Eduardo Galeano já dizia que a grande diferença entre um treinador e um técnico é que o treinador olha o campo e diz “vamos jogar”, enquanto o técnico fala “vamos trabalhar”. Há treinadores ou técnicos que assumiram ambos os papéis, pois em seu pertinente comando tiveram como que aliar a sutileza do velho jogo da bola dos tempos amadores com a precisão e objetividade do esporte bretão em seus tempos profissionais.
Para ilustrar esse tipo de caso de treinador-técnico podemos lembrar Bengalinha. Jaime de Araujo Viana era seu nome de batismo. Nasceu em Salvador em 31 de julho 1921 em uma família que entregou bastante ao Vitória na era amadora, jogando ao lado de seu irmão Siri, um dos maiores artilheiros do clube. Diferente do irmão que era um exímio marcador de gols, Bengalinha atuava entre as posições de meia e volante e acabou dando seus primeiros passos pelo Leão a partir de 1938 após ter jogado no Rio Vermelho Tênis Clube de forma amadora.
Foram diversos os anos com a camisa rubro-negra, chegando a conquistar com o clube o tetracampeonato do Torneio Início de 1941 a 1944 e também o Torneio Municipal de 1944. Nesta era amadorista do Vitória tomou conhecimento suficiente para ser treinador, tanto que assim o fez ainda em 1952 quando defendia enquanto jogador as cores do clube. Já fora dos gramados, assumiu em 1960 o comando vermelho e preto em um ano marcado por estreias em grandes estádios como o Maracanã e outros diversos da Europa para onde o time excursionou.
Entre as idas e vindas como treinador, Bengalinha conseguiu uma memorável façanha. Sua sapiência de treinador em 1974 acabou sendo eficaz na primeira disputa nacional de destaque do Vitória. Assumiu a vaga substituindo Castilho com o Campeonato Brasileiro já em andamento, e foi ali que fez o time andar, colocando o então atacante Osni para a posição do meio de campo. Tal improvisação também ocorria com zagueiros que passaram a jogar como volantes. Contra os grandes clubes, o Leão era temido pela técnica do ‘chuveirinho’ e tamanha foi a campanha que passou-se a divulgar o clube como ‘o novo grande do futebol brasileiro’.
Bengalinha que já não está mais nesse plano atuou também como superintendente do Vitória em 1964 e gerente de futebol em 1972. Em todas suas passagens somou cerca de 165 jogos, sendo até hoje o 2° técnico que mais comandou o Decano.