Início Colunas Memórias do Leão Popó… os dois jogos rubro-negros do Craque do Povo

Popó… os dois jogos rubro-negros do Craque do Povo

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Popó com a camisa da Seleção Bahiana na década de 30. (Acervo de Galdino Silva)

Há anos raiou no céu soteropolitano uma nova estrela. Num 17 de fevereiro como esse, em 1955, falecia aquele que até hoje é lembrado como maior jogador do futebol baiano na primeira metade do século XX. Popó, incontestável artilheiro de clubes como Ypiranga e Botafogo-BA, ídolo de nomes memoráveis da Bahia como Jorge Amado e Santa Dulce, e que chegou a fazer dois jogos com a camisa do Vitória entre as décadas de 20 e 30.

Apolinário Santana nasceu em Salvador no dia 9 de fevereiro de 1902. Sua carreira no futebol começou de forma prematura. Aos 14 anos já jogava bola nos campos, aos 16 passou a defender clubes do estado jogando primeiro pelo Sul América, depois Fluminense de Feira, Internacional-BA e a partir de 1921, o São Bento, de onde foi emprestado para o Vitória para disputar um jogo. Sua condição de atleta negro, o diferenciava ainda de muitos jogadores com os quais convivia, numa época do futebol baiano ainda marcada pelo elitismo e racismo presente em alguns clubes do estado. O Vitória que contou com a inclusão de negros em seu elenco por volta do início dos anos 20 ganhou para um reforço de peso para jogar um amistoso.

Pois bem, em abril de 1923, a equipe do Fluminense chegava a Bahia para uma excursão de seis jogos. Após vencer a AAB por 3 a 1, os cariocas tinham o Vitória como próximo adversário. Numa década em que o Decano pouco valorizava o futebol, era comum tomar de empréstimo atletas pertencentes a outras agremiações, mesmo que para um jogo somente. Desta forma, Popó jogou o prélio pelo Vitória tendo sido emprestado pelo São Bento. Em 05 de abril daquele ano, uma quinta-feira no Campo da Graça, foi o próprio craque quem abriu o marcador para o Leão numa cobrança de pênalti. O Fluminense empatou o jogo com um gol do atacante Coelho e a partida terminou em 1 a 1. Dez dias depois, jogando por um combinado contra os cariocas novamente, Popó marcou os cinco da vitória baiana em 5 a 4 sobre o Tricolor e os jornais proclamavam: Popó 5 x 4 Fluminense.

A outra passagem do Craque do Povo com a camisa do Vitória aconteceria somente em 1934. Após a Seleção Bahiana conquistar o feito inédito de Campeã Brasileira de Seleções, em 11 de março diante da Seleção Paulista, estes últimos ficaram em Salvador para realizar uma série de amistosos. Depois dos jogos contra Bahia e Ypiranga, os paulistas vieram ao encontro do Vitória no dia 20 de março. Popó que fizera parte do selecionado baiano, jogou o amistoso pelo rubro-negro mais uma vez como emprestado. No Campo da Graça, para um pequeno público de 335 pessoas, Raul Coringa e Popó (de pênalti novamente) marcaram os tentos da vitória vermelho e preta em 2 a 1. Os paulistas ofereceram até uma taça ao Leão por conta do triunfo.

A carreira primorosa de Popó terminou em 1937 e seu fim melancólico nos anos 50, quando encontrava-se pedindo esmolas no entorno da Fonte Nova, não ofuscou a memória do seu bom futebol. Até os dias de hoje é marcado como sendo o principal ídolo ypiranguense e suas alcunhas de ‘Craque do Povo’ e ‘O Terrível’ ainda são marcas da história de um futebol ainda não pulverizado.

Jogadores?!

Nem se conta!

Mas foi o rei, isto é sabido,

Apolinário Santana

Popó seu apelido

Botafogo e Ypiranga

Não brigava ou tinha zanga

Era um Deus enaltecido 

(Poema de Edson Bulos)


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