 Vitória (27/08/1960)
RCD Español-ESP 1 x 1 Vitória (30/08/1960)
Hertha Berlim-RFA 1 x 3 Vitória (03/09/1960)
Rotation Leipzig-RDA 3 x 3 Vitória (04/09/1960)
S.C. Empor Rostock-RDA 4 x 1 Vitória (07 ou 09/09/1960)
Motor Wismar-RDA 0 x 2 Vitória (13/09/1960)
Lausanne Sports-SUI 1 x 0 Vitória (19/09/1960)
Levski Sofia-BUL 2 x 1 Vitória (21/09/1960)
Botev Plovdiv-BUL 2 x 2 Vitória (25/09/1960)
Seleção de Dimitrovgrad-BUL 2 x 3 Vitória (28/09/1960)
Fenerbahçe-TUR 1 x 2 Vitória (01/10/1960)
Galatasaray-TUR 1 x 1 Vitória (03/10/1960)
Seleção da Romênia de Juniores 2 x 0 Vitória (06/10/1960)
Seleção da Romênia 2 x 2 Vitória (13/10/1960)
Combinado-ROM 4 x 4 Vitória (15/10/1960)
Stunta-ROM 2 x 1 Vitória (16/10/1960)
Seleção da Polônia ou Silésia-POL 7 x 0 Vitória (19 ou 20/10/1960)
Alemannia Aachen-RFA 6 x 1 Vitória (22/10/1960)
Anderlecht-BEL 6 x 1 Vitória (02/11/1960)
Motor Jena-RFA 0 x 1 Vitória (08/11/1960)
Eintracht-RFA 2 x 1 Vitória (09/11/1960)
B.S.G. Wismut Gera 3 x 1 Vitória (novembro de 1960)
Seleção da Alemanha Ocidental 0 x 1 Vitória (novembro de 1960)
Artilharia:
Matos (14 gols)
Carlinhos Gonçalves (7 gols)
Pinguela (6 gols)
Ruy Tanus (4 gols)
Wassil (2 gols)
Zeca Argolo (1 gol)
Salvador (2 gols)
Otonei Veloso (1 gol)
Fialho (1 gol)
Obs: Não se tem os feitores dos gols marcados nas partidas contra a Seleção do Senegal, Wismut Gera-RDA e Seleção da Alemanha Ocidental.
Obs 2: Dados organizados pelo historiador rubro-negro Ubiratan Brito.