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Os argentinos que vestiram a camisa rubro-negra

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Texto escrito com Ubiratan Brito

Apesar da constante rivalidade, entre brasileiros e argentinos, os portenhos há muito tempo tem sido presença garantida no futebol brasileiro. No Vitória, especialmente, alguns se destacaram com a camisa rubro-negra como Fischer na década de 70 e Damián Escudero na última década, cuja aposentadoria foi anunciada neste fim de semana. Entre técnicos e atletas, chega a 22 o número de argentinos que atuaram pelo Leão. Conheça abaixo os nomes dos hermanos que passaram pela Toca.

1 – Dante Bianchi (1940 e 1949)

Bianchi foi de jogador a treinador do Vitória na mesma década. (Acervo de Ubiratan Brito)

O meia Dante Jorge Bianchi pertencia ao rival Bahia quando foi emprestado em 1940 apenas para um amistoso contra a Seleção Bahiana. Atuaram ao seu lado nesta partida os gringos Papetti e Avalle, também do rival. Esses atletas reforçaram o Rubro-Negro que estava com seu time todo desfalcado, com seus jogadores servindo a própria seleção. Em 1949 Bianchi foi contratado para ser técnico do Vitória. Em sua estréia como treinador, enfrentando o modesto Guarany, Bianchi resolveu se escalar como titular e jogou toda a partida, mas não teve boa atuação e não se arriscou nos jogos seguintes, limitando-se apenas ao comando técnico da equipe. Foram dezessete partidas treinando o Leão. Bianchi comandou também os principais clubes do Recife, além do Central-PE, Centro Limoeiro, Treze-PB, Leônico, Botafogo-BA, Bahia, Fortaleza…

2 – Papetti (1940)

Papetti, jogou pelo Vitória em somente uma partida.

O também meia Hector Papetti jogou apenas na partida amistosa contra a Seleção Bahiana, que se preparava para o Campeonato Brasileiro daquela temporada. Atuou ao lado de Bianchi e do italiano Mario Giuseppe Avalle, ambos do arquirrival. No Brasil, Papetti defendeu também o São Cristovão e o Botafogo-RJ, além de treinar o América-MG. Em sua terra natal, o principal clube que jogou foi o Gimnasia y Esgrima de La Plata.

3 – Pereyra (1947)

Outro que só vestiu a camisa do Vitória em uma única oportunidade foi o meia Julio Oscar Pereyra, que nasceu em Lincoln, na Argentina. Em seu país, jogou no Estudiantes, All Boys e Excursionistas, depois foi atuar no Montivideo Wanderers, do Uruguai. Em 1946 veio para Salvador jogar no Bahia, clube que defendeu até o ano seguinte. Quando encerrou o contrato com o rival, Pereyra tentou ingressar no Leão, tendo jogado somente um amistoso contra o Flamengo. Porém, acabou indo para Recife, onde jogou por Santa Cruz e Sport. Mais tarde defendeu o América-RJ e também os portugueses Porto e Ovarense.

4 – Gornero (1953 a 1955)

Esio Gornero, o primeiro argentino contratado pelo Vitória. (Foto: Acervo de Ubiratan Brito)

Esio Antonio Gornero foi o primeiro argentino contratado para jogar no Vitória. O meia, então com 23 anos, chegou com o aval do técnico Carlos Volante, seu compatriota, também recém-chegado ao clube. Gornero fez parte do time campeão de 1953, mas atuou pouco no time de cima, apenas quinze jogos entre oficiais e amistosos, tendo marcado dois gols. Foi também bicampeão de Aspirantes 1953/54 e campeão do Torneio Interestadual Régis Pacheco em 1955. Seu principal time na Argentina foi o Racing.

5 – Carlos Volante (1953 a 1955)

Foto de Carlos Volante num álbum de figurinhas em 1953.

O técnico Carlos Martín Volante, de longa carreira como jogador por clubes da Argentina, Itália e França, no Brasil, atuou somente pelo Flamengo. É o 4° treinador que mais comandou o Vitória na história do clube, tendo sido 107 jogos e 61 vitórias. Começou na comissão técnica da seleção brasileira como massagista e em seguida começou a treinar o Internacional. Após cinco anos, comandou o Vitória, e encerrou o jejum do clube de 44 anos sem campeonato baiano. Ainda chegou a ganhar em 1955 outro baianão (dirigiu o clube no primeiro turno deste) treinando o Rubro-Negro e títulos como o torneio interestadual Orlando Gomes, em 1954, e o Régis Pacheco em 1955. Encerrou como treinador no Bahia, onde venceu a Taça Brasil.

O termo volante, que é a posição de quem joga a frente da zaga foi cunhado em sua homenagem, que atuava nessa posição enquanto atleta do Flamengo de 1938 a 1943. Antes a posição era conhecida como “Center Half”, “Médio”, “Central”, “Médio Central”…

6 – Mazza (1954)

O meio-campista Mazza veio emprestado pelo River Plate. Estreou em uma excursão do Vitória em Belém-PA. Não se firmou na equipe principal, tendo jogado somente cinco partidas e não marcado nenhum gol. Foi mais utilizado no time de aspirantes e deixou o clube para fazer testes no Náutico. Em Recife não agradou e retornou ao seu país natal.

7 – Zingoni (1956 e 1956)

O argentino Zingoni em 1955.

Trazido do Sport a pedido do técnico Carlos Volante, José Nestor Fernando Zingoni foi o primeiro “hermano” a cair nas graças da torcida rubro-negra. O ponta-esquerda foi campeão baiano em 1955. Em sua passagem atuou em 39 jogos, marcando 11 gols. Zingoni veio do Estudiantes para o Sport em 1952, time que ficou até 1955 quando se transferiu para o Vitória.

8 – Schubert (1956)

O volante Schubert era jogador do Bahia em 1956. Aparece vestindo a camisa do Vitória apenas em um amistoso contra o Náutico na Fonte Nova. Provavelmente fazendo teste após deixar o rival. 

9 – Caballero (1969)

O goleiro Noberto Caballero fez apenas uma partida amistosa pelo rubro-negro. O jogo foi em Santo Amaro da Purificação, contra o Botafogo local. Caballero era argentino, mas surgiu no futebol uruguaio, onde jogou no Wanderers e Atletico Liverpool. Veio para o Brasil importado pelo Santa Cruz, clube que defendeu de 1961 a 1963, quando veio jogar no Bahia. Em 1969 o arqueiro tentou ingressar no Vitória, onde treinou por alguns meses aguardando a liberação de documentos do Bahia.

10 – Villar (1969) 

Agustín Guilhermo Villar, ponta-direita, estava treinando no juvenil do Palmeiras quando foi trazido para o Vitória por um empresário. Tinha apenas 16 anos e precisou de liberação do juizado de menores para poder jogar. Fez somente sete partidas e não conseguiu balançar as redes. É até hoje um dos atletas mais novos a jogar no time principal do Leão na era do profissionalismo. 

11 – Fischer (1976)

Fischer foi um dos gringos mais aclamados do Leão.

O mais famoso argentino que vestiu a camisa do Vitória. Considerado até hoje um dos maiores ídolos da torcida, classificado assim por quem o viu jogar em 1976. Rodolfo José Fischer Echler teve seu passe comprado do Botafogo, clube contra o qual estreou em amistoso com quase 40 mil espectadores na Fonte Nova. Junto com ele estreava seu compatriota, Andrada. Nascido em Oberá, na província de Misiones, em 16/07/1944, jogou no  San Lorenzo (1963 a 1972), no Botafogo (1972 a 1975), no Vitória (1976) e depois voltou ao futebol do exterior jogando novamente nos cuervos, no Once Caldas-COL, Sarmiento de Junin-ARG e Sportivo Belgrano-ARG, clube no qual encerrou em 1981. Também atuou pela Seleção Argentina em 35 jogos, onde marcou doze gols. No Vitória, El  Lobo fez 31 gols em 44 confrontos. Excelente cabeceador, jogou ao lado do infernal Osni, e formou uma dupla que marcou 58 gols na temporada. Fischer fez seu último jogo em 14/11/1976 contra o América-RN pelo Torneio José Américo Filho, o Nordestão. Também foi a última partida de Andrada, pois ambos se contundiram naquele jogo. Em janeiro de 1977 comprou seu passe ao Vitória por 520 mil cruzeiros. 

12 – Andrada (1976) 

O goleiro Andrada defendeu o Vitória em 1976 após anos no Vasco. (Foto: Placar)

Em 1976, numa ação ousada do Vitória, o goleiro Andrada, já com 36 anos, foi anunciado juntamente com o atacante Fischer. A contratação da dupla de argentinos, que custou 800 mil cruzeiros aos cofres do  Vitória, foi sensação nos meios esportivos locais.  Edgardo Norberto Andrada, o famoso goleiro do “Gol Mil de Pelé” começou sua carreira no Rosário Central, onde jogou de 1960 a 1969. Depois, foi para o Vasco da Gama mesmo ano que se eternizou no mundo do futebol ao receber o gol de número mil de Pelé, em pênalti no Maracanã. Antes de vir para o Brasil atuou vinte vezes com a camisa da Argentina.

Pelo Leão da Barra, Andrada defendeu o clube em 46 ocasiões, entre baianão, Brasileirão, amistosos e Torneio José Américo Filho. Sendo este último o único título do Vitória naquele ano. Se machucou em partida contra o América-RN e teve que ceder sua posição para Williams, goleiro emprestado pelo Santos. Sem se recuperar a tempo do fim do torneio, o goleiro rescindiu seu contrato, voltando para a  Argentina, onde atuou no Colón até encerrar a carreira em 1982. Uma curiosidade é que em um BaVi em 15 de janeiro de 1976, Andrada desmaiou em campo e foi retirado, sendo substituído por Williams. Foi também o goleiro do memorável combinado Vitória/Fluminense que venceu uma seleção de jogadores estrangeiros na Fonte Nova por 3 a 1. 

13 – Alfredo Gonzalez (1977 a 1978)

O técnico Alfredo Gonzalez em 1977. (Foto: Placar)

Treinador de carreira extensa, Alfredo Gonzalez treinou 14 equipes antes de assumir o Vitória em 1977. Já somava 45 anos de dedicação ao futebol, desde quando começara como atacante no Talleres de Cordóba. Assume o Vitória em 25 de outubro de 1977, com um curto tempo para classificar o clube no Brasileirão. E isso teria acontecido, caso não houvesse um imbróglio entre Fluminense de Feira e Desportiva-ES, que prejudicou o Vitória, por causa da CBD que pretendia marcar uma partida de desempate do Leão com o clube capixaba, que com a negativa dos dirigentes rubro-negros acabou se classificando para a terceira fase. No comando rubro-negro até 1978, Gonzalez contabilizou 27 jogos e 12 vitórias. Seu último jogo dirigindo o Vitória foi um 2 a 1 sobre o Confiança, no Batistão em 26 de março de 1978.

14 – Ivan Gabrich (2000)

A torcida rubro-negra sempre depositou grande esperança nos gringos que passaram pelo clube. Por isso o atacante Ivan César Gabrich chegou sob duas responsabilidades – era o primeiro estrangeiro após a saída de Petkovic e Hernandez, e o primeiro argentino desde Andrada e Fischer -. As expectativas não foram atendidas e o clima quente soteropolitano foi uma das desculpas para a passagem apagada do jogador, que atuou apenas em 12 jogos e marcou quatro gols, fazendo parte do elenco que conquistou o Campeonato Baiano daquele ano. Ainda no primeiro semestre de 2000 retornou ao Huracán, e no ano seguinte se transferiu para o Universidad Católica, do Chile.

15 – Gustavo Sand (2001 e 2002)

Gustavo Sand festeja um gol pelo Vitória.

Com pouco mais de vinte anos, Gustavo Sand veio pro futebol brasileiro após atuar em equipes tradicionais da Argentina, como o Colón e o Independiente Rivaldavia. No Vitória jogou em duas temporadas, onde em trinta jogos disputados assinalou seis tentos. Ainda em 2002 voltou ao futebol argentino para defender o Defensores de Belgrano.

16 – Tripodí (2008)

Tripodí atuou em apenas quatro jogos e não se firmou.

O atacante Mariano Sebastián Tripodí foi revelado pelo Boca Juniors, mas só atuou em uma partida no clube xeneíze e foi tentar a sorte no Colônia-ALE. Em 2008 veio para o Brasil para jogar no Santos, onde não agradou e acabou sendo emprestado ao Vitória em agosto daquele ano. No time comandado por Vagner Mancini, Tripodí tinha a missão de substituir Dinei, que tinha ido para a Espanha. Em revés, acabou sendo reserva após não mostrar resultado no elenco. Jogou apenas quatro partidas no rubro-negro e não marcou gols. Após deixar o Leão, rodou clubes pequenos do Brasil e depois passou pelo Japão, Argentina e até em Liechtenstein.

17 – Lucas Nanía (2011)

Lucas Nanía ao lado do técnico Antônio Lopes.

O meia Lucas Sebastian Nanía Machain chegou ao Vitória sob desconfiança da torcida. Anunciado como novo camisa 10, esperou semanas pra estrear. O técnico Antônio Lopes o pôs em ação três vezes. Mais que suficiente para a torcida atestar que não serviria para o Leão. Nascido em Buenos Aires, Nanía começou no San Lorenzo. Peregrinou por clubes pequenos da Argentina, Venezuela, Chile e Colômbia até chegar ao Barradão. Recentemente estava atuando pelo Belgrano na Argentina.

18 – Maxi Biancucchi (2013)

Maxi Biancucchi se destacou no Vitória de 2013, com 17 gols em 42 jogos.

Maxi viera do Olimpia-PAR em 2013 já conhecido como primo de Messi, por seu parentesco com o craque do Barcelona. Teve uma passagem no futebol do Brasil de 2007 a 2009 pelo Flamengo. Chegou ao clube na mesma época dos gringos Escudero e Cáceres e deu até a sua filha foi nomeada como Vitória em homenagem ao Leão. Fez seu primeiro gol com a camisa rubro-negra na Copa do Nordeste, e continuou a marcar no Campeonato Baiano que viria a ser conquistado pelo Vitória. Continuou a marcar gols pelo Rubro-Negro, até o seu último jogo, um 2 a 2 contra o Atlético-MG, encerrando no Leão com dezessete gols em 42 jogos. No ano seguinte migrou para o rival e atuou novamente pelo Olímpia e depois pelo Ceará.

19 – Escudero (2013 a 2015)

Escudero comemora gol contra o Goiás na Fonte Nova em 2013.

O meia Damián Ariel Escudero atuou em clubes argentinos e espanhóis antes de chegar ao futebol brasileiro. No Brasil, atuou por Grêmio e Atlético-MG e em 2013 veio para a Boa Terra jogar pelo Vitória. Conquistou no clube o Campeonato Baiano de 2013 e esteve na campanha do acesso para a Série A em 2015. No ano de 2014 esteve ausente em boa parte dos jogos por conta de uma lesão. Se a segunda temporada não contou para Escudero, duas foram suficientes para cair nas graças da torcida. No clube fez 22 gols em 100 jogos disputados. Transferiu-se para o Puebla em 2016 e atualmente pendurou as chuteiras.

20 – Jonathan Ferrari (2014)

Ferrari em treinamento pelo Vitória.

Natural de Buenos Aires, o zagueiro Jonathan Marcelo Ferrari não agradou no pouco tempo que passou pelo Vitória. Chegou no time no mês de janeiro e deixou elenco junto com Souza em 3 de junho de 2014, tendo participado de somente cinco partidas e marcado dois gols. Ferrari que viera do All Boys, estava recentemente no Zaragoza-ESP e firmou contrato com um clube chinês.

21 – Pisculichi (2017)

Meia argentino Pisculichi é apresentado oficialmente pelo Vitória – Arena  Rubro-Negra
Meia argentino não se firmou no Leão e voltou para a terra natal na mesma temporada.

Leonardo Nicolás Pisculichi nasceu em Rafael Castillo-ARG e foi revelado pelo Argentino Juniors. O meia-atacante chegou ao Vitória em 2017 aos 33 anos após passagem pelo River Plate. Não permaneceu muito tempo no elenco rubro-negro e acabou retornando para o país natal naquele mesmo ano para jogar no Argentino Juniors.

22 – Dátolo (2017)

Dátolo é anunciado como reforço do Vitória para temporada 2017 | Jornal da  Mídia
Dátolo chegou ao Vitória como camisa 10, porém não completou a temporada pelo clube.

Jesús Datólo fez nome no futebol brasileiro em passagens pelo Internacional e Atlético-MG. Em 2017, chegou ao Vitória com 36 anos e balançou as redes em somente um jogo. 6 a 1 contra o Flamengo de Guanambi, jogo em que o hermano anotou um gol olímpico no Barradão. Também não se firmou no elenco daquele ano e voltou para a Argentina para jogar no Banfield.

23 – Marcelo Benítez (2018)

Em 2018, o Vitória tentou novamente emplacar os argentinos no elenco. Para isso contratou o lateral esquerdo Marcelo Benítez no mês de julho. O atleta veio do Defensa y Justicia por empréstimo e voltou ao clube de origem na metade de 2019 quando encerrou-se o contrato.

24 – Walter Bou (2018)

Também por empréstimo, o Vitória trouxe em 2018 o atacante Walter Bou, pertence ao Boca Juniors. O jogador estreou em um clássico BaVi, onde teve chance de gol logo no início da partida e desperdiçou. Bou não conseguiu balançar a rede em nenhum jogo pelo Vitória e acabou voltando para as mãos do Boca, que o cedeu por empréstimo para outros clubes.

25 – Arroyo (2019)

Já em 2019, o Vitória contou com o lateral-esquerdo Osvaldo Arroyo. O atleta revelado pelo Colón passou pelo Cianorte e atuou pelo sub-23 do Vitória em oito jogos e depois pelo profissional em três confrontos.

Extra: Mouzo (1987)

O argentino Mouzo ficou restrito aos treinamentos.

 O Vitória em 1987 chegou ainda a contar com o argentino Roberto Mouzo, zagueiro que até hoje foi o que mais atuou pelo Boca Juniors. Mouzo chegou junto do goleiro uruguaio Gustavo Fernandez, mas após alguns dias os exames médicos constataram um abcesso na perna e o zagueiro que ficara restrito aos treinos acabou sendo dispensado. Já o lateral Federico Arenoso, emprestado pelo River Plate no último ano, atuou em algumas partidas pelo sub-20.


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