Matéria escrita em colaboração com Caio Fernandes Barbosa
O escudo de um clube é a sua máxima representação gráfica para o mundo. E no caso específico do Esporte Clube Vitória, muitos brasões já estamparam as diversas camisas rubro-negras que o clube envergou em sua história. Em diferentes formas e cores, o Leão sempre esteve representado de alguma forma com seu pavilhão, erguido cada qual com seu modo e época.
Fundado em 1899 como Club de Cricket Victória, logo no início do século XX, mudou de nome para Sport Club Victória, constituindo uma nomenclatura que levaria consigo por décadas e mais tarde seria apenas adaptada. Em 1903, as cores vermelha e preta foram oficializadas com a criação do estatuto do clube, que em seu artigo 52 dizia que o primeiro uniforme era composto por: “Casquette (espécie de boina francesa) preta com o monograma vermelho (letras “SCV” estilizadas e combinadas), camisa de listras pretas e vermelhas; cinto e sapatos brancos, sendo os sapatos com solas de borracha, meias e calções pretos”. A publicação feita pela Litho-Typographia Almeida não trazia referência em sua capa a nenhum escudo. Deste modo, considera-se a primeira representação do Vitória, o monograma vermelho supracitado.
Data-se de 1905 primeiro o registro de um escudo que até então tivemos conhecimento. Gravado em uma medalha de remo, o símbolo traz simplesmente o escudo náutico do Vitória, com elementos como sua data de fundação, raquete e bat de cricket e uma bola. As semelhanças entre esse símbolo de 1905 com o símbolo contemporâneo do Corinthians e o primeiro escudo do Sport Recife (que apesar de fundado em 1905, só formalizou seu escudo em 1909 no seu primeiro estatuto) tem gerado intensos debates sobre quem teria “imitado”. O fato é que o símbolo do Esporte Clube Vitória foi criado primeiro do que esses dois, e mantinha íntima ligação com símbolos de empresas de comércio marítimo em funcionamento na Bahia e com o símbolo da escola de Comércio da Bahia, escola vinculada a classe caixeiral e a alfândega de Salvador, do qual também faziam parte alguns dos fundadores do Sport Club Victoria em 1899.
Em 1906, o programa de regatas da Taça Olga elaborado pelo Vitória mostra um escudo náutico, em forma circular, contendo o nome do clube acompanhado de mais detalhes e referências, como o nome Bahia inscrito na parte debaixo do escudo (cogitou-se em 1899 fundar o clube com o nome Club de Cricket Bahiano). Neste programa de regatas ainda há um brasão vermelho e preto no formato de um escudo de armas com um monograma no meio com as iniciais da instituição. Há dúvidas sobre o uso desse brasão, se teria um uso sistemático pelo clube no período ou se foi um escudo criado apenas para aquela ocasião especial.
O Vitória foi campeão baiano de futebol nos anos de 1908 e 1909 sem usar escudo em sua camisa. A grande maioria dos clubes jogavam somente com as camisas nas cores do time, e estes escudos apareciam excepcionalmente em panfletos. Em 1909, a publicação do 1° campeonato baiano de remo, mostra um escudo náutico do Vitória de fundo vermelho com menos detalhes que o anterior. A variação prossegue em 1910, quando o Vitória apresenta um escudo com uma bandeira longa e que se estende pela âncora. Elementos como o bat de cricket e a raquete de tênis, continuam presentes. Já em 1912, observa-se pela primeira vez um escudo com fundo escuro. A bola de futebol volta a reaparecer naquele que foi o ano de despedida do Vitória do Campeonato Baiano.
Ao que consta, também houveram escudos de fundo azul, provável homenagem ao remo, desporto que por anos foi a grande relevância do Sport Club Victória. O escudo encontrado pelo jornalista Paulo Leandro, na antiga sede do Vitória, em Piatã, segue a linha tradicional de muitos outros da mesma época, com a bandeira por detrás do escudo e o nome do clube e do estado cravado na boia. Mas difere-se por apresentar a cor azul por dentro, envolto da listra vermelha que contorna o centro do símbolo.
(Foto: Tiago Jerran/ECV Arts) (Foto: Tiago Jerran/ECV Arts) (Foto: Tiago Jerran/ECV) Arts) (Foto: Tiago Jerran/ECV Arts) (Foto: Tiago Jerran/ECV Arts)
Todos estes escudos apresentam variações por diversos motivos. O fato é que não havia nestes primeiros anos de Vitória um escudo definitivo, oscilava-se em torno da ideia desse escudo náutico com referências aos desportos terrestres em seu centro. Sendo assim, o distintivo rubro-negro sofria por alterações toda vez que era redesenhado, inclusive, por autores diferentes. Ao longo da história, o Vitória continuou usando os escudos náuticos em outras muitas ocasiões, todos eles apresentando variações de estilo em relação aos seus anteriores. Em 1999, por ocasião de seu centenário, o clube enfim redesenhou o escudo náutico para adaptá-lo para os novos tempos. Mas isto é assunto para um outro texto.
Obs: Colaboraram para a pesquisa: Ângelo Alves, André Luis Oliveira e Lucas Gramacho