As figuras ocultas da exemplar história do Barradão escondem muitas histórias. Por trás delas, as pessoas que fizeram acontencer o sonho do estádio rubro-negro. Dentre elas, está a figura de Lev Smarcevski, descrito por Jorge Amado no livro ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ como “dono de inesgostável repertório, bom narrador e carregador de um sobrenome impronunciável”, o arquiteto soviético foi quem deu ao Barradão um jeito diferente dos demais estádios.
Lev Smarcevski nasceu em Mogilev-Podolskiy na então República Socialista Soviética da Ucrânia. Tratou de cruzar os mares para chegar no Brasil e formar-se baiano. Foi aos três anos de idade que sua família mudou-se para o Brasil, porém para a então capital federal do Rio de Janeiro. Lá, Lev fez cursos de arquitetura e chegou a jogar nas equipes inferiores do Fluminense. Com a Intentona Comunista tendo sido derrotada no Brasil, seu pai que era comunista acabou sendo deportado. Assim, ele ficou com a sua mãe no Rio até meados de 1942 quando mudou-se para a Bahia. Já na Boa Terra defendeu o Vitória como goleiro, mas ainda na época amadora do clube.
Porém, a maior atuação do ucraniano pelo Leão da Barra não foi debaixo das traves defendendo as bolas adversárias. Décadas mais tarde, nos anos 80 coube a Lev o projeto do que seria o estádio Manoel Barradas. Junto ao filho Ivan Smarcevski, Lev assinou um projeto que tinha como previsto para o Barradão uma capacidade de 80 mil pessoas. Como conta o livro Barradão – Alegria, Emoção e Vitória: “Diferentemente do que acabou se concretizando, o projeto previa o fechamento do lado hoje ocupado pelos vestiários e um anel superior. Também, uma entrada principal do público através da área onde está situado o CT Manoel Pontes Tanajura. O estilo dos estádios russos, com as quinas quadradas, no entanto, foi mantido.”; Soviético que era, Lev trouxe a arquitetura retangular dos estádios russos para o Barradão, diferenciando a Toca do Leão da maioria das praças esportivas brasileiras, que foram construída sob uma forma de elipse. O arquiteto projetou o estádio leonino dessa forma para uma primeira etapa e pretendia aumentá-lo, criando assim um super-estádio naquela área, projeto esse que não se realizou.
Nesta época em que conduziu a arquitetura do Manoel Barradas, Lev ainda foi o diretor de patrimônio do Vitória. Como conta seu filho Ivan: “O dinheiro que entrava para o patrimônio, ele segurava, não deixava que fosse utilizado com o futebol” (Barradão – Alegria, Emoção e Vitória). Com Lev concluiu-se a terraplanagem e as obras do Barradão por volta de 1985, ano dos primeiros treinos no estádio. O primeiro da Seleção Argentina antes de um amistoso contra a Seleção Brasileira. Já o primeiro treino rubro-negro no próprio estádio aconteceu em 19 de julho, com o comparecimento do próprio Lev, que também compareceria ao primeiro jogo do estádio, o amistoso em 1 a 1 com o Santos.
O arquiteto soviético faleceu em em Salvador em 2004 já com oito décadas completas.