Na manhã do último domingo, 13, um grupo de ciclistas, torcedores do Esporte Clube Vitória, uniram suas paixões e levaram ao Santuário a energia que estava faltando para embalar o Leão em campo. Eu como bom ciclista não poderia ficar de fora.
Minha relação com a bicicleta remete à infância interiorana. A bike era uma válvula de escape às rédeas de minha amada genitora, que não imaginava que sob a magrela eu percorria os oito cantos da Península de Itapagipe, minha cidade natal. Era diversão, transporte e aprendizado. Com a maioridade os pedais perderam espaço para o comodismo do automóvel. Mas na pandemia eles voltaram a ser uma válvula de escape; dessa vez à inatividade e a ansiedade provocadas pelo isolamento e a um novo conceito de mobilidade urbana.
Eu me interessei logo que soube da ideia do pedal rubro-negro, através do amigo Spirro, que conheci virtualmente no Twitter e pessoalmente durante uma pedalada – reconhecido graças à sua linda vestimenta rubro-negra. O evento estava previsto para o fim de semana após o aniversário de 122 anos do clube, em maio, mas por conta das chuvas, atrasou. E foi ótimo, porque assim, despretensiosamente em um domingo qualquer, um grupo de rubro-negros espalhou as cores do Esporte Clube Vitória pelas ruas de Salvador.
E foi muito bonito. Do trecho inicial, entre a Pituba e o Farol de Itapuã, até o trecho de menos movimento, no acesso ao Barradão, foram várias as manifestações de apoio e de inveja. Muitos carros buzinando, muitas pessoas acenando, tirando fotos, fazendo vídeos. Foi um resgate espontâneo do amor que sobrevive às intempéries. Lindo de ver.
Mais lindo ainda foi o esforço e suor da turma ao subir a tão sonhada Via Expressa, batizada orgulhosamente de Avenida Mário Sérgio. Aclive miserento que de carro nem parece tão longo. Na verdade essa parte não teve beleza nenhuma. Só o final, a última curva, quando se avista a cancela do estacionamento do Santuário. Eu juro que vi no ar a fumaça das churrasqueiras. Até esqueci que meu coração saía pela boca de cansaço. Naquele momento ele batia forte, mas era de saudade.
Eu juro para vocês, caros leitores, que dali em diante tudo foi nostalgia.
Chegar ao portão principal e fazer uma foto histórica seria o ponto alto dessa pedalada. Todos estavam com um sorriso frouxo de satisfação. Mas ainda tinha a cereja do bolo. Renato, organizador da pedalada, conseguiu acesso às dependências da Toca do Leão. Tudo parecia mas não era um sonho. Mais de um ano depois estávamos de volta à arquibancada do Barradão, de posse das nossas bicicletas, unindo o amor pelo pedal com o amor pelo Esporte Clube Vitória. A lágrima veio, real.
Com esse relato eu agradeço a Renato, a Spirro, e as dezenas de rubro-negros que estiveram conosco nesse passeio memorável, em especial ao meu fiel parceiro de pedalada e de uma vida inteira, André Reis. E convido a todos para compartilhar desses sentimentos conosco no nosso próximo encontro. Esta coluna se compromete a divulgar as próximas datas. E a escrever menos nos próximos textos. A não ser que a emoção venha a ser maior. E se tratando de pedal e Vitória, sempre é possível ser mais emocionante.