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Gaguinho… o Mário Américo rubro-negro

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Figura ímpar na história do Esporte Clube Vitória, e conhecido por onze em cada dez rubro-negros fiéis de longa data, o massagista Gaguinho é um nome na história do Leão. Presente em diversos títulos estaduais conquistados pelo decano, este operário leonino até hoje um dos semblantes mais lembrados que atuou como 12° jogador nos campos ao lado dos escretes do Vitória.

 Nascido Renato Téofilo Bahia no ano de 1944, o célebre Gaguinho completaria neste anos 74 anos. Sucedeu o também emblemático massagista Pinguim, da década de 60, porém ele chegou ao cube numa época análoga ao mesmo, mais precisamente em 1964. O primeiro título em que Gaguinho aparece nas fotos, é o de 1972. Estampou-se a sua imagem junto aos memoráveis: Mário Sérgio, André Catimba, Osni, Gibira, Aguinaldo Moreira e dos demais futebolistas campeões daquele ano histórico. De uma forma ou de outra ele foi também responsável por essa conquista. Pois assim como o massagista da seleção brasileira, Mário Américo, era ele quem servia de pombo-correio do técnico para o atleta caído em campo. Com Jair da Rosa Pinto nas instruções, Gaguinho na mediação da comunicação e o onze rubro-negro em campo, o Vitória foi campeão com sobra naquele ano em cima do Bahia.

Gaguinho, o sétimo homem em pé ao lado do lateral França, perfilado junto a uma parte do elenco campeão de 1972 antes de um BaVi.

Dentro do que podia, Gaguinho sempre fez o possível para ajudar o Vitória em campo. Em 1970, época em que chegara ao rubro-negro o lateral-esquerdo França, ocorreu uma anedota envolvendo eles dois. Eram transcorridos 15′ do segundo tempo quando o cordão da chuteira de França partiu. O ala prontamente lhe avisou: “Gago, me manda um cordão que o meu partiu.”, aos brados Gaguinho invade a área do campo e lhe pergunta: “Ô França, você quer o cordão do pé direito ou do pé esquerdo?”.

Além de ajudar o time nos gramados, ele fazia o possível para ajudá-lo fora também. Depois do título estadual de 1972, o Vitória viria a ver o arquirrival Bahia emplacar uma sequência de títulos no certame estadual, ficando porém com o título da Taça José Américo Filho de 1976 – equivalente a Copa do Nordeste hoje em dia -. Em 1979, ano em que tudo se caminhava para o Leão impedir o hepta do Bahia, era ano de Obaluaê, entidade do candomblé e da umbanda que leva a cor vermelho e preta. Por isso, acreditava-se que era o ano do Vitória. A superstição era tanta que os atletas leoninos eram levados para limpar o corpo em um terreiro na cidade de Cachoeira. Gaguinho por sua vez, um adepto do candomblé, era quem espalhava a superstição na relva dos estádios, jogando as ‘coisas trabalhadas’ a mando dos pais-de-santo. Há uma máxima dita por Neném Prancha, ex-massagista do Botafogo, que diz que se macumba ganhasse jogo o campeonato baiano terminaria empatado. Do lado rubro-negro, Gaguinho punha em prática os ebós, do lado tricolor, tinha-se o torcedor Lourinho fazendo os despachos para Oxalá se sobressair diante do Obaluaê. Infelizmente não deu outra. Pro infortúnio do Vitória, o chute de Fito furou as mãos do goleiro Gelson na final e deu o título ao Bahia.


 No ano seguinte, foi a vez do Leão terminar com a sequência de títulos do rival. Descrito pelos atletas daquele time campeão como o ponta Paulinho e o goleiro Bagatini como um ótimo profissional que aplicava bem a injeção e zelava por todos os atletas afim de recuperá-los, tinha fama também de irreverente e brincalhão, que contava aos jogadores muitas piadas. Naquele ano, para faturar um extra, Gaguinho usava o serviço de alto-falantes do bairro de Campinas de Pirajá para comandar o “Chutes em gol, o comentário sem barreira”, onde dava seus pitacos esportivos. Sempre que ia analisar as arbitragens, Gaguinho colocava a famosa música cantada por Bezerra da Silva de fundo: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão…”. Enfim naquele ano o Vitória foi campeão com a presença de Gaguinho, fato que se repetiria novamente em 1985.

Gaguinho em pé e vestindo camiseta branca em meio ao time campeão de 1980. (Créditos: ecveternamente)

Os anos passaram-se. Passaram-se dirigentes, jogadores e Gaguinho ficou. Até o título de 1985. Sem perder seu estilo irreverente, que também é descrito pelo goleiro da época, Demilson, ele era quem alegrava o ambiente rubro-negro. Compositor que (não) era, fez uma música em homenagem a sua filha chamada Renata Maria, Filha de Gaguinho. Naquela temporada, ele fazia muitas rifas. Sempre com a prenuncia de que era para ajudar Irmã Dulce (famosa beata baiana). Até que se descobriu que ele próprio tinha uma irmã chamada Dulce. Foi em meio a esse misto de graça e profissionalismo que o título baiano veio, o último no qual ele aparece na foto oficial junto aos jogadores. 

Gaguinho e um médico amparam o goleiro Aguinaldo Moreira em jogo contra o Rio Negro-AM, em 1973 (Créditos: Jornal do Commercio – AM)


 Assim como Mário Américo se elegeu vereador em 1976, Gaguinho, dez anos depois, nas Eleições Gerais de 1986 chegou a sair candidato a vereador com o slogan: “Fazer o bem sem olhar a quem”. Nesta época o Barradão estava em construção e ele ganhou um troféu como o melhor vendedor de cadeiras cativas, algo que era feito na época para arrecadar fundos para as obras do estádio.

Em 1993 Gaguinho deixou o clube e faleceu naquele mesmo ano. Foram 29 anos de trabalho dedicados ao Esporte Clube Vitória, trabalhando toda sua vida profissional dentro do rubro-negro. Em outras palavras, se a Seleção Brasileira teve Mário Américo, o Vitória teve Gaguinho. O abnegado massoterapeuta rubro-negro partiu antes mesmo dos seus 50 anos e até hoje é rememorado levemente por ex-esportistas e torcedores.


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