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O Carneiro, as assimetrias e os estadistas

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Futebol e política se misturam, e o presidente do Esporte Clube Vitoria está cansado de saber disso. Não por acaso, em 2018, Rui Costa foi elevado a benemérito do Vitória, talvez o único benemérito tricolor na nossa centenária instituição. Naquela ocasião, inauguração da Avenida Mario Sergio, Rui Costa, como um hábil estadista, declarou: “Eu acredito que quando você chega a governador, você tem que governar para quem é Bahia, para quem é Vitória, sem distinção”. No entanto, na prática as ações do governo não são tão simétricas assim. Contudo, política e futebol completamente misturados, goste você ou não. As chamadas oligarquias que se organizaram no Vitória e que foram fundamentais em conquistas importantes para o clube são outra grande prova de que política e futebol, na verdade são indissociáveis.

Paulo Carneiro recentemente declarou: “Parece que o governo adotou o Bahia como seu único clube na Bahia. Sua Agencia preferida está dentro do Bahia há anos. Até agora estamos esperando o chamado para anunciar a chegada do Vitória na Fonte Nova, gozando dos mesmos direitos e privilégios do Bahia. Pedi uma audiência ao Governador e recebi como resposta a data 12/08. Alias desde a reforma de Pituaçu para atender o Bahia o governo tem gasto milhões para alavancar o clube da preferência do Governo”.

O incomodo da recente declaração de Paulo Carneiro sobre a relação do rival com o governo do estado expressa, na realidade, o incomodo das “oligarquias” (elites locais) cujos projetos envelheceram e que de alguma forma tem suas relações e redes políticas restritas pelas mudanças econômicas e políticas no estado da Bahia nas ultima década.

Como dirigentes do clube, Paulo Carneiro e seu grupo deveriam está pensando em formas e caminhos de se relacionar com as novas elites baianas dispostas a investir no futebol. Para isso, é preciso entender o que é a Bahia e o nordeste agora. A Bahia hoje é duramente boicotada pelo governo federal (ver o que a Caixa Econômica tem feito) e tornou-se um dos principais estados do Consórcio Nordeste. Consórcio que tem intima relação com o acordo de 7 bilhões assinado pelo governo Rui Costa com os chineses para investir na Bahia. Quando falamos de chineses não podemos deixar de lado a “Guerra comercial Chino-Americana”. Tudo isso, para dizer que a Bahia vai está, em pouco tempo, em um cenário econômico novo.

Para além das insinuações feitas pelo presidente do Vitória, a relação do rival com o governo é, até onde se sabe lícita (com exceção das plotagens e a loja). Os rivais conseguiram o Pituaçu, não se tornaram proprietários é verdade, mas a construção os salvou e foi fundamental para eles, sendo hoje um estádio pouco usado. Além de Pituaçu, há indícios de que as relações com o governo abriu portas e possibilitou um bom contrato em relação ao consórcio da Arena Fonte Nova. Possivelmente com uma intermediação de figuras relevantes e capacitadas no interior do governo estadual. Enquanto nós, os rubro-negros, conseguimos a Avenida Mario Sergio, que é pouco em comparação. Diferente do que respondeu Guilherme Bellintani em entrevista ao Grupo Metrópole, em nossa opinião, a assimetria entre a política do governo para os dois clubes é auto evidente.

Ainda em sua resposta, Bellintani presidente do rival respondeu Paulo Carneiro minimizando o apoio e as relações com o Governo Rui Costa. O que francamente não convence ninguém. Sidônio Palmeira (o marqueteiro citado indiretamente por Paulo carneiro) e Edén Valadares (ex-assessor de Jacques Wagner) cumpriram papeis fundamentais na própria eleição de Bellintani (isso é publico, veja aqui) ambos são figuras com trânsito tanto no governo quanto no rival do Vitória.

O mérito da construção política dessas relações é dos rivais, das novas elites econômicas locais e dos grupos que se organizaram e elevaram a política interna do rival. A assimetria das conquistas políticas entre os dois times foram fruto da incapacidade dos dirigentes do E. C. Vitória e da capacidade política do rival. Mesmo em relação à prefeitura do DEM, os rivais parecem transitar de maneira mais fluída do que o rubro-negro. Como é sabido, não existe espaço vazio nem na política, nem no futebol, se seu time não ocupa, o outro fará.

Mais do que diagnosticar a preferência do governo, o fundamental é: O presidente rubro-negro precisa construir relações políticas saudáveis com todos e todas, dentro do clube e fora, incluindo o governo. Para isso, qualquer relação política começa pelo respeito.

Internamente, Carneiro foi eleito para unir o clube, mas ao contrário disso, parece querer trazer a disputa entre o Fascista do Bolsonaro e as esquerdas para dentro do Vitória. Isso quem tem que fazer são as arquibancadas, os grupos, seitas ou sei lá mais o quê, não o presidente de uma instituição centenária. Esse precisa ser um estadista. União surge sempre do que é comum, mesmo que ele não abra mão de algumas das suas ideias principais. Na torcida, vários setores, estão dispostos a deixarem as divergências em segundo plano e tentar construir uma política mais consensual sobre a administração do clube. Basta que o presidente se mostre um pouco de generosidade e mude a forma de tratar quem não está no seu circulo.

Infelizmente, a postura de polemista e a constante propaganda política pública (via tweets) contra o PT e pró-Bolsonaro não ajudam o presidente rubro-negro politicamente. Apenas o consagra como uma figura folclorizada de pouca serventia, o que é um desperdício diante da sua capacidade de pensar o futebol. Para complicar, temos do lado oposto, Guilherme Bellintani adotando justamente uma postura ponderada e se colocando como contraponto. Em outras palavras, Paulo Carneiro está aceitando o papel de vilão para si e para o Vitória que o pessoal do Fazendão tenta colar.

Isso pode ser percebido na resposta de Guilherme Bellintani a Paulo Carneiro. O tom cuidadoso em relação ao Esporte Clube Vitória, “Quero muito que o Vitória passe por essa situação tendo a postura que sempre honrou o clube, é um clube centenário, que têm dirigentes e referências muito dignas na sociedade baiana”, que é uma novidade no caso de Bellintani, quase sempre irritadiço e bélico quando os temas giram em torno de Canabrava. Essa atitude demonstra esperteza e capacidade de condução política, além de certo oportunismo. A fala do presidente rival é de estadista (como deveria ser a de Paulo Carneiro).

Por Caio Fernandes Barbosa
Doutorando em História pela UFBA, rubro-negro na terra, no mar e no ar.

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