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Wallace reclama de preconceito no apito

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Baiano de Conceição do Coité, o zagueiro Wallace está de volta ao Leão da Barra. Esperançoso, Wallace Reis fala em entrevista exclusiva ao Arena Rubro-Negra sobre o preconceito no futebol, especialmente na arbitragem de jogos entre times nordestinos e equipes de maior tradição nacional. O jogador de 29 anos relembra também com carinho o time que ficou em segundo lugar da Copa do Brasil de 2010 e tenta trazer para o Vitória atual a afinidade que havia naquela equipe. “Eu também sou torcedor do Vitória e fico “p da vida” com os resultados. Mas, peço o apoio do torcedor porque só com ele sairemos dessa crise”.

Arena Rubro-Negra: Um bom baiano a casa torna. Wallace, qual o sentimento de retornar ao clube que te deu visibilidade nacional após sete anos fora?

Wallace: Estou muito feliz, motivado e esperançoso de tirar o Vitória dessa situação. Porque são mais de 12 anos que tenho no Vitória e pude viver diversos momentos marcantes da minha vida no clube. Agora, o que eu lamento é ter voltado nessa situação. O time não consegue se encontrar, temos muitas dificuldades. E você vê um lugar que é quase um santuário, onde as pessoas vinham com respeito jogar no Barradão, e ver o que acontece hoje, é muito difícil. Então, nós temos que retomar este costume dos times sempre virem com respeito para jogar contra o Vitória.

Arena Rubro-Negra: Viáfara, Nino Paraíba, Wallace e Anderson Martins, Egídio. Neto Coruja, Bida, Elkeson e Ramon Menezes. Júnior e Schwenk. Esta foi a equipe que ficou em segundo lugar na Copa do Brasil de 2010, no último ano em que esteve no Vitória. O que é que você mais se lembra dessa equipe?

Wallace: Falando de forma racional, nós fomos os campeões daquela Copa do Brasil. Porque, realmente, era muito difícil bater a equipe do Santos. O Vitória, infelizmente, tem dado esse azar. Sempre que chega numa final, pega as melhores equipes do país, como foi o caso de 1993 pelo Campeonato Brasileiro contra o Palmeiras. Mas, moralmente, me considero campeão. Foram momentos marcantes. Jogos que todo mundo sabia que nosso time era imbatível em casa. Foram quase 30 jogos sem perder no Barradão. Quem vinha, nossa equipe jogava de igual para igual. Eu lembro que nós tínhamos um vínculo de amizade dentro de campo. Era notório. E isso se transformava em resultado. Futebol, cada dia que passa, se torna muito individual. O atleta se preocupa muito mais consigo. E isso causa esse distanciamento dentro do esporte coletivo. Essa afinidade é o que talvez mais tenha me marcado daquela equipe. Espero que esse grupo entenda isso também porque é necessário para vencer.

Arena Rubro-Negra: Agora, os dias atuais. Você reestreou com a camisa rubro-negra na derrota para o Palmeiras. Na ocasião, você foi capitão da equipe. A braçadeira revela uma confiança do Vitória no seu trabalho? O que você pode dizer do Gallo, que acaba de sair da equipe?

Wallace: O Gallo é um treinador competente. Mas nós estamos pagando o preço dos erros que cometemos ao longo da temporada. Porque no futebol, nós não temos a fórmula do sucesso, mas do insucesso, todos temos. Uma questão que nós temos que definir de forma padronizada é a questão do nosso mando de campo. Hoje, se, desses oito jogos, tivéssemos ganho quatro, nós estaríamos no G-4. Uma grande diferença. Em relação a ser capitão, eu fui capitão em quase todas as equipes por onde eu passei, desde a base do Vitória. E aí, acaba que o treinador confia. Acha que eu tenho esse perfil.

Arena Rubro-Negra: E aquele pênalti? Nas imagens, é claro que não houve nada e você, corajoso, afirmou na TV que isso sempre ocorre com time nordestino. É visível essa diferença? Porque você já passou por vários times do Sul: Corinthians, Flamengo, Grêmio.

Wallace: Há uma xenofobia enrustida. Primeiro que os clubes do Nordeste não se posicionam como devem se posicionar. Não é de agora que eu acompanho Bahia, Vitória, Sport, Santa Cruz, Náutico e nós podemos ver que as arbitragens se “emocionam” quando veem algumas camisas que têm mais tradição em âmbito nacional. E as decisões acabam afetando sim. Pênalti não foi. Foi bem mandraque. Mas, independente do pênalti, o que eu posso compreender é que se fosse contra o Flamengo, Grêmio, Palmeiras, no outro dia, o juiz ia pegar um mês de reciclagem. Mas no Vitória, sequer teve alarde. Os meios de comunicação que, normalmente, mostrariam aquilo de forma repetida e massacrariam a arbitragem, não fazem isso quando é com o Vitória. Foi só um pênalti mal marcado. Mas eu acredito muito que essa denominação de clube grande, pequeno, médio, é muito o clube que se permite. O Vitória é muito grande para se permitir ser usurpado contra o Palmeiras. Durante todo o jogo, não somente o pênalti. Contra o Vasco, a arbitragem também inverteu faltas. Quando a bola era para o Vitória, se dava para o Vasco. Então, tudo isso mostra que o clube tem de se posicionar. Da forma como ele é. Grande. A grandeza está na cabeça de cada um. Os clubes têm de passar desse estágio de que, por ser nordestinos, são coitadinhos. Realmente, somos nordestinos. Eu mesmo era tratado de uma forma lá, mas quando sabiam que eu era baiano, ficavam até revoltados pelo fato de eu ter saído do Sertão da Bahia e ter sido capitão do Flamengo. Ficavam impressionados por eu não ser um jogador burro, por ter um certo conhecimento. Porque, para eles, nós, nordestinos, não podemos vencer. Tem esse preconceito incubado. Os clubes têm de se conscientizar disso o quanto antes. Porque o campeonato está ficando com a disparidade muito grande no conceito da arbitragem. Eu não quero que ninguém me ajude, mas não quero que ninguém me atrapalhe.

Arena Rubro-Negra: Wallace, não podemos deixar de falar também dos péssimos resultados. O Vitória hoje está no Z-4. Tomou 11 gols em três jogos e é uma das defesas mais vazadas do campeonato. Qual é a causa e o que fazer para resolver tantos problemas?

Wallace: Essa questão das mudanças de treinador gera desconforto para o jogador, que está acostumado com um perfil e quando se muda, demora um tempo para se acostumar com a metodologia. Outra coisa é que, com as mudanças, a equipe acaba não jogando regularmente junto por muito tempo. Também porque o Vitória vem de um processo eleitoral recente. E aí, você tem de entender rápido que aquela gestão que estava a frente do clube, hoje já não se encontra mais. Não é a mesma gestão que contratou as pessoas que estão aqui. Então, leva um tempo para você unificar todas essas questões para que seu time engrene.

Arena Rubro-Negra: E essas mudanças externas afetam o trabalho em campo?

Wallace: Em qualquer time de futebol. É incrível como todo mundo deixa para resolver o problema quando ele já está grande. E futebol teria que ser o inverso. Você tem de resolver pequenas feridas para não se tornar chagas. E o que aconteceu foi isso. Durante a temporada, os pequenos problemas foram se tornando macro. E todas essas dificuldades refletem sim dentro de campo.

Arena Rubro-Negra: Já saíram boatos nas rádios de que o grupo não gosta de Petkovic, que ele manda e desmanda no Vitória e até desrespeita jogadores. É verdade?

Wallace: Eu não posso falar pelos outros. Mas, por mim, eu tenho um bom relacionamento. Nós conversamos bastante. O que acontece é que o futebol é feito de factoides. A imprensa fica plantando coisas. Infelizmente, tem algumas pessoas que lá estão que são desqualificadas. É natural. Tem jogador que também é desqualificado e está jogando.

Arena Rubro-Negra: Qual o recado que você pode dar à torcida rubro-negra. É possível sair dessa zona incômoda?

Wallace: É mais que possível. Eu conheço o torcedor do Vitória. Eu sei que ele é impaciente e exigente. É natural, principalmente para um clube que costuma revelar muito. O Vitória, nos últimos anos, tem perdido essa característica de jogar com quatro ou cinco da base e outros jogadores para dar suporte a esses. Mas o recado que quero dar ao torcedor é que tenham um pouco de paciência nesse momento, independente de quem vista a camisa, se você tem ou não empatia por ele, tente apoiar esses atletas porque tem cara que não sabe lidar com pressão. E o torcedor precisa ser esse 12º jogador, que jogue junto com a equipe. Entendo a impaciência porque o torcedor está acostumado a vir no Barradão para simplesmente fazer festa, já que o resultado era praticamente garantido. Eu também sou torcedor do Vitória e quando estava de fora e via os resultados, ficava “p da vida”. Mas eu peço o apoio do torcedor porque só com ele sairemos dessa crise.


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