A diretoria do Vitória continua destratando o torcedor do clube no que tange à experiência de assistir aos jogos da equipe masculina principal. Primeiro na imposição da mudança à Fonte Nova, sem qualquer consulta aos principais atingidos, e agora na setorização do Barradão, realizada sob a mesma forma equivocada.
Nos dois casos, uma semelhança. Bastava um aviso prévio, uma comunicação entre clube e torcida, para que os impactos das mudanças fossem melhor absorvidos. Mas a diretoria rubro-negra parece não se importar, de fato, com a opinião do torcedor.
O Vitória criou três novas modalidades do plano Sou Mais Vitória, como forma de se adaptar as regras impostas pela Arena Fonte Nova para o acordo que, de acordo com a diretoria, seria vantajoso financeiramente para o Leão.
No entanto, como o futebol apresentado em campo não é atraente ao público consumidor – e o clube nada faz para estimular a torcida a abraçar a agremiação em vez do time de futebol -, a solução encontrada foi levar para o desprezado Barradão os jogos considerados de ‘menor apelo’.
Sabemos então, a partir deste contexto, que a invenção de setorizar o Barradão foi uma forma de trazer uma contrapartida maior para os sócios diamante, ouro e rubi, que estão sendo contemplados com vantagens na Arena Fonte Nova.
Sendo assim a diretoria decidiu bloquear o trânsito de torcedores entre a arquibancada do gol da Paralela e a arquibancada do gol da Regional, por trás da tribuna de honra, instalando portões em dois lados e restringindo aos sócios que sentam nas cadeiras um espaço de convivência, bares e banheiros de uso exclusivo.
Só que essa medida interferiu na cultura do torcedor que frequenta o Barradão e acostumou-se à assistir ao jogo atrás do gol onde o Vitória está atacando, mudando de posição junto com o time em campo no intervalo. Com a setorização, esses torcedores foram impedidos de manter suas rotinas. E a felicidade de voltar a torcer ‘em casa’ foi interrompida.
Na realidade, e até me corrigindo, eles poderiam ainda cruzar o estádio. Só que para isso necessitariam subir todo o lance de escadas de acesso, trafegar pela frente da loja e descer pela outra escadaria. Muito esforço para o torcedor que só quer prega.
Tenho certeza, mais uma vez, que uma comunicação prévia, uma satisfação ao torcedor naturalizaria esse impacto. E não vou me dar ao trabalho de escrever como seria. O clube demonstra sua má vontade em ouvir ou sequer lembrar do seu torcedor.
A setorização do Barradão, diga-se de passagem, poderia até ser uma situação positiva. Compreendendo as questões capitalistas, de quem paga mais mais fica num lugar melhor – e aqui um parêntese para parabenizar pelo setor com preço popular -, o Santuário poderia ter uma estrutura bem definida, por exemplo:
As arquibancadas atrás do gol da Paralela, somada à curva, tem aproximadamente 11 mil lugares, conforme indica o livro Barradão: Alegria, emoção e Vitória (Étera, 2006). Trazendo para a realidade pós-estatuto do torcedor e demais adaptações, consideramos que aquele setor reúne espaço para 10 mil torcedores. Somados aos aproximadamente 4 mil lugares nas cadeiras, chegamos em número próximo da média público do nosso melhor ano no Campeonato Brasileiro de pontos corridos, em 2013, quando alcançamos o 5º lugar, com ocupação média de 14.780 torcedores por jogo.
Isso dá à diretoria um espaço de quase 10 mil lugares do lado oposto para serem trabalhados na forma que o clube bem entender. Como uma arquibancada mista, um setor com bancos em vez de cadeiras, com certo conforto para quem puder pagar um pouco mais. Ou ampliando o setor popular, para atrair mais público não-sócio.
É comum em vários estádios particulares pelo Brasil os torcedores serem condicionados à setorização. Dessa forma nos acostumamos a ver setores sempre lotados, com uma festa bonita da torcida concentrada em um só espaço, de forma benéfica para o clube e para seu torcedor.
O que falta, e mais uma vez bato nessa tecla, é diálogo. É entender o que o torcedor quer e pelo quê ele se dispõe a abrir mão pelo seu clube do coração. Pois se continuar dessa forma, desassociada, sob total dependência dos resultados dentro de campo, a relação torcida e clube continuará estremecida, frágil e cada vez mais conturbada. O que não é nada positivo para um clube que briga conta a Série C.
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