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O “E” é de Esporte

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Em um dia se comemora a convocação da zagueira Ruth para a Seleção Brasileira Sub-20. No seguinte temos notícia de uma possível dissolução do time feminino. Essa decisão vai de encontro a uma tendência da modalidade e joga no lixo o trabalho de anos que havia começado a gerar frutos, negando ao Vitória o status de Esporte Clube.

Ano passado, quando a torcida abraçou de vez o basquete (o time chegou às semifinais da NBB, maior torneio da modalidade no país), fomos surpreendidos com o fim da parceria com a Universo, o que ocasionou a perda da vaga naquele campeonato.

Dessa vez o alvo pode ser o futebol feminino. Único representante do Nordeste no Brasileirão A1 em 2020, a ascensão das Leoas se deu de modo grandioso e gradativo, mas há rumores de que a equipe será dispensada pelo resto do ano. Assim, deixará de disputar o campeonato baiano que se aproxima (a participação não é obrigatória para a manutenção da vaga no Nacional), liberando as jogadoras e remontando o time no ano que vem, decisão que supostamente teria motivação financeira.

Só que o argumento da falta de dinheiro não cola. Notícias dão conta de que a folha do feminino do clube não chega a 30 mil reais, valor irrisório diante da hegemonia, prestígio, visibilidade da marca, além da representatividade de ter uma equipe feminina referência no nordeste, o melhor time baiano. Aprendemos a respeitar e passamos a nos orgulhar não só dos meninos, mas também dessas leoas que vestem o manto rubro-negro e honram as cores do clube.

Mas será que dão orgulho mesmo? Apresentarei alguns dados e você me responderá.

Ainda em 2018, conseguimos o acesso à elite do futebol nacional ao encerrar de forma invicta o Brasileirão A2, alcançando o segundo lugar (a decisão contra o Minas ICESP foi nos pênaltis). Vencemos o campeonato baiano (o único grito de campeão que pudemos entoar no Barradão ano passado, aliás). Em 2019, ficamos na nona colocação do torneiro nacional. Não passamos de fase, mas garantimos a manutenção do clube na elite, representando não só a Bahia, mas o Nordeste, que não terá outra equipe na competição.

Revelamos jogadoras. Verena e Tatielly foram para o futebol português, Maryana, nossa arqueira, também teve seu futebol reconhecido e jogará no Grêmio. Ruth está na seleção brasileira! Coincidência? Claro que não. É o trabalho sério dando frutos, embora seja muitíssimo mal remunerado e não consiga ser atrativo a ponto de manter essas mulheres aqui.

Não venham dizer que pego no pé da atual gestão

Mesmo se sobressaindo no cenário regional e brasileiro, o atual Presidente, ainda na fase eleitoral, disse aos atônitos Juliana Lisboa e Marcello Góis, repórter aqui do site: “a primeira coisa que vou fazer é tirar o futebol feminino de lá” (do Barradão). “Eu vou encontrar uma solução para o futebol feminino porque é obrigado por lei, não tenho nada contra”.

Ora, então tem tudo contra, né, Presida? O desmonte do futebol feminino não é uma surpresa, é uma promessa de campanha.

“No outro dia, veio uma mulher de salto batendo bola dentro de campo com um jogador homem”, disse Paulo Carneiro. Essa “mulher de salto” tem nome. É Many Gleize, coordenadora dos esportes olímpicos e futebol feminino do Vitória. A imagem que nos fez, vibrar, nos sentindo representadas, gerou repulsa no gestor. O time que nos orgulha, ele enxerga como fardo.

Para quem se contenta com os resultados dentro de campo (a modalidade e o sexo, nem preciso dizer), o time vai bem demais. Nos últimos sete jogos que estamos sem perder, tivemos 62% de aproveitamento, somando mais pontos que no restante do campeonato. Mas quem se afasta um pouco para analisar o clube como um todo, percebe que é pouco para o tamanho do ECV. Somos muito mais do que o time profissional de futebol masculino.

O Presidente disse ainda, num áudio que viralizou, que o torcedor do Vitória é torcedor do time e não do clube. Ele, por sua vez, se declara apaixonado pelo clube e não pelo time. Ora, desde que assumiu, nunca o ouvimos falando de nada além do time masculino.

Pois então.

Nós somos torcedores do clube, do ESPORTE CLUBE Vitória. A base existe, os esportes olímpicos existem, o futebol feminino existe! Quem pretende gerir um clube enorme como o ESPORTE CLUBE Vitória tem que ter capacidade para lidar com todos os times e modalidades. O “E”, do ECV, é de Esporte. Não tem um F na nossa sigla.

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A opinião expressa em artigos é de responsabilidade dos signatários e não é necessariamente a opinião do Arena Rubro-Negra.


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