No último sábado (16), enquanto todos estavam concentrados na Copa do Mundo na Rússia, acontecia no Barradão a reunião do Conselho Deliberativo, onde a pauta era a votação sobre aprovação ou reprovação das contas do exercício de 2017, com base no relatório elaborado pelo Conselho Fiscal.
A recomendação feita pelo Fiscal foi de reprovação das contas, que foi seguido pelos conselheiros presentes na reunião, mas com uma ressalva: o descompasso contábil ocorreu no primeiro semestre, quando houve um estouro do orçamento enquanto Ivã de Almeida era o presidente, sem consulta aos conselhos Fiscal e Deliberativo, sendo a principal causa da reprovação das contas. A ressalva ocorre porque não há como individualizar as diferentes gestões de 2017 (Ivã de Almeida, Agenor Gordilho e 15 dias de Ricardo David), por isso todo o ano foi reprovado.
O que foi esse descompasso contábil? Em 2017, foi aprovado um orçamento de R$27 milhões para serem gastos na folha de pagamento no futebol, porém foram gastos 40 milhões (entre salários, comissões e rescisões) no primeiro semestre. Pelo Estatuto do Vitória, para ultrapassar o orçamento, precisa de autorização do Conselho Deliberativo (art. 46, para suplementação de verba), algo que não ocorreu e isso foi considerado grave e se tornou o principal motivo para reprovar as contas.
Em contato exclusivo com a reportagem do Arena Rubro-Negra, o presidente do Conselho Deliberativo, Paulo Catharino Filho, explicou o que poderia e o que poderá ocorrer:
“Se a gente estive em uma gestão normal, ou seja, se o presidente ainda estivesse no cargo (Ivã de Almeida), poderia desencadear um procedimento autônomo de destituição do presidente. Como ele não está mais e Ricardo David é que prosseguiu, então essa hipótese já está descartada pois não tem mais o objeto. Se tivesse um procedimento autônomo, onde estivesse comprovado que esse déficit fosse fruto de má-fé ou enriquecimento ilícito por parte de Ivã, poderíamos ter um procedimento de responsabilização cível e criminal, onde o Vitória procuraria reparação do prejuízo, mas o relatório do Conselho Fiscal não apontou nenhum indício disso, nem apurar isso agora. Além da imagem do Vitória estar ruim, o que pode gerar é uma inelegibilidade de Ivã por sete anos (Art. 19 do Estatuto).”.
“Essa pauta está esgotada no Conselho Deliberativo, a menos que apareça esses requerimentos, que possa responsabilizar criminalmente, que aí criará outro processo, com provas, um fator novo, denúncia.”, completou Paulo Catharino.
Vale lembrar que os poucos mais de R$50 milhões que foram tratados como um “rombo”, trata-se de um déficit contábil de todo o Vitória ao longo dos anos. Pouco mais de R$3 milhões foram causados pelo primeiro semestre de 2017, o restante (cerca de R$47 milhões) são provenientes de custos dos anos anteriores (sendo metade disso causado por questões trabalhistas), além de demonstrações financeiras, desde 2016, com alterações de rubricas (ex: gastos na base saíram de “despesas” para “investimentos”). As chamadas “maquiagens contábeis”.
Isso não implica no fluxo de caixa do clube, já que o déficit contábil é diferente de um “rombo financeiro”. O Vitória vem mantendo todas suas obrigações com pagamentos normalmente, em dia, não implicando também em contratações para o futebol.