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História do Vitória

Um nome na história

Artêmio Valente, um dos fundadores do clube. (Divulgação / Memorial ECV)
Artêmio Valente, um dos fundadores do clube. (Divulgação / Memorial ECV)

O futebol, como todos sabem, foi criado na Inglaterra ainda no século 19, mas no Brasil só chegou no final do mesmo século, trazido por Charles Miller em meados de 1895. Até então, nas nossas terras, outros esportes britânicos eram praticados aqui. E foi assim que um grupo de jovens aristocratas pertencentes à elite baiana, liderados por Arthêmio Valente, fundaram o Club de Crícket Victória, no dia 13 de maio de 1899. Ao contrário do que muitos chegaram a pensar e cogitar, a data nada tem a ver com o acontecimento de 11 anos antes (Promulgação da Lei Áurea, que viria a extinguir a escravidão negra no país), foi, portanto, uma mera coincidência. O nome Victória vem do bairro onde moravam os jovens, o Corredor da Vitória, que tem esse nome devido a uma antiga igreja que lá existe até hoje: Igreja de Nossa Senhora da Vitória. O local da criação não existe mais, dando lugar ao edifício Casablanca. Ainda é hoje o local de residência de grande parte da elite baiana.

O críquete era o esporte mais praticado no Brasil nessa época. Com a chegada do futebol, principalmente no Rio de Janeiro, começou a se propagar pelas principais cidades brasileiras. Em Salvador, chegou por intermédio do jovem Zuza Ferreira que, vindo da capital brasileira, apresentou o futebol aos amigos em meados de 1902. Foi uma propagação muito rápida. No mesmo ano, a fim de mostrar e ensinar como era esse novo esporte, o Victória, ainda com o “críquete” no nome, jogou contra um conglomerado de paulistas que chegaram na Bahia e conheciam o esporte que já havia chegado em São Paulo. E assim o Victória venceu por 2 a 0, no campo onde hoje é o Campo da Pólvora. Infelizmente, não se sabe ao certo quem foram os autores dos gols por causa da euforia que foi tomada pela aristocracia apreciando o novo esporte (como o Correio do Brazil chegou a noticiar).

Victoria (nome antigo) x Santos Dumont pelo estadual de 1907. (Divulgação / Memorial ECV)
Victoria (nome antigo) x Santos Dumont pelo estadual de 1907. (Divulgação / Memorial ECV)

As cores do Club Crícket Victória eram preto e branco devido à facilidade de achar tecidos nessa cor. Em 1904, o esporte já fazia parte do cotidiano dos jovens aristocratas. É bom frisar que, nessa época, pessoas consideradas pobres e não pertencentes à elite não participavam; o futebol ainda não era do povo. Outros clubes de críquete começaram a desenvolver o futebol como principal atividade. E foi num desses amistosos que o Victória sofreu a primeira derrota para o Internacional Crícket por 2 a 1. O primeiro gol do Victória oficial e registrado foi anotado por Pedro Barbosa, atacante (avançado na época). Foi entre 1902 e 1904 que suas cores foram mudadas para o vermelho e preto afim do time ser melhor identificado nas competições náuticas (remo) entre agremiações como o Flamengo e Vasco que, nessa época, já existiam no Rio de Janeiro como forças do remo. Foi nessa época que o nome foi mudado para Sport Club Victória e, deixando o críquete de lado, passando a adotar o atletismo, o remo, a natação e o recente futebol como principais atividades.

Em 1905, foi criada a Liga Bahiana de Sports Terrestres voltada para o futebol, participando, além do Victória, o Internacional de Crícket, o São Paulo, Bahia Football Club e o Sport Club Bahiano. O primeiro campeonato foi vencido pelo Internacional de Crícket e foi nesse campeonato que tivemos nosso primeiro rival no futebol: o Club Regatas São Salvador, que tinha sua prioridade no remo (já sendo nosso rival lá), e entrou no lugar do São Paulo Bahia, que não tinha jogadores suficientes (poucos paulistas). Nosso primeiro título somente veio na edição de 1908, em cima do São Salvador, e em 1909, também tivemos nosso primeiro bi-campeonato.

Time campeão de 1908. (Divulgação / Memorial ECV)
Time campeão de 1908. (Divulgação / Memorial ECV)

A partir daí, o Vitória não vinha participando de forma ininterrupta. Apesar de o futebol crescer cada vez mais, nosso clube dava mais prioridade aos esportes olímpicos (atletismo e náuticos). O primeiro grande hiato foi de 1913 até 1919, retornando em 1920. Década de 30 praticamente não disputou jogos oficiais, na década de 40 disputou o Torneio Início, mas não o Campeonato Baiano. Foi então na década de 40 que tivemos o primeiro grande artilheiro do Vitória: Cirydião de Araújo Viana, mais conhecido como Siri. Jogou pelo Vitória entre 1940 até 1946, tendo feito pouco mais de 150 gols. Também protagonizou, com o seu irmão Bengalinha, a primeira dupla de ataque mais letal em terras baianas.

O Vitória voltou a disputar o campeonato baiano na década de 50, quando finalmente resolveu se profissionalizar e investir mais no futebol, até pelo sucesso dos campeonatos mundiais e principalmente pela Copa de 50, apesar da derrota brasileira. Foi em 1953 que disputou e ganhou o estadual, agora como profissional, vencendo antes das finais o clube que se tornaria nosso maior rival até hoje: o Esporte Clube Bahia. O primeiro BaVi que decidiu o campeonato com o Vitória profissionalizado aconteceu na edição de 1955, com afinal em acontecendo 1956, no estádio governador Octávio Mangabeira, na ladeira da Fonte, onde nosso time venceu por 4 a 3, com Aduce fazendo três gols. Na edição seguinte, outro BaVi e outra conquista nossa por 2 a 0, gols anotados por Teotônio.

Europa, sucessos e insucessos

O escudo do Esporte Clube Vitória durante a história. (Divulgação / História do Futebol)
O escudo do Esporte Clube Vitória durante a história. (Divulgação / História do Futebol)

O início da década de 60 ficou marcado pelas primeiras turnês do clube pela Europa, jogando em países de grande expressão no futebol na época, como a Bulgária e a Alemanha. Voltando para a Bahia, sofreu com um jejum de títulos, só voltando a conquistar algo em 1964, bem como o bi em 1965. Nessa época, a ditatura era estabelecida em nosso país e devido a um incidente com um jornalista da época (foi agredido em um jogo por militares), toda a imprensa baiana realizou uma espécie de boicote e pouco foi noticiado o futebol e os campeonatos baianos. Ainda em 1965, o Vitória participa pela primeira vez de um torneio nacional: a Taça Brasil, precursora do Campeonato Brasileiro.

A década de 70 ficou marcada pelo primeiro excelente elenco que o clube teve. Foi em 1972 que o campeonato baiano viu o Vitória erguer a taça, comandada por Mário Sérgio e Osni. Na final contra o Bahia, Osni marcou dois dos três gols e ainda foi expulso depois de se envolver numa briga com Eliseu, jogador do rival. Placar final foi de 3 a 1. Mais uma vez veio o jejum de oito anos, voltando a conquistar o Baiano em 1980, onde Pita foi o principal jogador. Foi nesse ano que o Vitória aplicou a maior goleada em campeonatos brasileiros: um sonoro 8 a 0 em cima do América de Natal na Fonte Nova.

O surgimento do Barradão e do “Brinquedo Assassino”

Apesar do início promissor, a primeira metade da década de 80 foi um fiasco. Só em 1985 o Vitória volta a conquistar o Baiano, dessa vez liderado por um estrangeiro: Ricky, o nigeriano. É foi na década de 80 também que nossa casa começava a ser construída. Com o apoio do então governador João Durval, em 1986 é inaugurado o estádio Manoel Barradas (nome em homenagem ao sogro de João Durval pelo aporte financeiro e político e também pelo fato de Seu Manoel ter sido Conselheiro do time).

Barradão. (Carol Garcia / AGECOM)
Barradão. (Carol Garcia / AGECOM)

Na casa do Leão, o primeiro jogo foi contra o Santos, pela história e tradição do time devido a Pelé. O jogo amistoso foi 1 a 1, o gol inaugural foi marcado pelo baiano Dino “Furacão”, que jogava pelo Santos. O empate ficou por conta do meio-campista Hélder. Apesar do jogo inaugural e a festa, o Vitória só veio mandar todos os jogos como mandante em 1991, já com o estádio Barradão (que ganhou a alcunha) todo fortalecido e pronto para ver o time triunfar. Antes disso, em 1989 e 1990, começou a hegemonia rubro-negra no campeonato baiano. Em 1991, o clube caiu pela primeira vez do nível superior do Campeonato Brasileiro, mas a queda fez com que o time se fortalecesse e, em 1992, fez-se um dos melhores times do país, liderado por Artuzinho e Zé Roberto, conquistando o acesso. Em 1992 ainda teve o BaVi memorável: o gol antológico de Artuzinho de cabeça, apesar de sua baixa estatura, depois da jogada de Zé Roberto, com o Vitória com dois jogadores a menos na maior parte do jogo.

Em 1993, alcançou seu auge: nascia o “Brinquedo Assassino”. Com pouca renda para investir em contratações e perda dos principais jogadores do ano anterior, o Vitória usa a base. Nomes como Alex Alves, Dida, Paulo Isidoro, Rodrigo, Vampeta, Pichetti, Roberto Cavalo e Gil Sergipano levam o Vitória até a final do Campeonato Brasileiro daquele ano. Disputada contra o Palmeiras, que tinha grandes nomes, como Edmundo, Edílson Capetinha, Roberto Carlos, Zinho e Evair, o Vitória perdeu, não trazendo para Salvador seu primeiro título nacional. Até hoje, os torcedores contestam os erros do primeiro jogo, cometidos pelo árbitro Renato Marsiglia, erros estes que influenciaram no placar. Mesmo assim, tornou-se memorável esse time, eternizado também pela música que embalava, composta por “Chocolate da Bahia”:

“A festa já começa na ladeira. O sobe-desce, sobe-desce sem parar. A torcida rubro-negra está chegando. Vitória! Vitória! Faz mais um gol pra me alegrar. Olha a trajetória do Vitória. Cheia de glória. Cheia de glória. O povo deu a mão à palmatória. Só dá Vitória. Só dá Vitória.”

Canto da torcida

A hegemonia e a força, agora conhecidas por todo o Brasil, continuou e chegou a vez de conquistar o primeiro campeonato regional: a Copa do Nordeste, em 1997. Sagrou-se campeão e, mais uma vez, um título em cima do Bahia. Além do tricampeonato seguido nesse ano. Em 1999, mais um feito histórico: o 3º lugar no Campeonato Brasileiro. Não chegou às finais devido à queda frente ao Atlético Mineiro, mas ainda assim foi um belo presente no ano do centenário. Nesse mesmo ano, tivemos o imbróglio que até pouco tempo era visto e revisto: o polêmico campeonato baiano de 1999, que até hoje não se tem um vencedor oficial.

No novo milênio

No ano de 2000, mais um BaVi na final e mais um título rubro-negro. Em 2001, o clube ficou de fora das finais, voltando em 2002 e criando a hegemonia do século 21, aliado ao fator Barradão, onde foram conquistados os títulos baianos de 2002, 2003, 2004, 2005, 2008, 2009, 2010 e 2013. Nos anos de 2006 e 2012, o clube chegou às finais, mas perdeu para o Colo-Colo de Ilhéus e para o Bahia de Feira de Santana, respectivamente.

Wallace e Schwenck em comemoração pelo gol na final da Copa do Brasil 2010. (Lúcio Távora / Ag. Estado)
Wallace e Schwenck em comemoração pelo gol na final da Copa do Brasil 2010. (Lúcio Távora / Ag. Estado)

Foi nessa década que o clube vivenciou a pior crise de futebol de sua história como profissional, com quedas sucessivas no Campeonato Brasileiro, chegando a cair para a Série C em 2005. Mas com bravura e surgimento de nomes como Leandro Domingues, Índio e Apodi, o Vitória se ergueu novamente e, em 2006, conquistou o acesso para a Série B; no ano seguinte, o retorno à Série A. Em 2010, mais um feito histórico: a chegada à final da Copa do Brasil. Aliando o Barradão com o empenho de jogadores como Vanderson, Wallace, Ramón Menezes e Elkeson, o Vitória enfrentou o Santos de Neymar, Ganso e Robinho. Perdeu o primeiro jogo e, apesar de ter ganhado em casa, não foi o suficiente para levantar o tão almejado troféu e o título nacional. Vale notar que, nessa edição, o Vitória não perdeu um jogo sequer em casa. Nesse mesmo ano, sofreu mais uma queda para a Série B.

Em 2012, o destaque do time foi Euvaldo Aguiar Neto, ou simplesmente, Neto Baiano. Chegou a ser o artilheiro do Brasil e igualou a marca de Cláudio Adão marcando 27 gols em uma só edição do campeonato Baiano. Neto Baiano é responsável também por marcar o número de gol 1000 da história do Manoel Barradas, desde sua inauguração em 1986. É também considerado o maior artilheiro do clube desde sua profissionalização na década de 50.

Uma importante edição do campeonato Baiano foi a de 2013, que ficou marcada por duas sonoras goleadas em BaVi: 5 a 1, na reinauguração da Fonte Nova (agora chamada de Arena Fonte Nova) e 7 a 3, no primeiro jogo da final. Colocando o jogador Telmário, o nosso Dinei, como um dos poucos jogadores a fazer quatro gols em um mesmo jogo em cima do Bahia.

Referências

A TARDE. (Edições de 1930 até os dias atuais.)

CORREIO DA BAHIA. (Edições de 1940 até os dias atuais.)

CORREIO DO BRAZIL. (Edições de 1900 a 1930.)

ESPORTE CLUBE VITÓRIA. História. Salvador: 2015. Disponível em: http://www.ecvitoria.com.br/historia.html. Acesso em: 3 abr. 2015.

FRANCO JÚNIOR, H. A dança dos deuses: futebol, sociedade, cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

INAUGURAÇÃO do Barradão (Vitória/BA)… Produção de [Rede Globo de Televisão]. [Rio de Janeiro]: [Rede Globo de Televisão], 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=F7NGojL8exY. Acesso em: 3 abr. 2015.

MELLO, Sérgio. Seleção baiana de futebol: década de 50. História do Futebol. Disponível em: http://cacellain.com.br/blog/?p=67613. Acesso em: 3 abr. 2015.

SERENO, Toninho. Os primeiros estádios de futebol na Bahia-BA. História do Futebol. Disponível em: http://cacellain.com.br/blog/?p=67049. Acesso em: 3. abr. 2015.

Diogo Lima,
licenciado em História pela Unijorge.