Por Augusto Francisco de Lacerda
Já começo adiantando que, pagar mensalidade de sócio, comprar produtos com a marca do clube, criar um canal no instagram, entreter o torcedor, coisas do tipo, não irão retirar o clube dos altos e baixos (mais baixos, obviamente) que o clube vem sofrendo nos últimos anos.
A ciência econômica é umas das ciências mais utilizadas para a tomada de decisão de qualquer agente econômico.
A microeconomia analisa como os agentes econômicos otimizam seus problemas em face às restrições impostas pelo ambiente no qual cada agente opera, por exemplo, o consumidor maximiza seu bem estar sujeito a restrição orçamentária, assim como a firma maximiza sua função lucro.
Já a macroeconomia utiliza a microeconomia dos agentes econômicos e avalia a interação dos diversos agentes em busca do equilíbrio estável a longo prazo, assim como estuda o impacto de choques de tecnologia no equilíbrio econômico.
Percebam só como os conceitos de economia respeitam diversos postulados construídos pela ciência, obviamente sem papel para opiniões subjetivas. (Pelo menos a ciência, sendo uma representação da realidade, tenta reduzir ao mínimo a opinião subjetiva, principalmente do pesquisador científico).
Em ambas as grandes áreas da economia, o papel da produtividade é essencial para o crescimento econômico.
Até mesmo na economia política, a qual não utiliza do ferramental matemático e científico, tem na produtividade um dos conceitos chaves para entender o seu papel na economia, basta a leitura de Riqueza das Nações de Adam Smith, do Princípios de Economia Política e Tributação de David Ricardo e até dos livros Capital de Karl Marx.
É senso comum que países que saíram destroçados da guerra, como o Japão e a Alemanha, conseguiram dar a volta por cima e se tornaram potências em alguns anos. O estoque de capital humano, leia-se mão de obra qualificada, em tais países eram abundantes, a tal ponto que os trabalhadores tinham produtividade alta a ponto de reerguer a economia.
Vamos a outro exemplo. Tenho o costume de ler muitas reportagens em meu facebook pessoal. Certa feita li que apesar do aprofundamento da crise econômica em Portugal recentemente, os índice de educação em avaliações internacionais permaneciam altos, muito por conta da participação dos pais e do alto índice de escolarização dos mesmos.
O que todo esse papo econômico tem a ver com o nosso Decano Vitória?
Simples, qual material humano existe na torcida do Vitória? Será que não existem torcedores capacitados que possam ajudar o clube? Se houver, será que eles estariam dispostos a dedicar de um pouco do seu tempo para ajudar indiretamente o clube, seja numa torcida fora da cidade, seja para analisar a prestação de contas do clube, ou para organizar um grupo a crescer?
Pela minha experiência de torcedor ativo, sofri muitas barreiras e resistências ao convidar torcedores para contribuir indiretamente com o clube. Se fosse para tomar cerveja, não pensariam duas vezes.
O atual presidente sempre se locupletou por possuir uma expertise (que não tem sido mostrada desde que retornou ao clube em 2019).
A torcida é o representante máximo de um clube de futebol, e se torcedores de grande valor não disponibilizarem seu precioso tempo para criar propostas, se organizarem, debaterem, participarem ativamente (mesmo que com pouco tempo, mas de forma regular) na vida do clube, realmente não teremos saída se quisermos continuar como uma associação desportiva.
Muitos ai ficam falando de intervenção, mas o exemplo mais próximo de intervenção foi para instaurar o voto para os sócios desse clube. A política atual do Vitória já prevê o voto do sócio, então, não há motivos maiores para buscar uma intervenção judicial, já que a democracia se faz presente no clube.
Resumindo, pelo que conheço de uma parte da torcida do Vitória, existem sim torcedores do clube capacitados. Precisamos de dedicação, e as vezes deixar de lado crenças limitantes ou posicionamentos ideológicos rígidos para se unir em prol de um Vitória para Todos, um clube para o futuro.
Assim, acredito que podemos usar as ciências no geral, mas especificamente a ciência econômica, para balizar os rumos do futuro do clube, deixando de lado o subjetivismo que habita em cada um de nós, pois somente dessa forma objetiva iremos caminhar para um clube profissional.
Em artigos publicados recentemente na mídia soteropolitana, alguns rubro-negros deram suas opiniões sobre o momento atual do clube. Rodrigo Santos perguntou: “Será que tudo está perdido para o Vitória?!”. Segundo ele, “O voo para o futuro do futebol, brasileiro e mundial, já está partindo. E esta é a última chamada!”. Já Fernando Koch (nome do primeiro diretor de cricket do Club de Cricket Victória – Fernando Kock), em um artigo para o Arena Rubro-Negra, afirmou que: “A união faz a força”.
A próxima eleição no Vitória será em 2022. Além de ser necessário surgirem nomes de torcedores qualificados e ativos, é imprescindível um projeto em torno não só de um nome para presidente, mas de um grupo, que se torne uma equipe para gerir o Vitória. Como diz o já declarado presidenciável Ricky, precisamos “quebrar paradigmas.”
Nem tudo está perdido no Vitória, 2022 será um ano para, unidos, quebrarmos paradigmas, mas com projetos sólidos, e não apenas com interesse e palavras. Que vençam os melhores!
Referência Bibliográfica:
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações-Adam Smith: Vol. I. Editoria Abril (Coleção os Economistas), 1988.
RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. Editoria Abril (Coleção os Economistas), 1982.
MARX, Karl. O Capital-Livro 1: Crítica da economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. Editoria Abril (Coleção os Economistas), 1985.
SANTOS, Rodrigo. Disponível em: “https://www.bahianoticias.com.br/artigo/1357-sera-que-tudo-esta-perdido-para-o-vitoriaa.html”, 2021.
KOCH, Fernando. Disponível em: “https://arenarubronegra.com/artigos/fala-rubro-negro/a-uniao-faz-a-forca/”, 2021.
Augusto Francisco de Lacerda é torcedor do Esporte Clube Vitória.
Fala, Rubro-Negro! é uma coluna de opinião de torcedores. Seu conteúdo é de responsabilidade dos signatários e não necessariamente representa o que pensa o Arena Rubro-Negra.
