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HONRA AOS HERÓIS

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A lente de Tainá Moraes capta a altivez de um dos grandes símbolos da independência que inspirou o bravo time do Vitória em Minas Gerais

Sim, minha comadre, confesso: quando se trata do Esporte Clube Vitória, este rouco e cabeludo locutor costuma escorregar pelas hipérboles. E mais. Sempre tento, normalmente sem sucesso, transformar uma simples pelada de quinta categoria numa epopeia de botar Homero no chinelo.  Quando acontece um lance de perigo, então, valei-me, meus culhões de cristo, as mais terríveis tragédias gregas transformam-se em meras e adocicadas sessões da tarde na fuleira pena deste que vos aborrece.

Mas, hoje não. Tal e qual um idiota da objetividade, ficarei restrito somente à insossa concretude dos fatos. Nada mais, nada menos.

Assim, começarei o relato informando precisamente o que aconteceu na manhã de domingo em Minas Gerais, na peleja entre Vitória x Cruzeiro. Foi algo bem simples. Os jogadores Rubro-Negros perderam seus documentos, identidade, CPF, registro de nascimento, tudo, e incorporaram o espírito guerreador das heroínas e dos heróis da Independência da Bahia. Marinho, por exemplo, agiu como se fosse a própria Maria Felipa, comandante negra do 2 de Julho, que liderava as tropas e organizava a porra toda. Os outros jogadores não deixaram por menos e reverenciaram com louvor a memória de Joana Angélica, Maria Quitéria, dos Caboclos e das Caboclas, do bravo povo de Cachoeira, da Ilha de Itaparica e todas as adjacências.  Até mesmo os Encourados de Pedrão (que o presepeiro Ministério Público proibiu de desfilar) estava representado nos gramados mineiros. Éramos milhares de 11.

Para que vocês tenham uma ideia da força revolucionária baiana, vou contrariar minha religião e apelar para a fria e insípida numerologia. Seguinte. Nos primeiros 20 minutos de combate, atuando no hostil campo adversário, o Leão já havia criado nove chances claras de gol e os poderosos donos da casa apenas duas. Porém, na terceira deles, a casa fedeu a homem. 1 x o para os celestes.

Como é impossível construir epopeias com poucas desgraças, no início da segunda fase da guerra, Ramon, zé ruela desgraçado, que já me fez gastar muito minha maltratada garganta pra defendê-lo, realizou um ato de DONZELO enojando meu baba. Opa. Reescrevendo em prol da verdade dos fatos. O jovem zagueiro Rubro-Negro, em um momento de desespero, acabou sucumbindo à pressão do combate e tombou. Assim, o time do Vitória ficou com um guerreiro a menos. Aproveitando a superioridade numérica, os oportunistas mineiros fizeram 2 x 0.

Porém, quando a tragédia parecia iminente, Wagner Mancini incorporou o Corneteiro Lopes, aquele que, diante da sugestão do comandante Barros de Falcão, que ordenara o recuo por causa da superioridade das tropas inimigas, desobedeceu e deu o sinal para a cavalaria avançar.

E assim foi. Mais não digo porque depois disso, tal e qual Manoel Bandeira diante de Teresa, não vi mais nada.  Só sei que “os céus se misturaram com a terra. E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas”.

Ah, sim. A peleja terminou empatada em 2 x 2. O Vitória, com um guerreiro a menos, decidiu não virar a labuta, pois seria heroísmo demais para uma mera manhã de domingo.

P.S Por falar em atos revolucionários, encerro com o tradicional grito DIRETAS, JÁ!!!


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