Era 1980 quando o prefeito Clériston Andrade anunciava a doação de um terreno na região norte de Salvador para a construção do que viria a ser o primeiro e até então único estádio particular do Estado da Bahia. Seis anos depois, o clube nascido na Barra e tido como “da elite” passara a mandar seus jogos em um estádio distante, construído sobre um desativado aterro sanitário e com a ajuda financeira do governo estadual. O equipamento recebeu o nome do sogro do então governador João Durval, o ex-presidente do Vitória, Manoel Barradas. Ali nascia uma história.
Em 11 de novembro de 1986 o Barradão foi inaugurado, com o empate em 1×1 entre Vitória e Santos-SP. O estádio tinha tudo para dar errado: era geograficamente longe do Centro da cidade, mantinha um odor insuportável graças a antiga utilidade da área e convivia com a formação de uma comunidade periférica em seu entorno, o bairro de Canabrava. Por muito tempo visitá-lo era uma missão complicada. Apesar de todos os contras, o que mais pesava à torcida era a gozação por parte dos rivais.
Reviravolta – Vinte e sete anos depois o Barradão mostra a sua volta por cima. Tornou-se o protagonista no projeto do Parque Ambiental de Canabrava e impulsionou um aumento na qualidade de vida aos moradores do bairro – que passou a ser batizado como “Nossa Senhora da Vitória” – e de toda a região. Desenvolveu a construção do conceituado Complexo Esportivo Benedito Dourado Luz, a Toca do Leão, o mais completo complexo esportivo do estado, que envolve centro de treinamento, concentração e estádio, e tem um potencial de futuro inestimável.
É fácil entender o amor que a torcida rubro-negra tem pelo “Santuário”, apelido pelo qual os torcedores costumam se referir ao estádio. O amor que cada um dos 35 mil – que foram mais de 55 mil em 2000 – que lotam o estádio nos jogos mais eletrizantes do clube dedicam ao escolher ver as partidas no Barradão é assustador, inexplicável. Foi com o Barradão que o Vitória virou o jogo pra cima do arquirrival; 1986 o estádio ficara pronto e a partir de 1989 a potência do futebol baiano passou a vestir vermelho e preto. O Barradão é o primeiro xodó de todo rubro-negro.
Futuro – Fechado em diversas oportunidades para pequenas reformas, o estádio não mudou muito desde que foi construído. Está longe do “padrão Fifa” das novas arenas brasileiras e um pouco distante de estádios mais bem cuidados. Há anos Barradão é alvo de especulações; O ex-presidente Paulo Carneiro chegou a anunciar a construção de um novo estádio para o Vitória às margens da Av. Paralela, mas o sonho foi para o ralo junto com a queda para a série C em 2005.
Com o anúncio da Copa de 2014 no Brasil o Barradão passou a ser esquecido. Surgiram projetos de uma possível arena multiuso na região do CIA, falaram em mudança para o (na época) novo Pituaçú, mas a tese que mais ganhou força foi a escolha da nova Fonte Nova como mando de campo do Vitória. Alguns jogos foram realizados na arena que não ganhou a simpatia dos torcedores.
O futuro do Barradão hoje é pauta de discussões partidárias e muita politicagem. Os grupos de oposição à atual diretoria defendem, assim como a maioria da torcida, a permanência do Vitória no estádio e a reforma e modernização do equipamento. A situação também mantém o discurso, mas não afasta definitivamente a possibilidade de mudança. Projetos como o da Via-expressa Avenida Barradão, do ginásio poliesportivo e do complemento do CT e estacionamento estão travados em entraves políticos. O futuro do estádio é uma mera incógnita.
Contudo, o único estádio próprio da Bahia completa poucos 27 anos com muita maestria. Recentemente foi listado entre os 5 estádios mais aconchegantes do país e soma pouco mais de 13 mil espectadores por partida em 2013. Independente dos fatores que contam negativamente, o Barradão tem no amor da torcida o combustível que lhe torna um sonho de viabilidade e conquistas, um futuro muito real para o presente que vive o Esporte Clube Vitória.
[…] Barradão: Santuário de juventude e incógnitas completa 27 anos […]