Em de suas piores exibições no ano, time rubro-negro cai no frio gaúcho e retrocede na sua pretensa (e falsa) evolução. Brasil 1×0 Vitória.
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Pelotas, 3 de agosto de 2019
Rodada 14 de 38
Papo reto
Hoje não vai ter capítulos, a estrutura comum das crônicas deste Diário da Série B. Não tem rodeios nem nove horas. Na vermelhidão visível do sangue que corre apressado na mente aperreada, o papo é reto.
Esquece, bicho. Esquece.
O estado é de loucura. Hora de reviver o ensaio sobre a cegueira.
No estado de escuridão, reina a barbárie. Sem enxergar, toma a vez o achismo do que formula a mente, que encaixa peças conforme melhor entender para facilitar a compreensão e diminuir a dor.
“Mas o time evoluiu.”
Ora.
No meu dicionário, evoluir significa melhorar, avançar, progredir. Evolue-se, pois, quando se torna melhor do que era.
Mas não.
Para muitos, a vice-lanterna da Série B é uma posição de quem está evoluindo. É a horda de tocadores de violino do Titanic, buscando qualquer sem-sentido para validar a correção dos caminhos.
Perguntam-se, ensimesmados, se a verdade é outra, a fictícia. Afinal, não é possível que alguém seja tão incapaz ao manter um técnico especializado em derrota e que está fazendo pós-graduação de vexames no Vitória.
E eu pergunto, do alto da minha raiva, cercado por pouca gente que ainda tem olhos contra a multidão que pede parcimônia: evolui em quê, cara pálida?
Ainda bradam alguns, dotados do cetro da tal da coerência, que “não se deve se render ao resultadismo”.
Pois assinto que não sucumbir ao resultadismo só é válido dadas as condições corretas.
Por exemplo, se uma equipe está no meio de tabela de um campeonato, o resultadismo não deveria ser o fator principal. Afinal, uma vez assegurado o curto prazo, o longo prazo pode ser pensado e planejado.
Mas quando estamos falando de uma equipe da dimensão do Vitória na vexatória décima nona posição da Segundinha, meu amigo, o resultadismo é a bola da vez. Não existe outro cenário a não ser o agora. Importa apenas o hoje. Só se escapa do descenso na vitória, nos três pontos.
Lampejos de bom futebol vimos em todo o ano. Mas não se trata de perceber boa troca de passes de aqui e ali. Quando levanto a mão para tratar de uma pretensa evolução, estou falando principalmente de consistência. Consistência do ponto de vista positivo, diga-se, afinal, se olharmos a curva de resultados do Vitória em 2019, o time é consistentemente decepcionante.
Assim, cedem vários aos argumentos que não param em pé.
Se o time não se recuperava do sentimento de derrota certa ao tomar um gol e de alguma forma corrige isso, excelente. Mas se continua a sair atrás sempre, está longe de ser suficiente.
Se o primeiro tempo é bem jogado, com tramas bem construídas, excelente. Mas quando um ajuste simples do técnico adversário desmantela por completo a tática e não se mostra poder de reação do lado de cá, está longe de ser suficiente.
Se um técnico foi vencedor na base, angariando títulos e loas, excelente. Mas se não carrega esta mesma gradação para o profissional – tanto pelo contrário, ah!, a realidade dos grandes palcos e suas agruras -, está longe de ser suficiente.
Mas se trata, pois, da nova era. De quando apontar sempre a culpa (em parte correta) de verões passado é apenas cortina de fumaça para esconder a incompetência de agora.
De quando o “pelo menos ele se esforça” vira pano, quase uma toalha, para ser passado e esconder a profunda incapacidade.
Ainda assim, etendo. É parte do ser humano aplacar a dor. Com isso, vestimos de roupa o rei nu de tecido que só os inteligentes podem ver.
Mas, veja bem, não me convidem para o festival da cegueira. Se torcer é paixão, pois, irracionalidade, há um limite. Diante da incongruência absurda, eu travo. Ao contemplar fatos, eu me recuso a abraçar distorções. Ao perceber o caminho para o qual se segue, não posso cantarolar em apoio porque o abismo está logo ali.
Evolução? Pffff. Conta outra. Pra cima de mim, bicho, esse papo não cola. Porque ele vem cheio de curva. E quando perdemos para o Brasil de Pelotas numa fria manhã de sábado numa das piores exibições da equipe em todo , ano – um feito, dado este 2019 tenebroso -, estragando o fim-de-semana da nação rubro-negra, não tem retórica de melhoria que sobreviva.
A não ser que o seu conceito de evolução se equivalha ao do rabo-de-cavalo, que cresce pra baixo.
Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, administrador e escritor, cronologicamente falando. É autor de “Futebol é uma matrioska de surpresas: Contos e crônicas da Copa 2018”, disponível na Amazon.
Foto: Jonathan Silva / GEB
O “Diário da Série B” é série que também está sendo publicada no Correio* e no Arena Rubro-Negra. Acompanhe!
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