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Ser apolítico é uma decisão política

Não estar atento à política do clube pode ser perigoso demais

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Foto: Maurícia da Matta/ EC Vitória

As reuniões do Conselho Deliberativo do Vitória têm sido bem movimentadas. Às vezes grande parte da torcida não tem conhecimento das atribuições ou do que acontece nas reuniões do Conselho, por não ter acesso às informações ou por ausência de interesse. “As eleições acabaram, vamos deixar a política de lado”. Mas não é bem assim. A política do clube é importante e sempre existirá, quer as pessoas queiram ou não. Não pensar nisso ou deixar a cargo de quem está no poder tem suas consequências.

Com a maioria absoluta do Conselho Deliberativo, além da totalidade do Conselho Fiscal e do Conselho Diretor, a chapa majoritária, Vitória Gigante, consegue concentrar em seus membros a decisão sobre todas as questões do clube e isso é bastante perigoso.

Vejamos a formação da Comissão do Estatuto. Cinco membros do Conselho atual se juntariam a cinco membros do Conselho anterior para formar a nova Comissão, cuja função é organizar todo o processo de votação do Novo Estatuto Social do clube. Pois bem, os cinco nomes indicados são provenientes da Vitória Gigante. Como o voto de minerva é do Presidente do Conselho, restou sacramentada a maioria também naquela Comissão.

“Ah, mas na formação do Conselho de Ética foi respeitada a proporcionalidade, há membros de todas as chapas”. Isso é verdade, mas para essa comissão em específico há disposição estatutária que obriga a composição proporcional.

Sobre a pré-AGE

No dia 26 de agosto deste ano haveria a reunião pré-AGE para decisão acerca das emendas que passariam a compor o anteprojeto de Estatuto a ser votado na já marcada Assembleia Geral Extraordinária do dia 01 de setembro. Só que nesta reunião houve um esvaziamento generalizado, notadamente da chapa majoritária, o que levou ao cancelamento da AGE, posteriormente remarcada para o dia 09 de outubro deste ano.

Na segunda-feira (28) houve novo encontro. A reunião era extraordinária e a pauta era a mesma daquela que não ocorreu por ausência de quórum: apreciar as propostas de adequação do Estatuto do Vitória. Há discussão acerca da obrigatoriedade desta reunião, mas não sobre sua importância, pois as novas emendas ao anteprojeto precisavam ser analisadas. Só que mais uma vez o quórum não foi alcançado, desta feita com ausências de todas as chapas, que se apresentaram apenas com algo em torno de 50% dos seus componentes. 

Isso não pode acontecer. É um descaso muito grande com o clube. Se não há interesse em contribuir, fazendo o mínimo que lhe cabe que é comparecer às reuniões, para quê se candidatou? Fica o questionamento e a crítica. Entendemos ausências pontuais, mas não conseguir reunir nem metade dos conselheiros num dia cuja pauta era tão importante, talvez essencial à realização da AGE cuja realização foi decidida pela maioria dos sócios em plenária, é algo a se questionar.

É por isso que não se pode jamais deixar de lado a política do clube. Além das questões de dentro do campo, outras precisam ser decididas e para isso há divisão em Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Conselho Diretor, cada um com suas atribuições para o fortalecimento da democracia, o ajuste das contas, a melhora do desempenho esportivo. Em resumo, ao crescimento do clube.

Mas voltemos à reunião de ontem. Passando ao ponto “o que ocorrer”, quando questões menores são discutidas, levantou-se as seguintes pautas surpresa: a suplementação orçamentária e o requerimento do atual Presidente para anular o processo administrativo disciplinar que o suspendeu por 180 dias.

Esses pontos jamais poderiam ser suscitados sem estar expressamente previstos no edital de convocação da reunião. Em se tratando de deliberações, deveriam constar previamente da pauta.

A suplementação, questão financeira, seria para aprovar gasto superior ao valor previamente determinado, pois se gastou mais que o previsto e se arrecadou menos do que o desejado. Sobre o requerimento do Presidente, como revisar uma decisão tomada pelo Conselho legitimamente eleito anteriormente, no exercício de suas atribuições, sem acesso ao inteiro teor do processo, apenas após a leitura do relato de somente uma das partes?

Assim sendo, será que vale a pena votar em todos os representantes do Conselho do mesmo grupo, dando carta branca a apenas um grupo majoritário? Se isso for interessante, por que não voltar logo à eleição de chapa única? São questionamentos que surgem quando acompanhamos mais de perto a política do clube.

Lembremos que o preço da democracia é a eterna vigilância. Sigamos atentos à política do clube, porque dela tudo deriva. Ser apolítico é, ainda, uma decisão política. Qual a sua decisão?

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A opinião expressa em artigos é de responsabilidade dos signatários e não é necessariamente a opinião do Arena Rubro-Negra.



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