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No Barradão: sonhar com rei dá Leão

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Um mestre do verso disse uma vez com certa certeza: “o que diferencia o torcedor do Vitória dos outros torcedores… na verdade pra responder essa pergunta você tem que ir ao Barradão”. A frase emblemática é do escritor rubro-negro Ricardo Cury, que acertou em cheio nos idos de 2010, sobre a força da torcida do Vitória, que só poderia ser explicada através de um estádio fundado por ela e para ela. O Manoel Barradas foi inaugurado oficialmente em 1986, reinaugurado ainda mais oficialmente em 1991, mas somente desde 1994, é tido como um patrimônio material da torcida do Leão da Barra.

O torcedor rubro-negro adotou o tímido espaço de Canabrava, e transformou-o em um espaço presente para a cidade de Salvador. Digno de competir com a beleza atrativa do Farol da Barra, ou com a imponência transformadora do Elevador Lacerda. Eu, bêbado de sambas e outros sonhos, digo que o sonho do arquiteto soviético Lev Smarcevski se materializou para enfim dignificar o Esporte Clube Vitória, clube que adotara desde os anos 1920 a 1930, como também seu torcedor.

Fiéis pesquisadores barradonianos, Luciano Santos e Alexandro Ramos Ribeiro traçaram perfeitamente o panorama que a cancha rubro-negra trouxe para a vida do Decano. Após 87 anos de existência, o Vitória passou a ter um estádio, que abrigou não somente seus torcedores, como também seu escrete. O livro “Barradão – Alegria, Emoção e Vitória” nos mostra que o Estádio Manoel Barradas, era o artilheiro definidor de jogos, o goleiro que nos salvou dos debacles, ou até mesmo o meia que conduziu o clube ao sucesso em seus títulos, acessos e campanhas memoráveis.

Barradão em dia de jogo do Vitória nos anos 2000.

Em julho de 1995, o gol de Vanderci na Batalha do Barradão, diante do Galícia, deu início aos bons tempos rubro-negros. Batistinha repetiu a dose diante do Poções no título de 1996. Em 1997, a derrota em 1 a 0 para o Bahia (após um 3 a 0 para o Vitória na Fonte Nova), também garantiu três títulos consecutivos ao estádio que transformou o torcedor do Vitória em um torcedor cotidianamente campeão. Assim, em um passe de mágica (ou do próprio Bebeto), o Vitória era pela primeira vez, tricampeão baiano. E o torcedor rubro-negro que sonhava com reinado, foi coroado dono de um império, que persiste nas entranhas soteropolitanas desde 1986, trazendo alegrias, glórias, tristezas, derrotas, empates e sonhos.

Em suma, no Barradão, sonhar com o reinado é possível. Tão possível, que mesmo após levantar taças de Campeonato Baiano e Copa do Nordeste de forma tão emblemática, mesmo após bater na trave (quase literalmente) em 2010 e mesmo após enfrentar as piores fases em 2005 e 2021, é possível olhar para aquele ponto vermelho e preto debruçado ainda tímido e espalhafatoso na paisagem esquecida soteropolitana, e saber que ali é possível soltar aquele grito preso na garganta dias após o seu aniversário de 37 anos, com a coroação da Série B do Campeonato Brasileiro. Em suma, no Barradão: sonhar com rei, dá Leão da Barra. Afinal, o meu Leão impera!

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