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O Vitória não tem donos

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Tem sido muito penoso ficar sabendo das notícias do Vitória. Todo dia uma polêmica, uma matéria bombástica, um descuido institucional. Dia desses o nosso Presidente, no afã de defender suas políticas pouco republicanas, por assim dizer, disparou que o Vitória é uma instituição privada e por isso não precisa ser transparente. Não é bem assim. Na hora de cobrar associação, o homem é ligeiro, mas é para pagar caladinho sem questionar e sem nem saber como o dinheiro está sendo gasto? Amado… Os poderosos do clube precisam internalizar que estão num cargo importante, mas não são donos do Vitória.

Agora foi o Conselho.

Com AGE marcada para este domingo (01) por outra AGE (a de março), nesta segunda-feira houve a importantíssima reunião que precede a Assembléia. Embora já esteja devidamente convocada e já haja anteprojeto pronto (pois só houve adiamento da votação da Reforma do Estatuto), neste último encontro os Conselheiros debateriam as suas próprias emendas e poderiam alterar o texto final a ser votado no domingo. Foi assim que aconteceu na última pré-AGE, ainda com os Conselheiros da gestão anterior.

E o que aconteceu? O pessoal simplesmente não foi à reunião. Sempre lotada, desta vez apenas 55 membros se fizeram presentes. Pouquíssimos representantes da chapa majoritária, que até então sempre compareceu em peso.

Ué?

Se houvesse uma votação importante? Abririam mão da vantagem de ser maioria que a democracia lhes concedeu? Estranhíssimo, não?

O fato é que não haveria votação alguma. Até o mais cético desconfiaria da coincidência desta ausência coletiva pela certeza de que não ir a esta reunião não daria em nada. Ao declarar que, em razão da falta de quórum, a AGE não aconteceria, um Conselheiro levantou questão de ordem e argumentou que a Assembléia Geral de domingo não poderia e nem precisaria ser desmarcada (e seria acompanhado pela maioria, pelo que se apurou). A Mesa Diretora simplesmente não abriu tal entendimento para votação. Parece que não haveria risco algum em faltar mesmo. Pelo contrário: a falta generalizada tinha uma razão.

O caminho é comprido

O argumento do Presidente do Conselho é que o rito precisa ser seguido e o caminho até a Reforma deste Estatuto, que já era longo, parece que ficou ainda maior.

No Direito tem uma máxima que diz que “ninguém pode se beneficiar de sua própria torpeza”. O rito é para dar garantias à democracia e não para atentar contra ela, caras pálidas. Quer dizer, se essa reunião nunca for remarcada ou houver combinação para que o quórum nunca seja atingido (a chapa majoritária tem tanta gente que pode fazer isso) então nunca haverá AGE, marcada por cerca de quinhentos sócios no exercício de sua soberania? Complicado, né? Não tem como não se perguntar: por que o grupo que comanda o Vitória hoje não quer que a Reforma do Estatuto vá adiante?

É uma vergonha que Conselheiros democraticamente eleitos coloquem empecilhos numa decisão dos sócios, os mesmos que os elegeram. Tenho certeza que teve gente se arrependendo do voto que deu. Parece que não apenas membros do Conselho Diretor, mas também do Deliberativo, acham que suas vontades podem se sobrepor às da Assembléia Geral de Sócios, o órgão máximo do Vitória. Não é porque foram eleitos que são mais importantes que os associados que neles votaram.

Mas, cedo ou tarde, a vontade da Plenária será lei e essa tentativa de manobra não será esquecida. Embora muitas vezes quem está no poder ache que somos burros, não o somos. Eventualmente discordamos aqui ou ali, mas nós, torcedores comuns, temos apenas uma vontade, desinteressada: o melhor para nosso clube, não importa quem esteja no poder. Fomos nós que colocamos vocês aí, não esqueçam nunca. O Vitória não tem donos, mas, se tivesse, seríamos nós!

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