Para posteridade sim! 13 de Dezembro de 2017. Guardem essa data naquela caixinha das coisas que não se apagarão da memória. Ponham-nas no hall dos acontecimentos igualmente relevantes para a humanidade. Eternizem-na tal qual a queda do muro que dividira a Alemanha na segunda metade do século XX, ou ao lado daquela manhã em que Nelson Mandela fora libertado da prisão de Robben Island após dezoito anos recluso sob os auspícios do Apartheid Sul-africano.
Sim, amigas e amigos rubros negros, com o perdão das desproporcionais (ou não) comparações históricas suscitadas por este pobre dreadlock que vos rabisca, aquela noite jamais será esquecida. E a palavra jamais aqui não é apenas para reforçar o uso do advérbio. É que dadas as circunstâncias deste jovem ancião de 118 anos, imaginar que tal cenário politico fosse ganhar forma e concretude, pelo menos até pouco tempo atrás era algo muito improvável, pra não dizer impossível.
Numa só tacada, o Esporte Clube Vitória realizou a primeira eleição efetivamente direta da sua longeva existência, permitindo que sócios (as) aptos (as) escolhessem de fato e de direito o presidente que cumprirá o mandato iniciado por Ivã de Almeida e de quebra, mas não menos importante, os anais (lá ele) da história registraram um fenômeno sintomático da guinada politica dessa instituição secular.
Mas de que zorra você tá falando, Rasta? Pensem direitinho comigo, confrades e confradas (meninas, o google respalda): quando, em sã consciência, vocês imaginariam três ex-presidentes da mais absoluta relevância – a julgar pelas suas passagens no clube – juntos em torno de uma candidatura eleitoral? E mais do que isso, o elemento que os aglutina neste contexto é o histórico temor que todos demonstraram frente à abertura politica e da participação democrática da torcida rubro negra nos espaços de poder do Vitória. Quem não se lembra das incontáveis declarações dos nossos conhecidos gestores sobre democratização, reforma do estatuo, eleições via sócios e assuntos correlatos?
Pois bem, contradições e embaraços à parte, demarcar o esfacelamento desse paradigma feudal dentro do Esporte Clube Vitória e constatar que até o mais conservador dos nossos caciques se rendera ao poder do voto popular é importante, mas a minha ideia aqui é outra, cara pálida. Porque esse momento histórico trouxe consigo sons que reverberam há algum tempo nas arquibancadas de cimento do Manoel Barradas e parecem encontrar ressonância cada vez maior nas redes, nas conversas e na postura da torcida rubro negra.
Junto com todo fervor do processo eleitoral nas últimas semanas, o compromisso com a evolução politica e democrática do nosso querido clube deu mostras de que retrocessos estão descartados por hora. Personificando esse momento, o Manifesto Por Um Vitória Popular ganhou corpo, adesão e é essa a centelha das linhas rabiscadas até aqui, meu caro (a) rubro-negro (a).
O Manifesto é advindo da arquibancada, sobretudo. Surgiu como forma dos torcedores e sócios suscitarem a ideia de que é necessário pensar num projeto outro de Vitória. Num clube cujo vetor de crescimento não se afaste das comunidades onde ele próprio cimentou seu endereço. Que pense em agregar valor a sua marca, ampliando seu alcance no interior no estado, cultivando uma identidade própria de clube inclusivo, participativo, popular. A garantia de que o processo democrático não pode ser rechaçado sob nenhum aspecto, a importância de instituir a participação do torcedor (a) cada vez mais nos ambientes do clube e a projeção de um Vitória sem fronteiras, cujo papel é despertar o orgulho de ser rubro negro nos quatro cantos do Estado, são alguns dos pontos sustentados pelas linhas do Manifesto.
E é aqui o raciocínio, pai. Após o primeiro estalo do lançamento do Manifesto nas redes, lançamento despretensioso, cujo intuito era o de marcar território em defesa das pautas mencionadas, tal qual música reggae (perdoem pela predileção), que penetra na corrente sanguínea e faz o esqueleto sacudir, o som que ecoou foi contagiante. Pouco mais de 48 horas passadas e mais de 300 assinaturas já tinham sido realizadas. 300 rubro negros e rubro negras que, de alguma maneira, corroboraram com a ideia que é preciso POPULARIZAR este centenário clube. Torcedores que fizeram ecoar o som gutural em defesa da democracia, atraindo a atenção para temas de fundamental importância diante do nosso momento politico-administrativo.
Nesta presente data, já são 409 os que assinaram o Manifesto, sendo que destes, 164 são sócios e sócias do Esporte Clube Vitória. Vale o refresco na memória aqui, já que em meados de Dezembro/2016 esses mesmos números chamariam a atenção dos protagonistas daquele momento eleitoral, cuja escolha aconteceu através do Chapão. Sim, comunidade! O Manifesto chegou a números que se equivalem e até ultrapassam aqueles necessários durantes a Guerra das Chapas do ano finado. Relevante, né?!
Entoces, meu bom, chegamos num momento impar da trajetória do Vitória e perceber que todas essas discussões, agora, se mostram tão presentes dentro e fora do clube (sobretudo no som das arquibancadas) é um belo sinal. Sintomas de que o caminho tá sendo bem pavimentado e de que as lutas cíclicas para afastar de nós mesmos a imagem de uma instituição arraigada em práticas ruralistas, baseadas nos referenciais familiocratas, tem sido vitoriosa. E o Manifesto é apenas o bumbo dessa gama de sons que estão ribombando pela Toca do Leão nesses acréscimos de 2017. Cabe-nos afinar os tímpanos, preparar os pulmões, dar um trato nas cordas vocais e seguir a canção que ecoará, sem dúvida, a partir de agora na trajetória cheia de glória do Vitória. Sons de Liberdade, de participação, pluralidade, inclusão e popularidade.
Como diria aquele broder lá da ilha jamaicana: ‘Won’t you help to sing…?”
Por Leandro Santiago, do Vitória Popular