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As voltas que o mundo dá!

Nosso clube já tem histórico de ressocializar atletas e cidadãos. Creio que com Wesley não será diferente, se ele vier

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Foto: Carlos Santiago/Reprodução

Por Lucius Ferdinand Santos Barbosa

Hoje escrevo, pela primeira vez, um artigo. Não tenho nenhuma pretensão de seguir carreira de articulista. Isso não passa pela minha cabeça. Mas de uns dias para cá, acompanhando as redes sociais do meu clube, o Vitória, um tema ganhou destaque e me chamou a atenção: A possível contratação do meio campista Wesley Pionteck.

Antes de dissertar, permitam que me apresente. Sou Lucius Ferdinand Santos Barbosa, atualmente sou motorista de aplicativos, revendedor de Avon e Natura, pai, casado pela 3ª vez (muito feliz) e torcedor do Vitória.

Para muitos, e eu me incluo nesse hall, é um nome que causa estranheza. Como um soteropolitano pode receber o nome de um militar e parlamentar inglês? Coisas da década de 80. Meu pai, ao ler The History of Parliament: the House of Commons, do escritor J. Brocke, ficou encantado com este nome e decidiu pôr no seu primogênito. Devido à crise que toma conta do mundo, perdi meu emprego numa grande indústria automobilística e passei a prestar serviço como motorista de aplicativos. Tive que recomeçar minha vida aos 52 anos. Cabeça erguida para trabalhar e seguir em frente.

Mas o que a minha história de vida tem a ver com o futebol e com a suposta contratação do meu clube? Assim como Wesley, também possuo um nome de difícil pronúncia. Assim como Wesley, também tive que recomeçar. Diferente de Wesley, não consegui me recolocar em minha área de trabalho. Diferente de Wesley, não cometi nenhum crime. Pelo o que li, inclusive nesse distinto website, Wesley foi julgado, condenado por lesão corporal, está em regime aberto e/ou cumpriu sua pena em regime aberto. Creio eu que lesão corporal seja algo mais brando que tentativa de homicídio.

Ao longo dos meus bem vividos 52 anos, sei que, se o jogador representasse algum risco efetivo à sociedade, ele estaria em regime fechado. Por favor, não pensem que sou advogado do Wesley ou que estou querendo “passar pano” para a situação. Eu só quero que vocês, jovens inquisidores de internet, percebam que: se ele está sendo contratado, a justiça brasileira permitiu. Infelizmente é a lei vigente no país e ela, milagrosamente, foi cumprida.

Wesley cometeu um crime. Isso é fato e notório. Mas até quando ele deve ser punido socialmente? Wesley é um jovem de 24 anos e deve ser ressocializado. Em diversas pesquisas, não vi em momento algum ele debochando do caso, como Robinho fez. Nessas pesquisas, também não consta que ele tenha fugido, como o arqueiro Jeanzinho fez. Wesley assumiu o seu erro e pagou por ele. Agora? Vida nova, a milhares de quilômetros da vítima.

Penso que o esporte é um dos melhores meios para ressocialização de pessoas privadas de liberdade. E se o esporte for coletivo? Maravilha. O esporte transforma e temos vários casos – que não vêm ao caso – que provam isso.

Basta, como diz minha filha, “dar um google” que acharemos diversos, inclusive nacionais. Não vamos nos esquecer do caso de Edmundo “Animal”, que matou duas pessoas em um acidente de carro, e continuou ídolo de milhares. O esporte nos ensina, diariamente, que é possível reverter situações adversas e dar a volta por cima.

Li num outro artigo aqui neste mesmo site que um operador do direito indaga “ah, mas se ele for alçado a ídolo?”. Doutor, me permita lhe dizer: calma, coma uma barra de cereal, tome uma Coca-Cola… Em suma, tenha paciência! Se ele for ídolo aqui, será um maravilha! Estamos carentes de jogadores diferenciados (não sei se Wesley é um desses). O Vitória está em crise financeira e precisa de jogadores baratos e com vontade, coisa que não víamos em boa parte do elenco passado. No caso de Wesley, além disso, ele busca se reafirmar, principalmente, como cidadão.

Nosso clube já tem histórico de ressocializar atletas e cidadãos. Creio que com Wesley não será diferente, se ele vier. Ele agora precisa ser blindado, colocar a cabeça no lugar e seguir. Julgado? Só se for pela atuação em campo, isso hoje é o que interessa. Precisamos de um meia com as características profissionais dele. Um autêntico camisa 10.

Me despeço do meu primeiro artigo com a citação de um grande cantor, Alexandre, da banda Natiruts: “Deixa o menino jogar!”.

Fala, Rubro-Negro! é uma coluna de opinião da torcida. Seu conteúdo é de responsabilidade dos signatários e não necessariamente é o que pensa o Arena Rubro-Negra.

*Lucius Ferdinand Santos Barbosa é torcedor do Vitória.


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