Início Notícias Vitória esclarece prazo para prestação de contas do clube; situação é difícil

Vitória esclarece prazo para prestação de contas do clube; situação é difícil

2

No início deste mês de junho, o jornalista Rodrigo Capelo publicou em seu blog um levantamento sobre transparência financeira de 30 clubes brasileiros. Neste ranking, o Vitória ficou em 26º, de acordo com os critérios adotados por ele. Destes critérios, o rubro-negro só atendia no que diz respeito a publicação dos balancetes de 2019, juntamente com relatório de auditoria externa que compreende dezembro de 2018 a dezembro de 2019.

Após a divulgação do levantamento, inclusive postado pelo Arena Rubro-Negra, o Vitória lançou uma nota em seu site oficial explicando os motivos pelos quais não publicou as demonstrações financeiras no prazo que foi estipulado pelo Profut no dia 30 de abril.

Segundo os esclarecimentos do Vitória, a própria Lei Pelé, que regula os clubes brasileiros (e onde o Profut tem embasamento), classifica como uma “forma de associação civil que, no entanto, desenvolve atividade considerada econômica, nos termos do art. 2º, parágrafo único da Lei Pelé.”. Sendo assim, um clube se equipara a uma uma sociedade empresarial (de acordo com a própria legislação) e que pode seguir as normas de controle como qualquer empresa. Logo, o clube se baseia na Medida Provisória 931/2020, criada com o intuito de prorrogar a apresentação de contas de administração das sociedades empresariais para 30 de junho, por conta da pandemia do Covid-19.

“Portanto, em razão da equiparação dos Clubes de Futebol às sociedades empresárias para fins de fiscalização e controle, não há dúvidas de que a MP 931/2020, o prazo para apresentação das demonstrações contábeis das entidades de prática desportiva foi prorrogado para 30 de junho deste ano. Logo, o Vitória não descumpriu qualquer norma sobre o assunto, tão relevante e indispensável ao adequado controle dos atos associativos, pelo que irá prestar contas da sua gestão tempestivamente.”, afirma a nota do clube.

Segundo o diretor jurídico do clube, Dilson Pereira, que assina a nota referente aos esclarecimentos, o jornalista Capelo se equivocou na reportagem ao não considerar a aplicação das normas de controle às sociedades empresariais também aos clubes de futebol.

BALANCETES 2019

O clube disponibilizou os balancetes de 2019, mensalmente, no site oficial. Este foi o único critério adotado no levantamento de Capelo que o Vitória cumpriu. Ainda assim, é importante a torcida observar os balancetes e analisar alguns dados confrontando com os meses, como aumento de despesas com o patrimônio social e custos operacionais, onde ambos se referem a todo o complexo do Barradão.

EXPLICANDO O BALANÇO

No programa do clube “Papo de Presidente #003” disponível no canal oficial da Tv Vitória no Youtube, o presidente Paulo Carneiro comenta e explica alguns dados de forma resumida sobre os balancetes, já esclarecendo que em 2019 houve duas gestões e por isso a dificuldade em adequar os dados corretamente. O mandatário rubro-negro afirma que foram “feitos sacrifícios para reduzir as despesas, tendo que dispensar colaboradores e renegociação de contratos mal feitos e dívidas”, incluindo aí o futebol feminino, que foi praticamente desfeito quando chegou e montado com jogadoras da base que são bolsistas, assim nenhuma tem vínculo empregatício (CLT) com o clube.

O presidente explica que há “ações em três frentes” que seriam na Justiça do Trabalho (totalizando um passivo de R$5 milhões mais ou menos), na Justiça Cível (que não há um número exato) e na CNRD (Câmara Nacional de Resolução de Disputas). Neste último que há uma ênfase, já que é nesse órgão onde geralmente há disputas processuais de dívidas entre jogadores e técnicos registrados pela CBF e clubes. Carneiro enfatiza algumas das dívidas em que o Vitória está como devedor: comissão de empresário pela vinda do técnico Carpegiani em 2018, pendências com jogadores como o zagueiro Thales e o meia-atacante Andrigo quando vieram do Internacional.

Há ainda uma comissão para o empresário do meia Nickson, atualmente no clube, por conta de uma negociação de renovação do contrato, em cerca de R$85 mil. Voltando um pouco ainda no tempo, há dívidas milionárias oriundas de negociações de 2017, como por exemplo R$2,4 milhões para o ex-meia Cleiton Xavier (divididos em parcelas de R$400 mil anuais) e o técnico Vagner Mancini, algo em torno de R$917 mil como premiação por evitar a queda do clube para a Série B daquele ano. Segundo o presidente, há um total em cerca de R$20 milhões somente em dívidas já em execução de cobrança e pagamento de negociações e contratos no CNRD.

SITUAÇÃO DIFÍCIL

Diante disto, o clube também disponibilizou em seu site um relatório de auditoria externa sobre a situação do clube nos últimos três anos. O relatório mostra alguns balanços e impactos que o clube sofreu de 2018 pra cá, como o aumento de passivos em relação a ativos, causando um desequilíbrio financeiro, fazendo com que a auditoria chamasse atenção sobre a “incerteza da continuidade operacional”.

“O Clube vem incorrendo em prejuízos nos últimos três anos, tendo apurado no exercício findo em 31 de dezembro de 2019, déficit de R$ 1.831 mil (R$ 4.804 mil em 2018), excesso de passivo circulante sobre ativo circulante de R$ 39.926 mil (R$ 38.341 mil em 2018) e patrimônio líquido negativo de R$ 114.382 mil (R$ 112.551 mil em 2018). Em razão do descenso à Série B do Campeonato Brasileiro e consequente queda de receita de contratos televisivos, o Clube diminuiu expressivamente sua capacidade de geração de caixa, o que dificultou o cumprimento de seus compromissos financeiros de curto e médio prazo.”, afirmam os auditores.

Ainda de acordo com o relatório, “a continuidade futura das atividades operacionais dos negócios do Clube, dependerá do sucesso nos esforços da sua gestão, com o objetivo de assegurar a recuperação e o equilíbrio econômico financeiro de suas atividades. Esses eventos e condições indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional do Clube..

Isso tende a se agravar devido à situação em que o mundo todo, principalmente o Brasil, vem vivendo por conta da pandemia do Covid-19. Os principais impactos identificados para a quase total redução de receitas do Vitória foram: redução de receitas de patrocínios (inclusive com suspensão de alguns), redução de receitas dos direitos de transmissão e a redução de receitas do Barradão (bilheterias, estacionamento, bares). Tudo por conta da paralisação do futebol nacional.


Deixe sua opinião