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MANCINI, SOBRENOME DIGNIDADE

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Atenção, rebain de hereges, escute o apito deste cidadão. Ele tá dando a ideia cheque.

Só agora, depois das regulamentares 48 horas, é possível realizar a seguinte e fundamental pergunta: que fenômeno foi aquele que abalou Itaquera e uma banda de Guaianazes na já inolvidável tarde sabática?

Antes de responder a esta questão essencial para o futuro do ludopédio e do Brasil, o que dá no mesmo, faz-se mister retornar coisa de uma década.

Leva o carro, motô.

Seguinte foi este. No final do mês de março do ano da graça de 2008, o Vitória estava caindo pelas tabelas do brioso campeonato baiano. Crise braba e Vadão demitido. Mancini chega, ganha o título e, num gesto de rara gentileza, dedica o troféu ao seu antecessor. E mais. Conseguiu transformar um bando em uma equipe e percorreu todo o árido Brasileirão sem dar susto, coisa rara para times periféricos. Não à toa, o Vitória terminou aquela competição na primeira parte da tabela com vaga tranquila na Copa Sula Miranda.

Pois bem. Achando pouco, ainda fez alguns milagres. Ajudou a tornar Vanderson o melhor meio-campista do Brasil. O pitbull, que só sabia destruir jogadas e levar cartões, virou um quase gênio, que desarmava com firmeza, mas sem truculência, e ainda saia para o jogo com bola dominada e dando (lá ele) passes precisos. Um assombro.

 

Além disso, fez com Wallace (que está de volta à equipe praticando em alto nível) e Willians realizassem uma proeza que desafia a ciência moderna: aprendessem a jogar bola depois dos seis anos de idade. Eram dois casos perdidos. Até este locutor, que conhece e pratica o pebolismo (eu falei pebolismo, hereges) em 18 idiomas, acreditava que os dois não tinham jeito para a bola. No máximo, poderiam participar de um campeonato intermunicipal. Mas, Mancini os recuperou para o futebol. E fez mais malvadezas. Botou o Vitória para jogar de igual para igual com as grandes equipes de Pindorama nas quase quarenta rodadas do Brasileirão. Um feito absolutamente inédito.

 

Na ocasião, eu perguntei: isto é marca de técnico que se apresente? E eu mesmo respondi: Claro que não. O técnico, para quem não sabe, deve servir para as seguintes coisas: ser chamado de professor por pessoas semialfabetizadas, falar numa linguagem completamente incompreensível e ser depositário de nossas frustrações. Em resumo: deve ser aquele a quem devemos fazer a catarse cotidiana, xingando o desgraçado de forma impiedosa. Não só a ele como também a toda a sua árvore genealógica.

 

Pois muito bem. Com Mancini nada disso é possível. No máximo, ele faz uma pirraçazinha na escalação ou outra bobagem do gênero. Nada que mereça nosso ódio. Uma afronta. E como afronta pouca é bobagem, o cidadão agora se candidata definitivamente ao posto de ídolo. E não apenas por ter sido o técnico que conseguiu a vitória espetacular diante do invicto & poderoso Corinthians, primeiro triunfo do Vitória no Brasileirão em cima de um dos grandes paulistas no território adversário. Não. Mancini se candidata a ídolo, o que é, repito, uma afronta para um técnico, porque diante da pequenez da imprensa de Pindorama ele fez a seguinte afirmação, básica, óbvia e necessária: O BRASIL É MUITO GRANDE, BOA NOITE.

E sobre o jogo? Tenhas suas calmas, que depois comentarei. Agora é o momento de registrar e louvar esta glória maior. Qual seja. A afirmação de que nosso país não se resume à paulistocracia. É preciso e fundamental enxergar outros brasis, confirme Mancini teve a coragem e o discernimento de proferir em rede nacional.

AXÉ ao novo  baiano.


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