Por Carlos Amaral Júnior
A expressão é antiga, bastante conhecida e remete à obra de Gabriel Garcia Marquez. Todavia, cabe perfeitamente para definir o atual momento vivido pelo nosso clube e o segundo rebaixamento para a série C em sua história.
Se retrocedermos 35 anos, veremos que a partir da segunda metade da década de 1980 o Vitória deu a grande guinada de sua história: ganhou projeção nacional, consolidou o Barradão, formou uma das melhores divisões de base do país, contratou grandes jogadores, conquistou a hegemonia estadual e regional e, como consequência disso, viu sua torcida crescer de modo exponencial.
Sem dúvida, o atual presidente afastado, Paulo Carneiro, teve um papel importantíssimo nessa trajetória. Todavia, a partir da virada do século, ele começou a perder o foco que norteou seu trabalho anterior e passou a enxergar como prioridade a venda prematura de jogadores da base. O resultado disso foram os dois rebaixamentos para as séries B e C, em 2004 e 2005, seguidos da renúncia de Paulo.
Felizmente conseguimos nos reerguer, através do trabalho, à época, conduzido por Alexi Portela e Jorginho Sampaio – dois anos depois estávamos de volta à série A e retomávamos o protagonismo em nível estadual, conquistando mais um tetracampeonato; além disso chegávamos à final da Copa do Brasil em 2010 e, há apenas oito anos, fomos o 5º colocado no Brasileiro da série A, posição até então inédita para um clube nordestino na era dos pontos corridos.
Ferido em seus brios, pois, como todo bom arrogante, não admite seu próprio fracasso, Paulo partiu para a contra-ofensiva: acionou o clube na Justiça do Trabalho e, de quebra, foi trabalhar no rival! O Conselho Deliberativo da época não conseguiu suportar tamanhas barbaridades e o expulsou sumariamente do clube.
Mas existe um ditado que diz “vingança é prato que se come frio”. A partir da saída de Raimundo Viana, o clube mergulhou numa crise técnica e financeira, com duas administrações desastrosas e inconclusas – Ivan de Almeida e Ricardo David. Eis que então ressurge aquele que se auto-intitula o maior conhecedor de futebol do Sistema Solar, o Mr. Expertise – o próprio Paulo Carneiro.
Lamentavelmente um grupo de energúmenos o elegeu presidente, acreditando na sua conversa e sem enxergar que o seu desejo era muito claro: vingar-se daqueles que um dia o defenestraram do clube e devolvê-lo ao local onde ele deixou. Por dois anos batemos na trave; este ano não teve jeito – estamos novamente na terceira divisão, e com requintes de crueldade, fora da Copa do Nordeste, o que nos faz antever um ano terrível em 2022.
O nosso rebaixamento não aconteceu contra o Vila Nova. Ele começou há três anos atrás, se pensarmos que não conseguimos classificação para o quadrangular decisivo do campeonato baiano, na sua extrema mediocridade técnica. A partir daí ocorreu um festival de desqualificação no elenco, com a contratação de jogadores sem a mínima condição de vestir a nossa camisa. Pensar que já vibramos com Bigu, Ricky, Vampeta, Alex Alves, Dida, Edilson, Petkovic, Bebeto, Adoilson, Ramon Menezes, Aristizábal e tantos outros, mas hoje temos que suportar João Victor, Roberto, Fabinho, Cedric, Eron e outros que já foram (Ygor Catatau, Walter, Wesley Pionteck, Gabriel Barbosa, Mateusinho) em nosso elenco.
É muito dura esta realidade para o torcedor rubro-negro. Ele não merece isto. E pensar que este elenco foi formado pelo doutor supra-sumo em futebol, Paulo Carneiro. Isto só reforça a minha tese de que o único objetivo seu era a vingança. Nenhum outro.
E agora, o que fazer para 2022? Se não conseguirmos resolver a pendência por conta do débito referente à desastrosa contratação de Walter Bou, ficaremos impossibilitados de reforçar o elenco. E com isso, pode decretar: série D em 2023. Não temos uma base em condições de nos deixar esperançosos, infelizmente. Nestas horas é muito comum ouvirmos: “manda todo mundo embora e põe os garotos da base para jogar”. Se fizerem isso no próximo ano, a desgraceira estará armada. Vimos muitos jogadores da base este ano e, com raras exceções, não temos condições de formar um time competitivo com eles. Além do que, todo elenco necessita mesclar juventude e experiência, sob pena de naufragar.
É duro acreditar no nosso descenso quando permaneceram na série B clubes como Sampaio Correia, os dois alagoanos, Brusque, Londrina, Operário de Ponta Grossa, todos eles com estruturas, torcidas, orçamento e representatividades infinitamente inferiores ao Vitória. Sem falar em outros que estão na série A (Cuiabá, Atlético-GO, Juventude, Chapecoense), em igual situação comparativa.
Mas vamos em frente: a realidade que nos espera é Floresta-CE, Altos-PI, Ypiranga e São José-RS, Aparecidense-GO, Atlético Cearense, Volta Redonda, Mirassol-SP, o que dizer mais? A esta altura só nos resta torcer por um conjunto de milagres que possa reerguer o clube, senão assistiremos a sua lenta agonia, remetendo ao título desta mensagem.
Parabéns, Paulo Carneiro. Você conseguiu. E, principalmente, parabéns em dobro aos mentecaptos que votaram nele. Estes são, sim, os principais culpados pelo nosso rebaixamento.
Carlos Amaral Júnior é torcedor do Esporte Clube Vitória.
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