Que o Vitória sempre foi uma das referências em revelar talentos, isso todos já sabem. Mesmo antigamente com pouca estrutura, a base rubro-negra lançou jogadores que se tornaram e muitos ainda são de renome mundial. Craques que disputaram Copa do Mundo (David Luiz e Hulk) e até ganharam (Júnior, Vampeta e Dida). A base sempre foi um orgulho da torcida do Leão.
Isso fez com que, recentemente, mais e mais torcedores voltassem seus olhos para torneios da base, para ver surgir dali mais um atleta que despontaria no futuro. E isso iniciou de forma mais calorosa com a campanha da equipe Sub-20 na Copa do Brasil de 2012 da categoria, onde foi revelado José Welison (autor de gol na final, mesmo com 17 anos), Arthur Maia, Gustavo, Gabriel Soares, com muitos deles com ótimas passagens pela Seleção Brasileira de base.
Claro que nem todos vingaram. Alguns tiveram chances na equipe profissional e foram negociados, outros emprestados e retornaram. Porém, há aqueles que tiveram destaque na base e simplesmente “sumiram”, sem chance alguma na equipe de cima e depois reaparecem em outra equipe. E nenhuma posição do clube sobre negociação, saídas e chegadas de jogadores pela base. Com os olhos mais voltados a isso, cresce os questionamentos de torcedores sobre o que acontece com a nossa base.
Essa semana muitos torcedores foram surpreendidos com uma dessas saídas de joias da base. O zagueiro Ednei, destaque em todas as categorias que atuou no Vitória, sempre líder com a faixa de capitão, assinou contrato com o Vasco até 2021. Porém, não houve nenhuma notícia e nem anúncio de sua saída (ou negociação) do Vitória para a torcida e nem imprensa. Não há detalhes e, se o próprio jovem não se despede do clube em seu perfil pessoal no Instagram, ninguém ficaria sabendo.
E é justamente aí onde está o erro do clube. Não há notícias semanais sobre chegadas e saídas de atletas da base. Para um clube que tem como um dos lemas “Fábrica de Talentos”, deveria ter uma importância melhor sobre isso, sobre as joias que estão sendo formadas e/ou lapidadas. Isso está além de informar sobre jogos e torneios, mas tornar público quem são os atletas de cada categoria, os destaques, quem tá chegando e saindo.
Casos semelhantes ao de Ednei vem ocorrendo ao longo dos anos. Em 2015, o volante Borges era um dos principais destaques da base, quem acompanhava tinha certeza que ele teria lugar na equipe profissional e iria deslanchar. Porém, ao atingir a idade do Sub-20, chegou a ser integrado, treinar, mas nenhuma chance. Foi emprestado ao Atlântico e depois ao Maringá-PR, onde ficou até o fim de 2018. Hoje, o volante se encontra sem clube.
Algo que aconteceu com o lateral direito Álef, contemporâneo de Borges na base rubro-negra. Soteropolitano, o jovem foi também emprestado ao Atlântico e, após seu contrato com o Vitória terminar, assinou com o Marcílio Dias. Hoje, disputa o Campeonato Paranaense pelo Maringá-PR.
Outro caso é o do atacante Gabriel Morbeck. O atleta era um dos destaque na base junto com Rafaelson em 2016. Centroavante, mas sabendo jogar pelas beiradas devido a sua boa mobilidade, não foi integrado ao profissional (como Rafaelson chegou a ser) e foi um que sumiu e a torcida que o acompanhava não soube do paradeiro. Em 2017 foi para o Japão e assinou com o Roasso Kumamoto, da segunda divisão. Em 2018 assinou com o Júbilo Iwata da primeira divisão, depois foi emprestado ao Sagamihara da terceira. Hoje está sem clube.
Despontar após se profissionalizar, vai depender de cada jogador. Se superar, vencer concorrência, enfrentar dificuldades como lesões e treinar bastante. Isso se tem desde a base. A grande questão é: se o clube se tornou famoso por revelar craques, tem como um dos lemas fabricar talentos, porque também não dar importância e divulgar, comunicar, para a torcida os jogadores que estão sendo também negociados? São frutos do clube, patrimônios.
Exemplo disso são grande clubes que dedicam uma parte do seu site oficial para noticiar acontecimentos da base e isso inclui negociações. O Palmeiras tem um site específico para tratar da base. Outros clubes mantém redes sociais, mesmo que não-oficial, sobre notícias da base como o Flamengo. No Vitória, há no Instagram um perfil (@ecvbase) que tem esse intuito também.
Porém falta ao clube, como instituição, se voltar mais para a base. Manter um canal de informações com o torcedor que, cada vez mais, quer saber sobre as joias que um dia poderão vestir o manto e levar o nome do Vitória para outros cantos do mundo.