Goiânia, 03 de setembro de 2019
Rodada 21 de 38
Um dia a mais
A sequência de jogos do Vitória era absolutamente desgastante. A sequência de jogos com intervalo de 3 dias alcançou mais partidas do que se supunha ideal. Coincidiu com a chegada de Amadeu que, mesmo assim, manteve a invencibilidade, apesar de 3 tropeços que jogaram fora 6 pontos que colocariam certamente o clube em outro patamar na competição.
Quando a partida em Goiânia foi adiada do dia 2 para o dia 3, houve comemoração. Como a maratona de jogos limou Van e Martin com contusões, qualquer descanso adicional viria bem a calhar para evitar novos problemas físicos.
Confirmada a nova data, haveria também um dia a mais para treinar novas formações, novos planos táticos. Seria mais um dia para tentar organizar a transição ofensiva do time, fator sem evolução desde a chegada do comandante.
Jordy de fora
Algo aconteceu com Jordy desde aqueles primeiros jogos, quando ele impressionou com sua velocidade e força física. Desde que foi mandado para o banco de reservas depois da vitória contra o CRB, o rendimento do equatoriano caiu vertiginosamente.
É fundamental entender o contexto da contratação de Jordy, em todo seu processo. Chegou num país novo, com idioma novo, e teve que esperar mais de um mês até ter sua papelada regularizada. Foi a campo, aproveitou as oportunidades, apesar da evidente falta de pontaria nas finalizações.
Depois, foi mandado ao banco quando não merecia sair da equipe. E aqui cabe ressaltar outro aspecto fundamental: Jordy é um garoto de apenas 21 anos. Vivendo sua primeira experiência internacional, num país tão tradicional quanto o Brasil.
Se foi por isso que seu rendimento decaiu é quase impossível dizer. Ao mesmo tempo, se há fatores externos, eles foram abafados sem que fossem soltos na mídia.
O que é inegável é a correlação entre o banco de Jordy e sua espiral negativa. Não necessariamente uma relação causal, mas a coincidência gera dúvidas. Só que no maltrato que é disputar uma Série B contra o rebaixamento, sucumbir não oferece tanto espaço para recuperação psicológica.
E aqui volta a questão psicólogo sugerida na largada deste campeonato. Se agora a atuação não é tanto mais coletiva, haverá casos individuais que carecem atenção próxima. Parece ser o caso do equatoriano.
O Vila
O Vila Nova é concorrente direto na disputa contra o rebaixamento. Liderada por Marcelo Cabo, técnico que já foi campeão da Série B pelo Atlético-GO, rival goiano, tem alguns nomes conhecidos pelos lados de Canabrava. O que mais se destaca é o mono-funcional Jeferson, aquele que não consegue correr e pensar ao mesmo tempo.
De todas as questões envolvendo o Vila, a quem o Vitória venceu ainda nos idos de Tencati, no dia da descoberta de Potó – ou Ruan Levine, a pedido dele mesmo -, a mais emblemática, no entanto, ocorreu há muitos anos. Mais precisamente no dia 30 de agosto de 2011.
Tanto lá como cá, as equipes se enfrentaram pela Série B do Brasileirão. E no Serra Dourada, o Vitória venceu por 3 a 0, gols de Marquinho, Lúcio Flávio e Geovanni.
O que ficou guardado daquele jogo não foi necessariamente o placar, nem tanto como aquilo impactou a caminhada da equipe no campeonato. O Vitória, no fim, terminaria em quinto, a 1 ponto do Sport, quarto colocado.
O fantástico daquele dia foi que a torcida do Vila Nova pressentia o rebaixamento, que viria com muitas rodadas de antecedência. E uma gravação in loco registrou uma das maiores pérolas da história da televisão brasileira. Recordar é viver.
Novo time titular
Aparentemente, Amadeu gostou de como a equipe se comportou depois da entrada de Rodrigo Andrade na última partida. Assim, mandou o rechonchudo volante pra começar jogando. Além dele, Capa também voltou ao time inicial, mandando o também roliço Chiquinho pro banco de reservas.
O desenho tático com 3 volantes, apesar de mais defensivo no papel, poderia oferecer mais variações. Seja um 4-1-4-1 defensivo, evoluindo prum 4-3-2-1 ou 4-3-1-2 no ataque, deixaria Wesley, Felipe Gedoz e Anselmo Ramon com mais liberdade para criar. Pelo menos essa era a expectativa.
O teste certamente valeria a pena.
Pra cima de Capa
No começo do jogo, o Vila Nova pressionou o Vitória como pôde. Especialmente do lado direito de seu ataque. Jeferson abusava de sua velocidade para chegar à linha de fundo nas costas de Capa, que se virava como podia. Ao menos, para alívio rubro-negro, Jeferson sofre da condição unidirecional citada anteriormente.
E foi por ali que o time chegou em praticamente todas as vezes. Apesar de um tanto afobado, um tanto desorganizado, o time goiano era senhor do jogo, controlando a posse e o ritmo e encolhendo o Vitória no seu campo de defesa.
Na distribuição defensiva, o 4-1-4-1 viravam duas linhas, um 4-5 ou 5-4, que empurrava tanto Gedoz quanto Wesley para o fundo do campo, isolando Anselmo Ramon. A experiência dos 3 volantes não dava, pois, a liberdade que se intencionava.
15 minutos de domínio
Só que no primeiro tempo, durante 15 minutos, o Vitória conseguiu dominar as ações e chegar com perigo ao ataque. O time chutava de longe, chegava bem na linha de fundo, procurava jogadas em triangulação que liberavam espaço.
Aos 28, o gol rubro-negro.
Assim como a Lucas Cândido, você, incréu, pensará ter sido mero azar vermelho ter visto a bola desviar no zagueiro e encobrir o goleiro no chute de Wesley. Ora, ora, pois brado: CREIA.
Era noite para crer, pois, pois.
Wesley pegou calculadora, calculou integral, derivada, arco, parábola, força, velocidade, massa, ajustou ao vento e à posição do goleiro, posicionou-se na firmeza do possível e desferiu o arremate que beijou a zaga, subiu malandro, deu tchau pro goleiro e abriu o placar.
Logo ele, o execrado, o homem com cola nos pés, o tropeçante Wesley era a válvula de escape que não deixava dúvidas: é na crença que milagres acontecem.
Milagre da multiplicação dos gols
O Vitória seguiu pressionando. Buscando o segundo gol que daria tranquilidade e despejaria todo o desespero pra cima do Vila. E ele, inacreditavelmente, veio. Uma vez mais pelos pés santos do incompreendido – pelo menos por uma noite – Wesley. E com requinte.
A bola foi subindo para que Wesley buscasse a tabela com Anselmo Ramon. Dentro da área, o 9 dominou com a esquerda e deu de calcanhar com a direita o passe perfeito para Wesley nem precisar ajeitar a bola. Na cara do goleiro, não perdoou. Um golaço.
Vila Nova-GO 0×2 Vitória.
A torcida em Goiânia ficou ensandecida. Era dali direto pro primeiro santuário que encontrasse para testemunhar a sua fé no milagre presenciado e renovar os votos de fé e de esperança.
Quando o impossível se faz presente, só nos resta aceitá-lo e reverenciá-lo.
Pra quê segundo tempo?
Um dia, alguns dilemas fundamentais para o mundo serão discutidos com a profundidade que eles requerem. São pontos esquecidos, tratados com desprezo, pensados como relevância menor.
Só que um dia os excluídos serão exaltados, assim diz o ditado do recalque.
Por exemplo, na fatídica noite de terça-feira, Wesley seria o exaltado da vez. Como negar este dito quando tão correto?
Assim, afirmo: está na hora de se discutir a sério e à vera a necessidade de que sejam disputados os segundos tempos dos jogos do Vitória.
Porque é cada sufoco da miséria, cada recuada que entope veias e artérias Brasil afora. É questão, pois, de saúde pública!
Parasse ali, no intervalo, pronto, acabou!, o que mudaria na vida de todo mundo? Nada. Nadinha. E evitaria o despautério que foi o segundo tempo em Goiânia.
Recuo total
No segundo tempo, a decisão que todos temiam veio. E o Vitória se postou atrás, esperando o Vila. Abdicou de atacar por completo. E o sufoco veio.
Bolas levantadas na área. Faltas cobradas com perigo. Triangulações que colocavam os atacantes goianos dentro da área do Vitória.
Ronaldo defendendo, a trave salvando uma, duas vezes.
No que só resta crer na intercedência divina que expande a trave rubro-negra a uma espessura incompreensível. São muitas mais bolas na traves no período que gols sofridos. Ou melhor: GOL sofrido, no singular, aquele unzinho perdido contra o Coritiba.
Se o placar estava confortável, sofrer como sofreu na etapa complementar não teve nada de conforto. Foi só sufoco e sofrimento. E um placar inalterado.
Então, pergunto uma vez mais: pra quê segundo tempo mesmo?
Mais chances de ouro
Nas próximas duas rodadas o Vitória terá chances de ouro de consolidar seu crescimento na tabela. Completando uma tripleta conta equipes na zona do rebaixamento, volta ao Barradão – no que também fora anunciado que seria na Arena, mas não será – para enfrentar o Guarani. Em seguida, visita o São Bento em Sorocaba.
Neste contexto, quaisquer resultados que não somem 6 pontos são perigosos para as pretensões rubro-negras na competição. Até porque depois o bicho pega, pegando Atlético-GO, Bragantino e Sport, os 3 no G4. Melhor acumular pontos para não passar por apuros depois.
A ver.
Enquanto isso, levantemos as mãos para o céu em agradecimento pela graça alcançada. Dois gols de Wesley, com direito a golaço, não é coisa a ser minimizada. Aleluia!
Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, administrador e escritor, cronologicamente falando. É autor de “Futebol é uma matrioska de surpresas: Contos e crônicas da Copa 2018”, disponível na Amazon.
Foto: CBF.com.br
Diário completo da Série B
O “Diário da Série B” é série que também está sendo publicada no Correio* e no Arena Rubro-Negra. Acompanhe!
Rodada 21, Vila Nova-GO 0×2 Vitória: Arena│ Papo de Galo
Rodada 20, Vitória 0×0 Botafogo-SP: Arena│ Papo de Galo
Rodada 19, Coritiba 1×1 Vitória: Arena│ Papo de Galo
Rodada 18, Vitória 0x0 Operário-PR: Arena│ Papo de Galo
Rodada 17, Vitória 0x0 América-MG: Arena│ Papo de Galo
Rodada 16, CRB 0x1 Vitória: Arena│ Papo de Galo
Rodada 15, Vitória 2×0 Paraná: Arena│ Papo de Galo
Rodada 14, Brasil 1×0 Vitória: Arena│ Papo de Galo
Rodada 13, Figueirense 1×1 Vitória: Arena│ Papo de Galo
Rodada 12, Vitória 2×1 Ponte Preta: Arena│ Papo de Galo
Rodada 11, Londrina 3×1 Vitória: Arena│ Papo de Galo
Rodada 10, Vitória 2×0 Criciúma: Arena│ Papo de Galo
Rodada 09, Vitória 0×1 Cuiabá: Arena │ Papo de Galo
Rodada 08, Oeste 3×0 Vitória: Arena │ Papo de Galo
Rodada 07, Sport 3×1 Vitória: Arena │ Papo de Galo
Rodada 06, Vitória 0x2 Bragantino: Arena │ Papo de Galo
Rodada 05, Atlético-GO 1×1 Vitória: Arena │ Papo de Galo
Rodada 04, Vitória 1×3 São Bento: Arena │ Papo de Galo
Rodada 03, Guarani 3×2 Vitória: Arena │ Papo de Galo
Rodada 02, Vitória 2×1 Vila Nova-GO: Arena │ Papo de Galo
Rodada 01, Botafogo-SP 3×1 Vitória: Arena │ Papo de Galo
Depois de tanto vai-não-vai, o Vitória agora VAI depois deste Vila Nova-GO 0×2 Vitória?