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Gringo… o artilheiro roubado

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Os anos 40 podem parecer para a torcida do Vitória uma década oculta em relação a títulos. Porém, foi nesta época em que o clube tinha entre suas maiores conquistas o antigo Torneio Início do Campeonato Baiano. oi Entre esses anos figuraram grandes nomes na artilharia do clube, desde atletas que em campo eram verdadeiros matadores como Siri e Juvenal à outros memoráveis como Mozart. Outro que se destacou com a camisa rubro-negra na década foi o atacante Gringo, sergipano que teve 29 gols em 29 jogos pelo Leão e que se envolveu num imenso imbróglio para ir jogar no Flamengo. Um caso rocambolesco, de um atleta aliciado por um time proeminente no cenário nacional e que por muito tempo ficou marcado nas páginas da história vermelho e preta.

Orisvaldo dos  Santos, nasceu na cidade de Riachuelo-SE em 26 de setembro de 1926.  Começou sua carreira no futebol em Aracaju ao defender o Sergipe em 1945. Lá se destacou e chegou a jogar pela Seleção Sergipana nos prélios contra outras seleções estaduais. A época, os clubes baianos importavam muito dos jogadores de outros estados, e como no futebol Sergipe era subjugado a Bahia, não foi diferente com Gringo, apelido de Orisvaldo nos gramados. Em 1946 ele começou a defender as cores do Leão da Barra, mais precisamente no mês de janeiro em um amistoso do Vitória contra o Rosário Central-ARG.

Gringo atingiu diversos feitos pelo rubro-negro baiano. Em uma partida contra o Botafogo-BA chegou a marcar cinco tentos num placar que terminou em 7 a 1. Certa feita contra o São Cristovão balançou quatro vezes a rede e novamente contra o mesmo São Cristovão e também contra o Ypiranga num 5 a 1 chegou a balançar três vezes a rede. Fez seu último jogo no ano de 1947 diante do Bahia.

Gringo em uma audiência da peleja judicial entre Vitória e Flamengo.

Depois de toda a glória, Gringo acabou fugindo para o Rio de Janeiro para firmar contrato com o Flamengo, alegando a nulidade de seu contrato com o Vitória. Lá procurou o advogado do clube da Gávea, Alfredo Tranjan, que se encarregou de vir a Bahia para provar que o pacto de Gringo com o clube baiano era inviável, pelo fato do atleta ser de menor de idade e seu pai analfabeto, de forma que o vínculo não teria sido assinado pelo seu progenitor. O resultado disso foi uma peleja na justiça desportiva da CBD (Confederação Brasileira de Desportos).

 O Vitória que nos anos 40 ainda estava no semi-amadorismo fechava seus contratos de forma não-profissional com os atletas, ocasionando a saída de muitos para outras equipes. O próprio Gringo ao chegar no Rio disse as seguintes palavras: “Vim para melhorar de vida! Há quem afirme que atrás de toda esta história está o dedo do ‘Dragão Negro’ do Flamengo. Os diretores do Vitória porém desejavam que o sergipano disputasse pelo menos as finais estaduais contra o Bahia, para depois disso ceder seu passe ao Flamengo. O próprio atleta demonstrou interesse em retornar a capital baiana para disputar as finais, mas isso não se concretizou. Parte da torcida rubro-negra porém era contra, mas em contrapartida os diretores tentaram a todo custo trazê-lo para jogar as decisivas. A declaração de um dos diretores foi:

– O Vitória não está em condições de continuar  pagar Cr$ 800,00 por mês a Gringo sem que ele jogue. Por sua vez também o rapaz está arrependido e convenhamos que não vamos cortar a perna do burro porque ele deu um coice. Desta maneira acho que o Vitória deve mandar buscar Gringo já que ele pediu para vir jogar contra o Bahia e se formos vencedores faremos o passe livre para o Flamengo. Assim Gringo fará bastante força. Deve-se levar em conta também que a presença de Gringo é motivo para ótima renda que é o que precisamos também.

Notícia anunciando o contrato selado entre Gringo e o Flamengo.

 No fim das contas, o atleta não disputou as finais, na qual o Vitória perdeu para o rival em janeiro de 1948. Ainda assim, Gringo ficou em terceiro na artilharia do campeonato com catorze gols assinalados, um a menos que o também rubro-negro Milton e quatro a menos que o atleta do Ypiranga, Pequeno. O caso ficou meses em andamento no TJD e apesar de algumas causas terem sido favoráveis o Vitória, o juiz em outubro de 1947 deu o caso como favorável ao Flamengo, que por sua vez assinou com o atacante um contrato de três anos com direito a luvas.

Gringo permaneceu no Flamengo até 1952, quando se transferiu para a Ponte Preta e depois Bonsucesso, Grêmio, Olaria, e Sport, dando fim a sua carreira por volta e 1957 e 1958, pelo Fluminense de Feira. Tal como ele, Zé Hugo, um dos maiores artilheiros do futebol baiano, também sofreria aliciamento para o Bahia antes mesmo de chegar ao Vitória, clube com o qual estava acertado. Prejuízos tais de uma época amadora do Vitória, que por mais empenhado que fosse, custaram ao clube títulos e eventuais ídolos.


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