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Perdão! Não podia, não fui ao Barradão

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Minha primeira vez no estádio foi como a primeira vez de muita gente. O ano era 2007 e o Vitória estreava na segunda divisão do Campeonato Brasileiro. O placar foi elástico: 5 a 1, com direito a gol de Hugo Henrique. Foi um show. A partir daquele momento nunca mais me acostumei a assistir uma partida do meu time do coração sentado num sofá, com uma pequena tela em minha frente.

Mas, por força do destino (e também do corpo, que precisava de um descanso da rotina), o duelo entre Leão e Boa Esporte não contou com a minha presença no Barradão. Em Ilhéus, uma cidade que não tem muitos rubro-negros e tricolores, o que impera é o modelo carioca. Inúmeras camisas do Flamengo e do Vasco nas ruas, mas eu com a minha, talvez desconhecida por boa parte dos turistas e nativos daquela região, mas eu estava lá. Ser igual? Jamais!

É chegada a hora da partida, a piscina me chamava para mais um banho, a praia soprava a brisa e as mulheres (turistas e locais) pareciam gritar o meu nome. O desejo era ficar, mas o coração falava: “Você vai abandonar?” Não, não foi dessa vez que deixei de torcer. As mulheres não iriam sair dali, muito menos a praia e a piscina. Eram só duas horas de volta à rotina. Duas horas só para meu clube que cresci aprendendo a gostar. Fui par ao quarto do hotel, sozinho, e liguei a televisão. Mas algo ainda era estranho. Nada parecia comum, não parecia rotina! O que estava acontecendo?
Os poucos mais de 15 mil pagantes no Barradão pareciam tão longe de mim. A culpa logo veio à tona: “Será que tantos como eu também viajaram e vão esvaziar o estádio logo nesse momento que o time vive?”. A agonia era tamanha, e nada resolvia.

“Chora, tricolor, o seu sonho acabou. Para a Série A sou eu que vou!”. Esse era o cântico entoado pelos rubro-negros no santuário. Esse era o cântico entoado por mim, sozinho, em Ilhéus. Uma saudade bateu, como nunca mais tinha batido. Era o segundo jogo no ano que não tinha ido. Me sentiria responsável se o time não conseguisse o resultado que era necessário. O gol de Elton e o de Escudero logo tranquilizaram, mas depois veio a angústia. Para o Vitória nada era tranquilo. Uma pequena pressão da equipe mineira me fez sentir a pior pessoa do mundo. O relógio na televisão não passava. A ansiedade pelo apito vinha a cada toque na bola, e nada, nada daquele momento acabar, mas acabou.

Sabe aquele momento que você faz uma coisa errada e não quer que ninguém fique sabendo? Foi assim que eu me senti. É como se fosse uma religião: pequei, reconheço que dei prioridade a carne, mas estou aqui confessando o meu pecado. Algo que nunca mais irei praticar, assim queiram Deus e Escudero.

Mas não posso terminar essa crônica sem alfinetar você, leitor. Será que você não se sentiria culpado caso alguém que precisa muito da sua ajuda visse que não poderia contar com ela? Vá ao estádio. O torcedor é o 12º jogador!


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