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Almiro… o algoz do Santos de Pelé

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“Vou-me embora pra Pasárgada/Lá sou amigo do rei…” assim começa os versos do poema de Manuel Bandeira. Num tempo distante do futebol brasileiro, ser amigo do Rei era um grande prestígio. Tempos onde o futebol da Baixada Santista apresentava a melhor classe do país, pois ali figurava Pelé, o ‘Rei do futebol’. Mas diferente do poesia de Bandeira, houveram nomes que fizeram o caminho inverso de Pasárgada. Saíram da nobreza do futebol para figurarem no periférico futebol nordestino, que ano a ano crescia com seus clássicos e suas torcidas. Foi o caso de Almiro, atacante rubro-negro que de amigo do rei, virou o algoz do mesmo dentro dos gramados.


O mato-grossense Almiro Antônio Gonçalves nasceu em Cuiabá-MT, no dia 28/02/1948. Começou no futebol profissionalmente jogando no Mixto-MT e em seguida transferiu-se para o futebol carioca onde atuou no Madureira. Ainda com cerca de 18 anos já integrava o elenco do todo poderoso Santos, que tinha nada mais menos que o craque Pelé figurando com a camisa 10. Ali, mesmo na reserva do Rei, conquistou a Taça Brasil de 1968 enquanto tentava conciliar o futebol com a faculdade de sociologia. 

A vinda para o futebol baiano aconteceu em 1971 após uma rápida passagem pelo Bangu. Marcou pela primeira vez com a camisa rubro-negra numa goleada em 5 a 0 diante do Ilhéus. Dois gols seus, dois Mário Sérgio e um de Juarez construíram a goleada. Ao lado de um panteão de atletas que marcaram época no Leão, tornou-se campeão baiano em 1972 ano em que o Decano estreou no Campeonato Brasileiro tendo o seu gol sido o primeiro do clube na competição. Após empatem em 0 a 0 com o Remo e uma derrota em 3 a 0 pro Palmeiras, o Vitória recebeu o Santos de Pelé, Edu, Carlos Alberto e Cloadoaldo. O público de mais de 38 mil pessoas na Fonte Nova viu o aprendiz do Rei marcar o gol que garantiu o 1 a 0 leonino em cima do esquadrão santista. 

Almiro marcou o primeiro gol do Vitória no Campeonato Brasileiro, que culminou na vitória em 1 a 0 sob o Santos de Pelé. (Foto: Revista Vitória)


Da admiração a Pelé, Almiro fez seu futebol e forjou-se nos gramados com as próprias pernas. Caracterizado pela habilidade e pelos passes, também deixava sua marca quando preciso. E foi diante do Santos, novamente nos primeiros jogos do Brasileiro, em 1973 que sua estrela brilhou mais uma vez. Desta vez, 41 mil pessoas viram o Santos de Pelé e companhia baquearem diante da garra leonina. Almiro driblou toda a defesa do time paulista e marcou o gol que fez Carlos Alberto cair nas redes. Fernando fez mais um e garantiu a festa. Ao final do jogo, ainda coube um elogio do Rei ao golaço que disse “Lá (no Santos) você não fazia isso” com direito a sua pronta resposta “Claro, eu jogava na sua posição”. 

Time do Vitória na Fonte Nova antes da enfrentar o Santos em 1973. Almiro é o quarto jogador agachado entre André Catimba e Mário Sérgio.


Nos anos em que esteve no Vitória, Almiro marcou somente esses dois gols no Campeonato Brasileiro. Gols que eternizaram-se na memória de torcedores que jamais esqueceram um time que com a graça do seu futebol, deixaram o Santos do Rei Pelé no chinelo para a felicidade geral de uma Fonte Nova rubro-negra. Almiro se transferiu em 1974 para o Vitória de Guimarães-POR onde permaneceu por anos. Lá perdeu parte da visão e acabou encerrando a carreira no Brasil em 1981. Poliglota, o craque ainda se formou em turismo anos mais tarde enquanto vivia na Bahia.


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