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Os anos loucos: O futebol do Vitória na década de 20

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Quem assistiu o filme Meia Noite em Paris, do cineasta Woody Allen, pode ver com clareza todo o charme e cultura que o seu personagem principal, Gil, vivenciou ao fazer uma extraordinária viagem para os anos 20 franceses. Mas não foi diante do Arco do Triunfo, nem tampouco em volta do Rio Sena, que a bola rolou ainda mais redonda naquela época, e sim na Bahia de nomes como Popó e Dois Lados, e sob o solo verde do Estádio Arthur Moraes, o popular Campo da Graça.

Se outrora o futebol baiano, tinha consigo uma aspecto excludente, a década de 1920 trouxe consigo a abertura e o reencontro das equipes com o esporte. Nas palavras do historiador Henrique Sena, era basicamente a década de transição do racismo científico no futebol baiano para o mito de democracia racial, mudando a lógica esportiva do esporte bretão de algo fechado para algo aberto aos variados públicos. Não é exagero destacar por isso, o esforço dos clubes mais populares da cidade, em promover essa integração por meio de um estatuto diferente do que era praticado na liga dos cariocas, onde a segregação racial na época, ainda era o norte dos clubes.

No entanto, a retomada futebolística perpassa também pelas mais variadas condicionantes. E em uma delas, surge o aspecto de proeminência de nada menos que o Esporte Clube Vitória. Afastado oficialmente do futebol desde 1912, com a dissolução de sua liga, o Rubro-Negro que vinha jogando esporadicamente durante os anos 10, retorna ao Campeonato Baiano em 1920, quando é inaugurado o Campo da Graça. O estádio, que se tornou a principal praça esportiva soteropolitana até a década de 1950, foi construído com esforços financeiros do Vitória junto com a Associação Atlética e o Bahiano de Tênis.

Era ali, naquele território, que pela primeira vez comportaram-se as multidões do futebol baiano. Vestidos de trajes finos da época e fitas rubro-negras nos chapéus, os torcedores do Decano voltaram ver o Vitória jogar uma partida oficial no empate em 0 a 0 com o Yankee em junho de 1920, ainda realizado no campo do Rio Vermelho.. O futebol voltava a fazer parte da vida vermelha e preta, mesmo sem importância maior. No entanto, é a partir dali que o Leão começa a formar seus escretes com jogadores negros, diferentemente do que era visto nos anos anteriores, quando a prática por parte do clube, ainda era restrita aos figurões da elite.

O pontapé na abertura do clube para camadas mais populares da bola, teve resultado em seu primeiro empate com o Fluminense-RJ, quando Popó (emprestado pelo São Bento), principal jogador baiano da época, marcou o gol rubro-negro de pênalti. Em 1926, o Vitória ainda viria a ter o seu lampejo futebolístico da década, com a conquista do seu primeiro Torneio Início. Os anos 20 rubro-negros, ainda são enigmáticos e quase que pulverizados. Em 1930, o clube volta novamente a não disputar um campeonato, no entanto, a tradição futebolística dos seus anos loucos, não foi embora nunca mais.


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