Desde quando se instaurou no clube uma verdadeira confusão entre opiniões e a politização irresponsável da pauta da Assembleia Geral Extraordinária, já marcada para o dia 31 de março deste ano, passei a analisar o escopo normativo para o novo estatuto do clube, proposto pela Comissão de Reforma do atual Conselho Deliberativo do Esporte Clube Vitória.
Inicialmente, pontuo uma preocupação tempestiva com o momento institucional e de crise pela qual passa o nosso clube. A pertinência de aprovação, dentro de um mesmo mandato, de duas minutas de estatuto, mesmo existindo num segundo ponto de pauta, matéria que versa, exatamente, sobre a abreviação dos próprios mandatos dos atuais “Poderes” dos nossos representantes.
Não estou aqui levantando a bandeira de que seja impossível rediscutir algo, ou estabelecer uma opinião autoritária de que devam ser rechaçadas qualquer proposta de novo estatuto.
Daí, questiono ao sócio-torcedor em primeiro lugar: é pertinente e adequado, nesse cenário de crise, discutir uma nova minuta de estatuto, no momento que se exige uma transição de gestão em todas as esferas de Poder do Clube?
Assim, considerando que você, inadvertidamente, responda que sim, passarei então a analisar o conteúdo do texto da norma proposta e os anacronismos constantes no projeto que se pretende submeter ao sócio-torcedor no próximo domingo.
O primeiro anacronismo reside nas disposições previstas no título I ao título II, no quais a Comissão resolve se apropriar do conceito de “crise da terceira idade” de Elliott Jaques, pois, substancialmente, não se propõe a alterar o estatuto em vigor, prevendo regramentos já incorporados a cultura social do clube e/ou que poderiam ser facilmente delegados a competência do atual Conselho Diretor.
Por essa razão me aterei apenas e tão-somente aos pontos seguintes e que reputo mais relevantes, especialmente: a estrutura de governança proposta.
A estrutura de governança proposta cria uma estrutura de burocracia que vai na contramão de outras existentes no futebol brasileiro, e até mesmo do cenário internacional. Nesse conflito, li, recentemente, um texto no qual um autor desconhecido asseverava uma curiosa frase: “quer deixar de resolver um problema, crie uma comissão”.
O mundo do futebol e suas discussões são dinâmicas e ao me deparar com a proposta atual tentei, como muito esforço, imprimir uma percepção isenta a partir de modelos de governança corporativas existentes no futebol brasileiro.
Resultado: me deparo com o instituto da moção de desconfiança. Sabe o que isso me lembrou? Certa feita eu havia praticado um ato de desordem na minha turma de colegial, e a professora pediu que um representante da turma vociferasse uma espécie de “nota de repúdio”, na qual eu e meus colegas deveriam se envergonhar do ato errôneo que praticamos.
No Vitória foi dado início, então, a proposta do chamado bullying estatutário, que se constitui, simplesmente, na aprovação de uma “nota de desconfiança” que ocupará a pauta de reunião de Conselho, visando tornar pública a insatisfação colegiada quanto aos atos de gestão praticados pelo agora, Conselho Gestor.
Como todo esforço de análise, entendi que a partir desse momento apenas ratifiquei a percepção que tenho acerca da pauta proposta nesta AGE.
Precisamos amadurecer e muito o debate acerca do que queremos para o clube, e termos a exata responsabilidade do que estamos propondo num contexto de exceção (estado de crise e transição de governança).
Mais uma vez, reforço a tese de que tudo pode ser proposto, discutido e amadurecido. Apenas não consigo enxergar ambiente de tranquilidade institucional para isso.
E a partir desse sentimento que, se pudesse sugerir ao atual Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, o aconselharia a não aprovar, especificamente nessa assembleia, esta ou qualquer outra proposta de estatuto, e apenas deixar consignado um prazo limite para que os próximos Conselhos a serem constituídos, apresentem a Assembleia uma proposta mais próxima do contexto associativo em que o Esporte Clube Vitória se encontra, preservando-se a legitimidade e maturidade de um Conselho Proporcional, cujas eleições já se avizinham.
Por fim, ainda se faz necessário asseverar: precisamos não confundir alhos com bugalhos.
Saudações Rubro-Negras.
Texto: Bruno Torres
Advogado e torcedor do Vitória
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