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Entre a Glória e a Agonia: o semestre do Vitória até aqui

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Foto: Victor Ferreira/ECV

Pouco a se comemorar e muito a torcer. Se o torcedor do Vitória fizer um resumo do que foi o ano até aqui para o clube, sobram desconfianças e multiplicam-se as orações. Os seis primeiros meses do ano pós-título e acesso incontestável encheram de orgulho e fizeram time e torcida viverem uma lua de mel que não se via há muito tempo. De acordo com a plataforma Espião Estatístico, do GE, o Leão da Barra dominou todos os rankings de públicos e rendas da Série B, demonstrando sua superioridade e atestando que o que foi feito até 2023 foi um case de sucesso.

Na virada do ano, o orgulho e a confiança deram lugar a uma série de questionamentos aos responsáveis por gerir o carro-chefe do clube: o futebol. Os primeiros meses pareciam demonstrar que o vigor rubro-negro ficou no passado diante das pífias apresentações no estadual e regional. O trunfo veio nos clássicos. O Vitória demonstrou superioridade nos embates com o poder milionário do rival e, no fim, levantou o troféu com todo o merecimento. Mas a que custo?

Presidente do Vitória, Fábio Mota toma lugar dos jogadores e ergue o troféu de campeão baiano após vencer o torneio estadual (Foto: Victor Ferreira/ECV)

Verdade seja dita, o título baiano mascarou uma janela de contratações que não se mostrou eficaz no objetivo do Vitória de fazer uma Série A com voos maiores. Um time inteiro, entre titulares e reservas, foi contratado pelo departamento de futebol. Ao todo, 24 jogadores reforçam o elenco, mas poucos chamam a atenção ou enchem o torcedor de esperança por uma disputa à altura da elite do campeonato. Nem mesmo Léo Condé, alçado ao posto de ídolo da torcida por comandar o plantel rumo ao feito inédito, se salvou. O mais recente foi tido como uma das maiores contratações da temporada, mas marcou só um gol. Menos de três meses depois, Luiz Adriano já não joga mais pelo rubro-negro, depois de muito marketing e promessas em sua chegada.

Da patota que garantiu o primeiro título nacional do Leão, teve gente que pegou a pista momentos após a chegada do novo treinador. Em meio a indiretas em redes sociais, o desmantelo que fez o time bater na lanterna da Série A colocou em xeque a administração rubro-negra, que chegou a dar a cara a tapa em entrevistas e coletivas.

“Vai criticar o quê? Que eu saí da Série C para a Série B? Vai criticar que assumi uma instituição que devia R$ 330 milhões, que ninguém queria passar nem por perto, que tinha que pagar R$ 35 milhões para jogar, para entrar em campo? Saí da Série C, fui para a Série B. Conseguimos ser campeões da Série B. Conseguimos um Campeonato Baiano quando nenhum de vocês acreditava. Todo mundo dizia que o Bahia era favorito. Voltamos para a Série A. Quais são as críticas?”, disse o presidente Fábio Mota, sentado ao lado do diretor de futebol, Ítalo Rodrigues, logo na chegada de Thiago Carpini, demonstrando um raro momento de força para evitar que o barco ficasse à deriva.

Contestado desde a chegada, Thiago Carpini tem início conturbado, mas muda a cara do Vitória na briga contra o rebaixamento (Foto: Victor Ferreira/ECV)

Bom, a lista do que se pode criticar é extensa: a Copa do Brasil, vista pelos times de todo o país como uma oportunidade de lucro a cada fase, viu o Leão dar adeus mais uma vez. Se antes era motivo de orgulho avançar ou tentar repetir o feito de 2010, agora o torcedor amarga a certeza de que o time morre na praia numa das competições mais importantes da temporada. Se o recorte regional também for levado em conta, aí é motivo de tristeza. Não conseguimos fazer valer a hegemonia nordestina e caímos fora de novo.

Esse recorte do ano até aqui pode parecer desesperador e com falta total de estímulo para seguir o ano, mas se tem algo que o torcedor rubro-negro mostrou de um tempo para cá foi a resiliência de estar ao lado do time até mesmo quando ele não merece. Quem amargou o dissabor de ver, com a bunda colada no cimento, Vitória x Floresta na Série C e tirou, na unha, o clube do fundo do poço do futebol merece mais. Entre glórias momentâneas e agonias que parecem durar cada vez mais, é certeza de que o torcedor não vai abandonar o clube. O momento de sintonia vivido nas campanhas de 2022 e 2023 aparenta penar para se repetir em 2024. A receita do sucesso já foi vista outras vezes. Resta a quem comanda o futebol direções mais claras para contratações, critérios objetivos e contar com nomes que se identifiquem com o clube. É fundamental fazer uma janela de contratações boa para, no mínimo, se manter na primeira divisão.

A gangorra vivida pelo Vitória só vai parar quando esses ideais apontados forem, de fato, levados a sério. O clube e, principalmente, a torcida merecem.

Matheus Simoni
Jornalista e torcedor do Vitória

Fala,  Rubro-Negro! é uma coluna de opinião que expressa pontos de vista de seus autores, não necessariamente semelhante à opinião deste Arena  Rubro-Negra


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