De ídolo a vilão, Nino deixa o Vitória com despedida emocionada

Quando o paraibano Severino de Ramos Clementino da Silva olha para as linhas na palma de sua mão, não vê outro caminho se não as laterais do campo principal do Estádio Manoel Barradas, ou de qualquer campo de treinamento da Toca do Leão.

Nino Paraíba, como ficou conhecido o até pouco tempo titular da lateral direita rubro-negra, terá muita história pra contar sobre sua longa estadia em Salvador. Foram seis temporadas vestindo o manto rubro-negro e dividindo as alegrias e tristezas da equipe ao longo desses anos.

Negociado nos últimos dias com o Avaí-SC, o jogador que já teve status de ídolo deixou o Leão com fama de vilão, já que o seu último ato com a camisa do Vitória foi o pênalti cometido sobre o meia Marinho, do Ceará, que resultou no gol que desclassificou o Vitória da Copa do Nordeste – pela terceira vez seguida diante da equipe cearense.

Nino havia acabado de entrar na partida, no meio do segundo tempo. Mais tarde se defendeu, afirmando ter havido um equívoco do árbitro ao marcar a penalidade. “Ele se bateu em mim e caiu, mas o cara deu pênalti. Não foi pênalti. Ele deu um tapa na frente e caiu em em mim”. Era tarde.

O lateral conhece o clube como ninguém. Chegou ao Vitória em junho de 2009 para suprir uma das vagas mais importantes da equipe, deixada pelo ídolo da torcida, o lateral Apodi. Logo assumiu a camisa 2 e começou a desbravar os lados do Barradão.

Pacato, o jogador fez parte da campanha que levou o Leão da Barra ao vice-campeonato do Brasil em 2010 e também no acesso em 2012, quando teve o seu contrato renovado dezembro de 2015. Também viveu as tristes memórias de derrotas e decessos neste meio tempo.

Em 2013 Nino precisou se afastar da equipe por conta de uma lesão no púbis, abrindo espaço para a chegada do lateral Ayrton, que acabou sendo titular durante todo o Brasileiro de 2013, quando o Vitória alcançou a melhor posição de um time do nordeste na competição, terminando na quinta colocação, a um ponto da zona da Libertadores.

O atleta voltou ao time em 2014 em um momento complicado, e mesmo apresentando um futebol regular não conseguiu evitar os tropeços que levaram a equipe a mais um rebaixamento. A má fase da equipe e do próprio lateral persistiu em 2015, fazendo com que ele inicialmente ficasse no banco de reservas e posteriormente negociado.

Mais do que ele pôde mostrar tecnicamente dentro de campo, Nino criou uma identidade com o Vitória, algo que fez dele um (raro, nos dias de hoje) atleta que joga pela camisa. Prova disso é a carta despedida que o jogador divulgou para a torcida, embora tenha sido duramente criticado pela mesma. Confira abaixo:

Nunca fui muito bom nas palavras. Sempre procurei ser o mais discreto possível, mas este momento não poderia passar em branco. Estou deixando o Esporte Clube Vitória, após quase seis anos na Toca do Leão.

Tenho tanta gente para agradecer por tudo que passei aqui, neste clube que aprendi a amar, que nem sei por onde começar. Mas, em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao principal motivo da minha longa permanência na Toca: o torcedor. Este foi fundamental para meu crescimento e sem ele não seria, hoje, o Nino que sou.

Minha relação com a torcida sempre foi muito respeitosa e tudo que passamos ficará marcado em minha memória para sempre, afinal de contas, são quase seis anos aqui. Minha história de vida e da minha família está ligada ao Vitória. Se deixei a desejar em alguns momentos, peço desculpas, mas sempre busquei acertar.

Sou um privilegiado por ter vestido essa camisa rubro-negra. Procurei honrar esse manto todas as vezes – e não foram poucas – que coloquei o uniforme do clube. Estarei, de longe, torcendo para que a equipe consiga o principal objetivo nesta temporada: o acesso para a Série A, local onde nunca deveria ter saído.

Por fim, deixo meu abraço aos funcionários do clube, que sempre me trataram com um carinho inesquecível, e a diretoria.

Agora, sigo meu caminho de cabeça erguida e com muitos sonhos em mente.

Um abraço,
Nino Paraíba