Não é só de uma boa visão de jogo que vive o meio-campista do Vitória, F.Soutto, 27 anos. O jogador que chegou ao Vitória em junho de 2017, “no meio daquele Furacão”, como o próprio atleta diz, contou em entrevista ao Arena Rubro-Negra um pouco do que se passou nos bastidores do Vitória naquele período e analisou com inteligência o atual ambiente no clube. “A equipe está mais encorpada”.
1. Arena Rubro-Negra: Você chegou ao Vitória no meio de 2017, em um período conturbado da gestão do clube e também no futebol. Como você avalia o Vitória dentro e fora de campo no ano passado? A fuga da degola foi o melhor que dava para fazer?
Fillipe Soutto: Eu acredito que desde que o Agenor assumiu ele tentou blindar um pouco mais os jogadores. O que aconteceu no início da minha trajetória aqui quando cheguei era que havia uma carência de referência do elenco para com a diretoria. Nós estávamos um pouco perdidos e eu entrei naquele furacão. Então, eu cheguei um pouco sem lugar até que, um mês depois da minha chegada, houve a saída do presidente Ivã (o afastamento) e aí o Agenor assumiu. Aí, as coisas começaram a entrar um pouco mais nos trilhos. Ele logo contratou o Mancini e a comissão e aí eles começaram a dar uma maior atenção ao clube e uma proteção aos jogadores. Acho que isso foi o principal naquele momento para que depois os resultados começassem a vir de uma forma até menos dificultosa. Claro que, ao final de tudo, se nós pararmos para analisar, foi quase um milagre o Vitória não ter caído, apesar do que aconteceu no último jogo, aquele último lance e tudo aquilo que nós sabemos. Mas o processo de reabilitação do clube dentro do campeonato se deve a esse início de gestão do Agenor e o trabalho do Mancini porque acabaram dando mais esperança e deram uma organização melhor da equipe.
2. Arena Rubro-Negra: Isso mostra que, no geral, dentro do futebol, a gestão de um clube, se ela tem dificuldades na blindagem dos jogadores, atrapalha no campo também?
FS: É impossível dissociar uma coisa da outra. Porque tudo é um sistema. Não tem como analisar uma parte do processo sem analisar o todo. E um clube de futebol é uma empresa. Claro que não tem fins lucrativos para muitos cargos. Envolve paixão e outras coisas lhe são peculiares. Mas não tem como dizer que, se um clube tiver bagunçado na parte externa, isso não vai impactar diretamente no futebol. É praticamente impossível que um clube que esteja avacalhado em termos de gestão tenha sucesso em campo. Até porque isso acaba influenciando nas contratações. Quando o clube não está organizado e contrata um treinador, o treinador vem com algumas ideias, pede a contratação de alguns atletas, os atletas vêm, mas aquele treinador já é interrompido e aí já traz outro treinador, que já pede outros jogadores e aí virou uma casa da mãe joana. A torcida começa a ficar irritada e começa a cobrar da diretoria do clube durante o jogo. E aí o jogador que gosta de ter o apoio do torcedor, acaba sendo deixado de segundo plano porque o jogador quer cobrar da Presidência e com toda razão porque ele quer melhores resultados. E isso acaba impactando sim dentro de campo.
3. Arena Rubro-Negra: Então, o Vitória estava bagunçado naquela época?
FS: Cara, é difícil falar bagunçado. Mas o Vitória não estava nos eixos. Estava em um momento turbulento. O clube estava passando por uma séria dificuldade para se encontrar e talvez tenha sido pelo início do ano ou os maus resultados do Campeonato Brasileiro, eu não sei te falar porque eu cheguei no meio. Mas isso que eu falei, acontecia. O torcedor cobrava do presidente, cobrava do Petkovic na época, porque os resultados de campo não estavam acontecendo. E, muitas vezes, os próprios jogadores não eram os culpados na visão do torcedor. Tinha a imprensa em cima também. Então, tudo isso gerava uma ambiente turbulento.
4. Arena Rubro-Negra: E como é que o Fillipe Soutto se sente hoje no Vitória?
FS: Cara, me sinto bem. Especialmente pelo fato de, no ano passado, nós termos reagido no campeonato, não termos caído. E também por termos iniciado esse ano com uma base de elenco, com um treinador que esteja também em sintonia. Os resultados estão vindo. Nós temos tido êxito nas competições que nós temos disputado. E o futebol é um esporte em que os resultados representam muito, o momento. Então, nós temos que aproveitar que esses resultados estão chegando. Para além dos resultados, nós temos de ver a performance, o desempenho, a evolução e eu tenho visto isso. O grupo tem melhorado de rendimento. Ele tem sido utilizado de uma forma completa. Todos os jogadores têm tido as suas oportunidades. O que, muitas vezes, não aconteceu ano passado até pela demanda, pela impossibilidade de se testar. Então, eu acho que isso gera confiança, alegria para vir trabalhar, para colocar em prática tudo o que a gente sabe. Então, eu me sinto bem aqui no Vitória.
5. Arena Rubro-Negra: Em algumas partidas, você foi utilizado na lateral-esquerda pelo treinador Vagner Mancini. Você se sente confortável sendo improvisado nessa posição?
FS: Confortável não é a palavra. Mas, eu me sinto útil porque não é minha posição de origem. Nosso elenco hoje tem três laterais de ofício, mas eu estou à disposição. Muitas vezes eu não vou me dar ao luxo de escolher onde eu vou estar. Eu quero estar sempre entre os jogadores que jogam. Todo o jogador quer jogar. Mas a minha posição de origem é ser meio-campo. Mais avançado ou mais recuado, isso depende da opção do treinador.
6. Arena Rubro-Negra: Nós falamos recentemente com o Walisson Maia, que disse que a rivalidade Ba-Vi é maior que o Atletiba. E o clássico mineiro?
FS: Sinceramente, eu achava que era mais parecido. Talvez seja pelos acontecimentos dos últimos BaVis, mas o clima ficou um pouquinho mais pesado. A questão do extracampo, da expectativa do jogo aqui hoje é mais pesada do que num Atlético e Cruzeiro. Até pelo que aconteceu no último jogo. Agora mais do que nunca, ninguém quer perder para o rival. Ninguém nunca quer perder. Mas, nesse caso, a situação ficou um pouquinho mais acirrada. Mas, eu já vivi muitos clássicos pelo Brasil e o Atlético e Cruzeiro é um clássico também muito bem disputado, com uma história muito grande. Mas hoje, honestamente, eu respiro BaVi, então, eu acredito que é o mais importante.
7. Arena Rubro-Negra: Mesmo já tendo jogado 26 jogos pelo Leão, o Fillipe Souto ainda não é titular da equipe do Mancini. O que falta para chegar lá?
FS: Por um lado, eu me sinto instigado a sempre melhorar. Porque, ás vezes, quando você é considerado titular absoluto de um time, você acaba naturalmente se acomodando nessa situação e isso é humano. Sendo jogador ou em qualquer profissão. Então, o fato de eu não ser, muitas vezes, a preferência do treinador ou titular absoluto, ídolo da torcida, referência da imprensa, tudo isso pra mim é bom porque me força a querer conquistar mais e mais o meu espaço, agradar mais e mais as pessoas que me assistem e torcem por mim e também é bom porque faz ver que nosso time é um time que está se encorpando. Tem muitos jogadores na minha posição, tem um ídolo da torcida que está voltando e que é meu amigo particular, então eu acho que para mim é bom inclusive para a sequência da minha carreira.
8. Arena Rubro-Negra: Uillian Correia, Willian Farias, Rodrigo Andrade, José Welisson, Lucas Marques e Ramon. As opções para a posição que atua são muitas. Se fosse para escolher, quem seria seu companheiro na posição de volante. Seria o Fillipe Souto e…
FS: Mais 10 (risos). Eu tive oportunidade de jogar praticamente com todos eles. Acho que só o Farias que não, mas já treinamos várias vezes juntos e contra também. É um profissional que dispensa comentários, até pela identificação que ele tem com o clube. Então, isso aí é indiferente.
9. Arena Rubro-Negra:A falta de gols também te incomoda? Na sua ficha, temos de que você saber bater bem faltas. Será que está faltando esse gol de falta para a estrela do Fillipe brilhar?
FS: Essa é uma coisa que eu me cobro demais. Converso muito com minha esposa, meus pais, meu empresário porque é algo que me incomoda embora eu tenha um alto índice de assistências aqui. Principalmente no ano passado e em jogos decisivos e isso me alegrou porque é uma característica minha também. Já sofri pênaltis, dei assistências mas a bola ainda não entrou. Só que eu tenho que encarar isso como algo que me faça buscar melhorar. Não que seja uma cobrança que me faça me travar ou vá me deixar tão chateado ou nervoso que vá me impedir de melhorar mesmo. Mas é algo que eu quero muito fazer porque o gol é o momento mágico do futebol e, como volante, acaba sendo um diferencial e para o time em si também porque tira um pouco da carga do atacante, do meia. Ter um volante que faz gol. Então, eu sei que eu tenho condições de ser esse jogador.
10. Arena Rubro-Negra: Você fez um excelente jogo contra o Bragantino. Mas acabou não dando sequência nos jogos seguintes do Vitória. Isso atrapalha o seu rendimento?
FS: Eu joguei os dois jogos, Bragantino e Bahia de Feira. E, depois, como a ideia era poupar e colocar outros jogadores para jogar, ele preferiu poupar praticamente o time todo titular contra o Ferroviário (CE). Alguns viajaram, mas nem jogaram. Isso é uma estratégia inteligente do Mancini porque fortalece o espírito de grupo. Desde que eu cheguei aqui, nós necessitamos muito da força do grupo porque foi assim que nós conquistamos vitórias importantes e eu acho que só assim nós vamos conquistar boas coisas esse ano também.