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Queremos o BaVi de volta

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Amanhã teremos mais um clássico com torcida única. Mais um absurdo que na Bahia tem precedente.

Na última semana, uma suposta decisão do STJD movimentou a latente discussão acerca do tema. Noticiou-se que o órgão, instância máxima da justiça desportiva no país, obrigaria a realização de jogo com portões fechados nos estados em que houvesse recomendação do Ministério Público a favor da torcida única.

A notícia cutucou o vespeiro adormecido que é o assunto aqui na Bahia, pois, sem um fator externo, aparentemente a situação seguiria inalterada, mas logo foi esclarecido que não se tratava de decisão definitiva e vinculante, apenas um indicativo de entendimento sobre o assunto.

Afora as alegações clubistas de que o acesso de visitantes do Barradão é um curral, levantado pelos tricolores, e que há um complô pró-Bahia para nos prejudicar, capitaneado pelos rubro-negros, precisamos nos ater ao fundamento que levou o Ministério Público a restringir o acesso ao estádio apenas aos torcedores do clube mandante nos clássicos: a segurança.

Primeiramente há que se avaliar a eficácia desta medida. Isso porque não há histórico de conflitos graves dentro do estádio ou nas suas imediações. Os torcedores comuns da dupla BaVi sempre foram conhecidos por uma convivência harmoniosa e pacífica.

Além do mais, as brigas não ocorrem por causa da torcida mista e não pararam com a torcida única, pelo contrário. Me parece que, nos últimos tempos, a rivalidade tem ultrapassado o limite das brincadeiras saudáveis. Não é de se estranhar: se não somos instados a aprender a conviver, não saberemos, quando o encontro for inevitável.

Discordo de que se trata de incompetência da segurança pública estadual, porque está muito claro que uma polícia que dá conta do maior carnaval do mundo não teria maiores problemas em lidar com uma partida de futebol.

A questão da violência entre torcedores, passando pelo polêmico mas necessário tema das torcidas organizadas, é que precisa e deve ser discutida, mas não de forma a inviabilizar as torcidas juntas no clássico, de longe um dos momentos mais legais do futebol.

A manutenção da torcida única, portanto, se mostra uma acomodação acovardada dos clubes, poderes constituídos e das próprias torcidas, que parecem ter desistido de questionar a regra que aparenta estar tão consolidada.

O Presidente do Vitória inclusive se manifestou no sentido de que não poderia levantar a bandeira do retorno de ambas as torcidas ao clássico para não se indispor com o MP ou para evitar a responsabilização do clube por qualquer incidente que aconteça. Só que isso não faz o menor sentido. Nosso presidente segue totalmente desassociado da vontade da sua torcida, tendo em vista que vários grupos de torcedores manifestaram o repúdio à torcida única num manifesto direcionado ao clube.

Para encerrar, lembremos que o direito de torcer, embora pareça óbvio, tem respaldo legal. O torcedor visitante tem o direito de adquirir no mínimo 10% da carga de ingressos destinada a qualquer jogo que ocorra sob mando do adversário. Logo, o fundamento é também jurídico.

A discussão está saturada, tudo já foi dito. Daí a importância da recomendação do STJD se tornar definitiva, o que obrigaria os clubes e a sociedade como um todo a sair dessa inércia.

Sabemos também que nos últimos tempos muita gente potencialmente violenta tem tomado coragem e mostrado a cara, mas as decisões do Poder Público não podem ser ditadas pelo medo ou pela preguiça. Não devemos naturalizar a omissão do Estado em prover segurança a um simples jogo de futebol.

Se de fato o STJD firmar o entendimento de portões fechados em jogos com tal recomendação, será um grande passo para obrigar os clubes a deixarem a passividade de lado. É uma decisão óbvia e corajosa, como o momento pede. Obriga a busca de soluções reais para o problema, ao invés das atuais letargia e omissão.

No meu sonho, no próximo BaVi (sim, o do Barradão), já teremos as torcidas lado a lado.

Gols de Eron e Nickson.

Me cobrem.


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