Toda tragédia pode ser entendida, mas nunca será aceita. Não importa se eram jovens ou velhos, ter a vida interrompida de forma trágica é muito dolorosa, principalmente oriunda de uma fatalidade, um acidente.
Imaginar a dor dos familiares e amigos dos jogadores, comissão técnica, jornalistas e tripulação que estava no vôo que vitimou 76 pessoas é algo tenso e surreal. A maioria de nós já sofremos alguma perda assim, por isso sabemos o quão é difícil esse momento.
A dor que tomou conta do mundo esta manhã, também assolou nossa torcida rubro-negra. Além do acidente vitimar a Chapecoense que caiu nas graças dos brasileiros, haviam lá jogadores que passaram por aqui, que deixaram seus nomes com títulos, alegrias, alguns com rápida passagem, outros que praticamente aqui nasceram.
O então comentarista Mário Sérgio encantou os rubros-negros em 1971, quando era chamado de “Vesgo”. O meio-campista, que tinha um trato fino com a bola coroou sua passagem aqui em 1972 com um título baiano que já não tínhamos fazia tempo. Ao lado de Catimba, comandou uma das melhores equipes que o Vitória fez. Ficou até 1975, o suficiente para ser eleito o jogador do século XX do Vitória, superando outros nomes famosos. Voltou ao Vitória para estrear como treinador, onde afirmou: “Praticamente iniciei minha carreira de atleta aqui no Vitória. Decidi começar a de técnico no mesmo lugar.“. Veio novamente em 2001, mesmo sem títulos como técnico, a imagem que sempre ficará nas memórias será daquele meia canhoto, que encantou com o manto rubro-negro.
O volante José Gildeixon, ou simplesmente Gil, teve rápida passagem aqui em 2009. Pode não ter sido um craque, mas saiu como campeão baiano. Assim como o lateral Dener, que vestiu o manto em 2012, que naquela ocasião, todo o time foi mal perdendo o campeonato baiano, mas teve seu nome registrado em nossa história ao ajudar o clube subir para a primeira divisão.
Luiz Carlos Salori pode ter ficado conhecido pelo Brasil como Caio Jr., mas no Vitória recebeu a alcunha de “Caio Potter”, pela semelhança com o personagem Harry Potter e pela mágica que fez ao time em 2013. Chegou sob certa desconfiança por ter treinado o rival no ano anterior, mas logo trouxe jogadores renegados e desconhecidos e mostrou a que veio. Ele é o responsável por um dos maiores triunfos em clássicos, quando vencemos o rival por 5 x 1 (reinauguração da Arena Fonte Nova) e pelo placar de 7 x 3. Saiu do time pela porta da frente, com um time montado, deixando seu nome em nossa história também.
Em 2004, o Vitória contava com as estrelas Vampeta e Edílson, campeões mundias com a Seleção em 2002. Contava com novos nomes que surgiam como Leandro Domingues e Obina. Dentre eles havia um pernambucano, vindo do Sport, meio-campista destro. Seu nome era Cléber Santana. Era o último nome que alguém apostaria no possível destaque. Mas quem apostou, acertou. Dono de um potente chute, Cléber foi peça fundamental na equipe que conquistou o Baiano e a Taça do Estado daquele ano. Além das faltas bem cobradas, mostrando sua força, era um jogador que atuava de cabeça erguida, sempre procurando o passe perfeito, um generoso dentro e fora de campo.
Arthur Brasiliano Maia, um menino nascido em Maceió mas que logo cedo adotou Salvador como sua casa e de sua família. Aos 10 anos de idade, o Vitória passou a ser seu lar e os demais colegas serem seus irmãos. Desde novo, apresentava rara habilidade com a perna esquerda, com muitos comparando a Maradona e ao próprio Mário Sérgio, tamanho refino com a canhota. Seis anos de clube e passou a integrar a equipe profissional, ainda no final de 2009. Ali, sua fama já havia se espalhado por todos os cantos, a torcida ansiava por um craque nascido na Toca e isso o atrapalhou muito. Nunca conseguiu se firmar no profissional e comumente participava de competições da base. Foi com o título da Copa do Brasil Sub-20, em 2012, que se despediu da base e estava pronto pra brilhar com a 10 rubro-negra. Todo ano era uma expectativa, todo ano um empréstimo. Lesões o atrapalharam na carreira, mas agora parecia que tudo se encaminharia para o sucesso. Só parecia.
Este que vos escreve, tem uma história engraçada com Arthur Maia. Participava de um programa (No Campo do 4, na Tv Aratu) e lá não sabia que o convidado seria ele, tanto que o cornetei incessante durante o programa, entoando o coro que o chamava de “Eterna Promessa”. Ao chegar no programa, perguntado sobre algo que o incomodava, ele se referiu justamente a esse apelido, que o considerava injusto. Durante o programa, debatemos sobre isso e os motivos. Ao final, nos bastidores, aconteceu o diálogo e as cenas que ficarão eternizadas em minhas lembranças. Ele chegou a mim, disse que tinha vaga lembrança da minha fisionomia nas arquibancadas o cornetando e me pediu desculpas pelas vezes que errou e me fez passar “raiva”. No mesmo instante, eu que o pedi desculpas, falei que cobrava por justamente saber que ele tinha potencial para ser o melhor. Ele riu e me agradeceu pela “boa sorte” que o desejei. Ali, deixei de chamá-lo de Eterna Promessa. Hoje, ele está eterno em nossa história, nossos corações.
O Vôo LaMia 2933 levou essas pessoas, levou o time da Chapecoense, mas não levou nossas memórias, nossas lembranças. Em momentos como esse, palavras podem não conseguir descrever os sentimentos, por isso os gestos são essenciais. Eu, como todo o Arena Rubro-Negra, deseja força aos familiares, amigos e torcedores de Mário Sérgio, Gil, Dener, Caio Jr., Cléber Santana, Arthur Maia e todas as vítimas desta fatalidade.
Tá cheio de erros
Em 2004, o Vitória contava com as estrelas Vampeta e Obina, campeões mundias com a Seleção em 2002. Contava com novos nomes que surgiam como Leandro Domingues e Obina. Dentre eles havia um pernambucano, vindo do Sport, meio-campista destro.
“Em 2004, o Vitória contava com as estrelas Vampeta e Obina, campeões mundias com a Seleção em 2002”.
Obina não, Edilson.
No mais, belo texto.
Consertei, valeu meu nobre!
Acabei repetindo o nome de Obina.
Muito bom o texto!