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O dia em que o Barradão escureceu diante dos meus olhos

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Ontem, ainda durante o segundo tempo da partida contra o Fluminense de Feira, decidi sentar sozinho na arquibancada do Barradão e por ali fiquei até que o último refletor fosse apagado.

Assisti de perto o segundo gol da equipe feirense, que decretou a eliminação do Vitória no Campeonato Baiano de 2019, um absurdo que é reflexo da bagunça em que o clube está imerso nos últimos anos.

O resultado, em si, embora de enorme impacto à todos os setores do rubro-negro, sobretudo à arquibancada, não foi o principal motivador à ausência de forças para levantar-me da arquibancada no apito final do árbitro do jogo.

Aliás, confesso que pouco consegui ver do jogo a partir do momento em que me isolei no estádio. Minha cabeça estava centrada na provocação do amigo Esaú, um bom amigo que o Vitória me deu.

Pouco antes disso, observei suas mensagens no grupo virtual de torcedores que fazemos parte. “Estou na escada, não consigo descer”. Naquele momento o placar já era desfavorável em 1 x 0. Eu também não havia descido para as arquibancadas. E de cima eu via tudo que não queria ver.

Fui até Esaú e ofereci um abraço. Ele me contou que deixou de sair com a família, que deixou a esposa e a filha pequena em casa para ir ao jogo. “Isso dói… eu só consigo perceber quando estou aqui. E me pergunto o que me faz querer vir pra cá”. O que era para ser um consolo, acabou se tornando uma lamúria.

Da parte de cima ao meu ponto de isolamento, passando pelo abraço no amigo Esaú, vi diversos focos de desentendimentos, discussões, ameaças e tentativas de agressão. Rubro-Negros contra Rubro-Negros. O motivo? Divergências políticas.

O jogo perdeu minha atenção. Apesar dos olhos fixados no gramado eu só conseguia pensar no que transformaram o clube. Lembrei do Cazuza cantando “transformam o país inteiro num puteiro” e facilmente fiz a ligação.

O Vitória é um clube que movimenta milhões de reais por ano. Possui histórico no futebol nacional, sobretudo na formação de atletas. Tem a mídia local à disposição e a torcida de mais de três milhões de pessoas. E tem os dois pés presos em uma aristocracia falida, formada por pessoas ávidas a inflar seus egos, como se estivessem tratando de um clube social do século passado.

O juiz encerrou a partida. Os torcedores, apáticos, cansados, nem se deram ao trabalho de protestar. Apenas levantaram e foram embora. Praticamente desistiram. E embora eu quisesse fazer o mesmo, não tive forças. Com lágrimas nos olhos vi o Barradão escurecer na minha frente sem que nada eu pudesse fazer.

Em casa fui consolado por minha namorada, já preocupada pela minha demora em voltar do jogo. Enquanto a via deixar seus afazeres para me oferecer um colo, pensava em Esaú, na família dele, nos tantos outros torcedores e familiares que têm suas rotinas interferidas pelo andamento de um clube esportivo. Será que algum dirigente pensa nisso?

Esse texto é um desabafo de um torcedor apaixonado que está sendo menosprezado pelo despreparo, pela irresponsabilidade administrativa e pela guerra de egos no Vitória. E que não faz ideia de quando (se que é que) haverá luz no horizonte do Barradão.


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