Início Artigos Fala, rubro-negro Atlético Mineiro 2 x 2 Vitória

Atlético Mineiro 2 x 2 Vitória

179
Foto: Victor Ferreira/ EC Vitória

Fui a um bar assistir ao jogo do rubronegro baiano. Um desses tantos bares em que os torcedores consomem para justificar o uso da telas esportivas enquanto, em função destas, se vedem bebidas aos lotes.
Irmão e filho, todos devidamente uniformizados.
A expectativa era baixa, mas apenas até o dia anterior. Com a aproximação da peleja futebolística, ocorreu o que sempre ocorre: um insuspeito sentimento de que o Vitória faria uma boa apresentação nos tomou. Falávamos, inclusive, qual posição seria alcançada pelo time da capital após o espetáculo que estava por vir.
Encostados numa pilastra, numa dessas mesas mais altas, um casal tricolor tentava passar despercebido, o que naturalmente se fazia impossível pelo grave odor de peixe lauro-freitense.
Apesar das náuseas provocadas, seguimos com a boa etiqueta e fingimos não os ver.
O jogo começou já pelo terceiro (talvez quarto) chopp servido adequadamente aclimatado em copo esbranquiçado pela temperatura.
Outras tantas figuras vestidas de vermelho e preto gritavam e entoavam cantos acreditando que, de alguma forma, os jogadores seriam favorecidos. Sim, o clima era tenso, como deveria ser.
Não tinha terminado o recém chegado chopp quando o adversário vazou as redes arcanjinas, fazendo-nos ver sem acreditar. Às vezes, a realidade é tão intensa e cruel que, vemos e não cremos. É a dissociação cognitiva que só se cura, sabemos, com um generoso gole da acolhedora cerveja.
Da nossa parte, a peleja seguia farta em dedicação, porém escassa em técnica.
Outros dois (ou três) chopps foram devidamente anotados, quando também se anotava um segundo tento do grupo mineiro rapidamente seguido da pausa de recomposição dos jogadores e comissão técnica.
Do lado de cá das telas, cabeças baixas mergulhadas nos celulares que nos serviam de alento enquanto analisávamos a posição na tabela, trocávamos farpas com rivais, além de outras declarações para pessoas mais distantes. A atmosfera era densa. E se intensificava por um sorriso mal contido do torcedor de três cores.
Com novo apito, inexplicavelmente renovam-se as expectativas. “Vai pra cima, Leão!”, alguns gritavam.
Time modificado, desenho tático refeito e novo copo na mesa. Tudo pronto!
Parecia uma eternidade, mas, com menos de duas dezenas de minutos, Matheus, o pequeno, cobrou o esquinado para WL testar sem chance de bloqueio adversário.
Sim, era aquilo que tanto esperávamos, mas o torcedor raiz entende que a comemoração da redução de um placar anteriormente dilatado sugere ainda uma comemoração mais lúcida, às vezes até contida.
Diferente disso, quando, apenas quatro minutos depois, fomos expostos a “luzes, blues e poesia” com a elegância de Alerrandro (nunca critiquei)!

Catarse. Apoteose. Clímax. Mais um chopp.

O terceiro ato teria o diminuto como autor, mas faltaram-lhe pernas para um chute com mais vigor.

Os mineiros, ainda amargurados com a sacola cheia que levaram da Terra Boa, viram cenas de horror e desespero com o levantar da sinalização vermelha. Um chopp adicional.

O desorientado torcedor de Itinga demonstrava angústia e profundo descontentamento. Nós, ao lado oposto, catávamos, gritávamos, provocávamos e a vida era feliz.

Daí à conclusão dos acertos financeiros de praxe, ainda vi um rubronegro, agora o carioca, marcar duas vezes, mas isso fica para outra história.

Rafael Canário
Torcedor do Vitória e advogado

Fala, Rubro-Negro! é uma coluna de opinião que expressa pontos de vista de seus autores, não necessariamente semelhante à opinião deste Arena Rubro-Negra

Quer ter o seu texto publicado no Arena Rubro-Negra? Mande para arenarubro@gmail.com


Deixe sua opinião