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O Santuário através dos olhos de um estrangeiro

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Levei ao jogo Vitória x Botafogo um jornalista europeu que queria conhecer o Barradão. Tassos Chalkiopoulos, de 29 anos, é nascido e graduado na Grécia e mora em Salvador pouco mais de um ano e meio. Embora tenha comprado ingresso antecipado, o colega se perdeu em meio ao tumulto na entrada da partida, por conta de algumas falhas nas catracas do estádio. Sem sinal de celular, só nos encontramos após o jogo no estacionamento. Sozinho, pôde fazer diversas observações e concordou em compartilha-las nesta coluna. O texto abaixo é de autoria do próprio.

Primeiras impressões
Uma das diferenças do Barradão com o resto dos estádios que já estive é que não existem assentos – pelo menos na maior parte que eu percebi. O único estádio que eu visitei para assistir um jogo e também é assim, é o do Pituaçu, também em Salvador e também utilizado para jogos do Vitória e do Bahia também quando o tricolor baiano não pode atuar na Fonte Nova.

O estacionamento é decente. Ao redor do estádio existem várias áreas para os veículos estacionarem. São áreas abertas, porém conseguem hospedar um número suficiente de carros. Já visitei campos onde tinha que se deixar o veículo em uma distância longe do estádio e andar bastante ou menos, ou que tinha que ter sorte para estacionar em alguma esquina. Lugares onde eram difíceis de estacionar até em parkings privados.

A paisagem é bonita, especialmente chegando nas arquibancadas, onde do alto pode se admirar a natureza. Mesmo assim, ο fato de ter que lidar com a ladeira não é agradável para uma pessoa que chega com seu próprio veículo no local. Mas admito que no jogo contra o Botafogo, e ainda chegando no Barradão pouco antes do início do jogo, não existiram problemas a respeito desse assunto. Coincidência? Não sei. Mas o jogo contra o Mogi Mirim na próxima terça feira será realizado na Fonte Nova para facilitar o transporte. Pode ser um sinal que, geralmente, a localização onde fica a ¨casa¨ do Vitória não é ideal. Pode ser apenas uma impressão errada que eu tenho, não tendo um conhecimento impecável da cidade. Será que o horário do jogo atrapalha? Acontecerá as 20:30…

Outra coisa que eu percebi no Barradão foi a venda de cervejas, o que não existe na Grécia onde é proibido vender bebidas alcoólicas. A decisão de vender ou não bebidas alcoólicas no estádio é uma decisão que varia de lugar a lugar. Recentemente estava lendo sobre a situação em Minas Gerais onde foram permitidas as e depois de um tempo proibidas de novo. Um amigo colega que foi cobrir a Eurocopa de Basquete no Zagreb, da Croácia, que está sendo realizada esses dias, mencionou a permissão de venda de cervejas no estádio. Pessoalmente, não vejo problema algum com isso se o comportamento do torcedor não prejudica outras pessoas e o próprio estádio e se a segurança for suficiente para assegurar que tudo está sob controle. Enquanto a torcida do Vitória não cria problemas aos visitantes ou a realização pacifica de um jogo em geral, está de parabéns de qualquer maneira.

Um comportamento déjà vu
O comportamento dos torcedores foi um déjà vu. O fã de um clube é sempre exigente, reclamador…o ¨extra treinador¨ da equipe. O cara que senta na arquibancada é esse que ama e quer o bom do time mais que todos, o especialista que tem um maior conhecimento tático do que o treinador, o profissional que sabe julgar melhor o potencial de um jogador que um olheiro, o gênio que pode analisar uma partida de futebol melhor que um profissional que trabalha para um meio de comunicação e tem uma enorme experiência relacionada ao assunto. Mas tudo bem. Os clubes de futebol são empresas e os torcedores são os clientes. A falta de racionalismo as vezes é essa que cria uma imagem surreal e até cômica para um observador. Nos também jornalistas criticamos o trabalho dessas pessoas. A diferença é que o que a fã que se encontra no estádio não precisa uma explicação racional para justificar a opinião dele. Basta usar expressões como ¨corno¨, ¨veado¨ e ¨burro¨ e já tem razão. O jornalista, por seu lado, pode não ter a experiência de treinar uma equipe, porém tem a observação fria e calculista. Não tem o stress de falhar, de errar na tática, não vai pesar nenhuma decisão durante o jogo. Por isso que consegue avaliar. E claro, quando não tem mais interesses, é mais objetivo.

Mas, tornando ao assunto do torcedor, se eu escrever que todas essas reações foi algo que eu não esperava, que eu… caí do céu pelo que encontrei, vou mentir feio. O fanático de um time é o mesmo não importa o clube e o lugar. Única coisa que muda são os aspectos culturais e a maneira de se expressar, que até essa última é muito comum em muitos lugares. Por isso que no início dessa parágrafo eu mencionei um ¨déjà vu¨. Não importa se você está no Karaiskakis em Piraeus ou o Estádio Olímpico em Atenas. Na Arena Corinthians ou no Morumbi em São Paulo, na Fonte Nova ou no Barradão em Salvador. Existe o torcedor-treinador, o torcedor-culto, o torcedor-xingador, o torcedor que adora a reclamar do árbitro ou da diretoria, aquele que solta palavrões contra os adversários, mas também aquele que prefere ser cruel com os próprios jogadores de seu time preferido.

As instalações definem a grandeza de um clube
Um grande clube tem que ter instalações decentes. E esse é o principal problema do Barradão. O estádio seria um belo CT, e não a casa do Vitória. Se o desempenho, a qualidade, a grandeza de um clube dependessem apenas de grandes contratações e boas academias, ninguém ia gastar uma boa grana para investir em novos estádios e novos campos de treinamentos. Mas a questão da infraestrutura é fundamental. É o que vai trazer os torcedores para o estádio, o que vai gerar lucro financeiro para o clube em longo prazo, o que vai oferecer aos jornalistas uma melhor qualidade de trabalho. É algo que vai valorizar o clube mais ainda. Em todos os sentidos. Todos!

Imaginem a diferença de um olheiro de um clube do exterior vindo ao Barradão para encontrar o novo Bebeto, Marcelo Moreno, David Luiz, Hulk ou Gabriel Paulista e a mesma pessoa indo a um estádio como um desses que foram construídos para a Copa ou os estádios do Palmeiras e do Grêmio. Não é apenas um tipo de estado social no futebol ou a imagem que o clube vai mostrar e que vai ganhar repercussão. É também um bônus em potenciais negociações com representantes de outras equipes. Um poder nas mãos.

O Vitória não ter condições atualmente de chegar a construir um estádio como o do Palmeiras ou o do Corinthians é compreensível. Porém ter um estádio confortável e que dará orgulho ao torcedor é um sonho distinto? Não parece ser, para um clube que é o dos que menos devem atualmente no futebol brasileiro, segundo o relatório do Itaú BBA. Porém isso é algo que para acontecer, além da boa vontade da diretoria, vai precisar da fidelidade do torcedor que deve por sua parte inspirar confiança para os dirigentes do time arriscarem ao investimento desse. Um dirigente jamais vai querer fazer um investimento tão importante, sabendo que pode não recompensar. O torcedor que diz: ¨Não vou mais para o estádio, por isso ou aquilo…¨não ajuda. E infelizmente é o que eu mais ouço, não apenas naquele jogo contra o Botafogo no Barradão, mas até quando eu por aí fora, por pessoas que nem conheço e torcem para o Vitória.

O Olympiacos na Grécia, quando era para construir um novo estádio, os torcedores reclamaram que 33 mil (a capacidade do Estádio Karaiskakis, casa atual do campeão grego) de assentos eram muito poucos. A resposta do presidente do clube naquela época, Sokratis Kokkalis, foi a seguinte: ¨Se vocês lotarem esse estádio, aí vamos expandir¨. Εsse é o caso. O Vitória não pode competir um top clube no estádio que vai ter, porém pode ter um estádio bonito de 20 mil assentos. E se dar certo, pode chegar a ter 30, 40, 50 mil etc. Não é necessário gastar para ter um estádio para 50 mil torcedores. Esse dinheiro pode ir para aumentar a qualidade da infraestrutura e dos serviços do estádio. E daí vai vendo. O Barradão seria casa de um clube pequeno não só no Brasil, mas até na Grécia, com a diferença que como eu escrevi anteriormente, nos outros estádios existem assentos individuais. Isso prejudica o clube até no custo dos ingressos, já que não pode cobrar mais por ingressos em certas partes do estádio.


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2 COMMENTS

  1. Ampliaram as cadeiras da região central e ela segue vazia mesmo em dia de jogos cheios. Como se o problema fosse assento e não o preço que o torcedor rubro-negro tem capacidade de pagar num ingresso.

    Até hoje nunca fizemos uma pesquisa séria do perfil do torcedor do Vitória. Nem de onde vem, nem como vai, nem como deixa de ir, nem o quanto pode gastar.

    Ficamos sempre nos comentários individuais de redes sociais, ou de conhecidos, ou de pessoas que moram muito longe do Barradão.

    Que tal dar um passo nesse sentido? Não parece ser dificil.

  2. Boa análise vista por uma pessoa de fora do país.
    A estrutura define as formas de negociações com o clube.
    Se o Vitória melhorar mais a sua estrutura de CT e de estádio, como acesso e comodidade, com toda certeza será muito bem visto até no exterior.
    Olha o exemplo do Atlético/PR, que deu um salto incrível da década de 90 para os dias de hoje.