Início Colunas Memórias do Leão Siri… sete gols contra o Galícia

Siri… sete gols contra o Galícia

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Muitos sabem que placares elásticos por muito tempo foram naturais no velho futebol. Embora as goleadas fossem frequentes nos antigos prélios, as atuações individuais sempre foram estrondosas. Não à toa, muitos dos jogadores das primeiras décadas do futebol baiano foram coroados como ídolos por conta disso. Mesmo num contexto de esporte amador, o futebol já mostrava ao seu fiel público verdadeiros espetáculos. Acostumados a assistirem partidas com muitos gols anotados, os espectadores do Campo da Graça podiam também de quando em vez ver magistrais atuações daqueles que foram imortalizados nos tempos longevos do esporte. Caso de muitos players, dentre eles, Siri.

 O atacante Cyridião Araujo Viana era o típico goleador nato. Apelidado nas rodas desportivas de Siri, com essa alcunha ocupa até hoje o posto de segundo maior artilheiro da história do Esporte Clube Vitória. Também o dera, nos primeiros anos da década de 40 sempre figurou como maior artilheiro do Campeonato Baiano. Tanto sozinho ou empatado com algum outro atleta.

 Mais que faro para gols, Siri também tinha sangue de boleiro nas veias. Tal como ele, os irmãos Bengalinha, Bode e Luiz também defenderam os escretes rubro-negros. O tino para o futebol arrebatava a família Viana. Mas como bom jogador, tinha também a alma de boleiro. Boleiro, aquela espécie de atleta que conta dinheiro após o fim do jogo como prêmio. O famigerado ‘bicho’ era algo que já fazia parte da rotina do futebol da Bahia. Havendo até mesmo num clube amador como era o Vitória a época.

 Aconteceu que numa ocasião de 1944, o então Diretor de Esportes do Vitória, Manoel Barradas, resolveu propor um desafio ao craque. Disse que lhe pagaria cinco cruzeiros para cada gol que ele assinalasse no confronto com o Galícia. Tarefa árdua? Não para quem tem como principal habilidade fazer a pelota tocar nas redes. Acontece que o goleiro galiciano era ninguém menos que Nova, um atleta cujo as línguas dos assíduos fãs da época diziam ter parte com os santos do candomblé e por conta disso ele não era tão vazado. Os rumores davam conta até mesmo de que Nova, frequentava as sessões de pais de santo sempre nas vésperas dos jogos no bairro do Uruguai.

Nova e Siri disputam a bola em um jogo entre Galícia e Vitória nos anos 40.

 Siri por sua vez, era um pacato estudante de direito que em campo se transformava. Brigava, xingava, batia o pé contra quem fosse e claro, fazia gols à beça. O centroavante rubro-negro cria que o arqueiro rival era altamente envolvido com pais de santo no quesito futebol. Acontece que o guarda-redes sempre apresentava-se ao campo de jogo da mesma maneira. Adentrava ao gramado junto do seu fiel elenco rodando a pelota sob o dedo da mão e entregando-a somente ao juiz.

 Nesse dia em especial, 2 de abril de 1944, quando Manoel Barradas fez a proposta a Siri, também mandou o desportista entrar junto com a equipe leonina em campo antes mesmo dos adversários. Siri assim o fez. Aguardou a entrada do Galícia em campo e antes mesmo de Nova repetir o seu gesto tradicional, o atleta do Decano roubou a bola ainda no ar e entregou ao juiz da partida. O jogo não havia começado oficialmente, mas para atacante e goleiro ali já estava sendo travado o embate da tarde. Nova sem muito o que fazer dirigiu-se para o gol.

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Nova, o goleiro galiciano. (Acervo de Galdino Silva)

 Fato é que a superstição surtiu efeito. Em campo o Vitória foi arrebatador. Siri abençoado pela sorte ou não, marcou sete gols. A cada tento que o centroavante marcava, a dívida de Manoel Barradas subia. Em dado momento do jogo, o dirigente bradou da tribuna: “Chega Siri, chega, não precisa mais”. Os também atacantes Coló e Rui Carneiro completaram a goleada que resultou em 9 a 1 diante da equipe alvi-azul. Enquanto a equipe do castigado Nova, marcou seu gol de honra justamente com seu irmão, Novinha.

 A atuação exemplar de Siri ficou marcada por cerca de dezessete anos como algo único. Somente ele havia conquistado o feito de marcar sete vezes numa única partida. E mesmo não sendo desbancado, compartilha desse feito dos anos 60 até hoje com ninguém menos que Pelé.


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