Agora, com a cabeça menos quente depois das regulamentares 48 horas, lembrei-me do seguinte. No início dos anos 90, quando éramos reis, a estrela do nosso exército brancaleone, Alex Alves, tinha como grande sonho comprar uma geladeira para a senhora sua mãe. Sim, isso mesmo. Estávamos com nosso desejo de potência ali, naquela esquina, onde a pretensão de conquistar o mundo roça com as prestações das Casas Bahia.
E a Parmalat não chorou sobre o leite derramado. Mas este rouco e emocional locutor não conseguiu impedir que cansadas retinas ficassem rasas d’água.
Com choros, ranger de dentes e algumas doses de alegrias, vivemos e sobrevivemos com a convicção, uma das poucas que tenho, de que o Esporte Clube Vitória é, literal e em todas as acepções, minha cachaça. Igual à canjebrina, o Rubro-Negro me corrói e me conserva, por mais paradoxal que possa parecer. E é.
Mas, derivo. O que queria dizer é que, atualmente, Neilton é o representante do Zeitgeist do Vitória. Ahn? O que? Não sabe o significado? Dê seus pulos, criatura. Se vire e se matricule no ICBA ou então no Barroco na Bahia, naquela casa de lindos azulejos azuis onde morou Simões Filho, no brioso bairro da Saúde.
Sim, mas antes de vocês me interromperem, eu dizia que o atual camisa 10 encarna o Zeitgeist Rubro-negro. Ao tempo em que pode ser nossa salvação é nossa perdição e vice-versa. Nenhum jogador do elenco é tão instável para o bem e para o mal, quase que concomitantemente. O sujeito é o único no time que não tem receio de desmoralizar o mais sisudo zagueiro das grandezas do Ludopédio de Pindorama e de se desmoralizar, errando o passe mais bisonho possível. É inconsequente ao ponto de entortar o adversário com a mesma displicência com que se equivoca diante de um gol feito.
Na semana passada mesmo, lá no Rio de janeiro, eu vi o indigitado realizando atrevimentos digno dos craques de antanho. E deixou os flamenguistas, jogadores e torcedores, atordoados. Agora, os atordoados somos nosotros. Contra o Avaí, ele conseguiu o que parecia impossível. Perdeu pênalti, gol de cara a cara com o goleiro, de lado, de cima, de baixo, de revetrés, da porra toda.
É isso. O sujeito parece ser nossa esperança e ruína. É paradoxal como a insana derrota do Vitória para o feio time da linda & casta Florianópolis. Então, torçamos para que ele, desequilibrando, nos leve a algum equilíbrio daqui por diante.
Caso contrário, vou ter que comprar mais gelo para colocar em meu maltratado e (des) equilibrado juízo.