Muito se noticiou, nos últimos dias, informações e análises acerca dos 100 dias do governo Jerônimo e do presidente Lula. Na esteira desta discussão, por que não avaliar também este “início de gestão” no Esporte Clube Vitória?
Eleito presidente em setembro de 2022, Fábio Mota já exercia interinamente a função de gestor do Vitória desde o final de setembro de 2021, assumindo a função conforme determinação estatuária, por ter sido anteriormente eleito presidente do conselho deliberativo na chapa de Paulo Carneiro, como resultado da união e apoio de Alexi Portela; Adhemar Lemos e Falcão.
Neste sentido, os “100 dias” de presidência de Fábio Mota, em verdade, são 18 meses. Uma gestão, como ele próprio anunciou, “de continuidade ao que já estava sendo feito”. Como parâmetro, analisaremos tão somente este último período, contabilizado da posse do mandatário até essa (re)reformulação do elenco para a disputa da série b.
Em seu plano de gestão, apresentado ao Conselho Deliberativo, que, independente de críticas quanto à sua forma rasa de apresentação de métricas e ausência de diretrizes factíveis e tempestivas, traz uma síntese do desejo geral do gestor em fazer um modelo de administração diferente. Entretanto, confrontando o documento lançado em dezembro de 2022, dos cinco pontos de sua apresentação, a diretoria padece em todos:
1. Futebol profissional (alcançar e manter alto nível de competitividade)
2. Formação de atletas de Base
3. Gestão (continuar com gestão profissional, transparente, estruturada e livre de intervenções políticas-institucionais)
4. Administrativa e Financeira (alcançar e garantir continuidade da gestão administrativa, financeira e fiscal auto-suficiente, com subordinação ao orçamento)
5. Funcionários (preparar equipe de funcionários de alta performance).
A sequência de insucessos neste “início de gestão” – que tem nas eliminações da Copa São Paulo (divisão de base), Campeonato Baiano, Copa do Nordeste e Copa do Brasil o seu ponto negativo central – revela não apenas o descumprimento ao seu próprio plano de gestão quanto à montagem de elenco supostamente de alto nível competitivo, mas sobretudo que a “má sorte” do campo implodiu o conjunto dos demais pontos do plano.
Eliminado precocemente de tudo que disputou. Obviamente, há um impacto financeiro na receita do clube, que, por sua vez, altera o desenho orçamentário inicial, o que ainda não foi repensado e/ou apresentado aos órgãos internos do clube, em descompasso ao seu desejo de transparência. Outro dado que até aqui continua sem esclarecimento ao torcedor se dá na negociação de atletas, como David da Hora (ao Metalist-UK). Além disso, chama a atenção a inércia quanto a tomada de medidas judiciais relativas aos antigos gestores destituídos por gestão temerária, confrontando aqui não apenas seu plano de gestão mas principalmente a Lei nº 13.155/2015, que estabelece princípios e práticas de responsabilidade fiscal e financeira e de gestão transparente e democrática para entidades desportivas profissionais de futebol, considerada Lei “do ProFut”, em seus artigos 23; 26 e 27.
Financeiramente, a gestão conseguiu atrair um importante conjunto de patrocinadores. Parceiros que estão, inclusive, “vitaminando” a capacidade de contratação do clube para o deslinde da Série B, ponto de grande relevância, dada a situação extrema das finanças do clube, resultado de gestões anteriores, como a de Paulo Carneiro, quando Fábio era Presidente do Conselho Deliberativo e ali poderia ter atuado com maior antecedência – o que minimiza o acúmulo de passivos históricos, bem como os mais recentes criados nas 60 contratações realizadas pela “nova” diretoria. Não à toa, segundo publicação do CIES Football Observatory, de março de 2023, o Vitória é o campeão mundial no número de contratações nos últimos cinco anos. Isso reflete a total ausência de planejamento deste grupo que se alterna na condução dos rumos do rubro-negro baiano.
Tais aspectos, se olhados isoladamente, de fato revelam um sinal vermelho para um freio de arrumação e total repaginada em ações e planejamentos que possam refletir o desejo transformador no qual o mandatário foi eleito. Sinal maior disso é a torcida. Como numa antes impensável simbiose, a torcida tomou o clube para si numa demonstração de afeto e pertencimento, uma relação forte que reconheceu os problemas administrativos existentes, mas empurrou o time, que tinha 2% de chance de subir para a Série B, na garra e no grito. Este fenômeno de ampliação do interesse da torcida se reforça na adesão maciça ao novo plano de sócios.
Foram “100 dias” que, no campo, representaram dias de sofrimento, de frustração, de falta de planejamento e de eficiência na maioria das execuções, mas que na estrutura física do complexo esportivo e na captação de patrocínio deram conta do recado. Já para os próximos dias, na disputa da Série B, esperemos, desejamos e temos fé que Fábio consiga traduzir a simbiose do torcedor com o clube em força suficientemente capaz de retornar o Colossal à elite nacional. Boa sorte, presidente. Sigamos firmes, torcida, domingo de casa cheia.
Por Icaro Argolo, advogado e Conselheiro do Esporte Clube Vitória
Este texto reflete exclusivamente a opinião do autor
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