Jogador de futebol, bancário, estudante de veterinária, sindicalista… o atleta Boquinha teve diversas faces numa só enquanto defendia as cores rubro-negras no final dos anos 50. Num tempo onde o futebol brasileiro se profissionalizava cada vez mais, o atleta da bola não tinha direito de ser dono do próprio passe. Num tempo onde o futebol não vivia de cifras astronômicas, os passes dos jogadores eram presos aos clubes.
João D’Almeida era lateral-esquerdo e nasceu nasceu em Salvador no dia 24 de junho de 1932. Um provável caso de recém-nascido que ganhou o nome em homenagem ao Dia de São João. Ele começou jogando futebol pelo Labor, time amador da capital baiana e posteriormente continuou no amadorismo jogando no Libertad da Barroquinha. Estreou no futebol profissional pelo Galícia em 1954, e veio para o Vitória em 1957.
Naquele ano, montou junto com Nelinho e Pinguela uma excelente linha de defesa no Leão, aclamada em todo o Nordeste. O apelido de Boquinha, nome com o qual ficou conhecido nos gramados, veio muito antes do futebol e foi dado por um padre quando ele ainda era estudante. Boquinha havia conquistado até então um único título no futebol, o de campeão brasileiro de futebol universitário, três anos antes de sua chegada ao Vitória. No Decano foi que veio seu primeiro título, o Campeonato Baiano de 1957. Numa final de três jogos com o Bahia, o Leão perdeu o primeiro jogo por 1 a 0 e venceu os dois seguintes por 4 a 0 e 2 a 0.
Foi naquele mesmo ano que o lateral teve uma honra ímpar. Vestir a camisa da Seleção Brasileira. A Seleção Bahiana foi convocada para representar a Seleção Brasileira em um torneio no Chile, e tendo o Vitória a maioria dos jogadores convocados, lá estava Boquinha com a camisa 6 canarinho, imortalizada pouco depois por Nílton Santos.
Enquanto jogador do Vitória, Boquinha acumulava as funções de bancário e estudante de medicina vetenária. Com seu jeito descontraído Boquinha tentou empreender com os demais jogadores da Boa Terra o Sindicato Baiano de Jogadores Profissionais. “Considero que a maior arma do jogador é o passe livre. Muitos não entendem isso e outros tem medo de defender seus direitos.”; O Sindicato foi formado por ele já nos anos 60, com o nome de Associação dos Atletas Profissionais da Bahia. Ainda assim, o passe livre continuou sendo algo raro no Brasil, tendo na década de 70 o jogador Afonsinho (ex-Botafogo e Santos) sido um dos poucos a conquistar esse direito.
Boquinha ainda venceu pelo Vitória o Torneio Início do Campeonato Baiano de 1958 e esteve presente na excursão para a Europa em 1960. Deixou o Vitória por volta de 1962 tendo feito somente um gol pelo clube – num tempo em que lateral jogava do meio-de-campo pra trás quase toda a partida – transferindo-se para o Ypiranga. Encerrou a carreira nos gramados em 1967 e começou a participar da crônica esportiva no rádio, onde contava muitos causos como jogador de futebol.